Boa trama e ambientação não tornam ‘Curon’ uma série envolvente


Curon, imagem da série da Netflix

Uma cidade isolada no interior, moradores traumatizados por histórias do passado, acontecimentos estranhos que passam a ocorrer, a dificuldade em quem confiar. Pode ter certeza que inúmeros fãs do Suspense ou Terror já presenciaram muitas narrativas que começavam assim. Muito da Literatura de Stephen King tem esse aspecto e conquistou gerações por apresentar um mistério que absorvia o telespectador na busca de soluções e de respostas geralmente com finais contundentes e estão presentes em Curon, série italiana.

Presente no catálogo da Netflix, a série se aproveita bem dos recursos citados anteriormente. Anna Raina (Valeria Bilelo) retorna ao hotel de seu pai Thomas (Luca Lionello) no interior da Itália, depois de um longo período vivendo em Roma. Ela leva seus dois filhos gêmeos juntos: a intempestuosa e extrovertida Daria (Margherita) e o tímido Mauro (Federico Russo).

Nem tudo será fácil para os três, que chegam numa cidade hostil, sobretudo em relação a família Raina. Para muitos moradores, a família é culpada pelo passado do lugar. Para piorar, a relação de Anna com seu pai é tumultuada e no início ele não aceita a presença nem da filha e dos netos. É nesse ponto que a série atrai o telespectador, ao mostrar flashbacks incompletos envolvendo Anna ainda jovem com seu pai e sua mãe. Da mesma forma, vamos também observando o envolvimento da personagem e seus romances com outros moradores da vila no passado.

Ao colocar Daria e Mauro, a série também pretende entrar no universo adolescente (bem típico das produções atuais da Netflix). Nesse sentido, Curon ganha pontos ao mostrar jovens maduros e independentes demais.

As cenas entre os jovens ganham nuances melancólicas e revelam mais os anseios juvenis como o despertar da sexualidade, a insatisfação com a monotonia da cidade, conflitos pessoais e as divergências entre pais e filhos. Numa mistura de ódio e de aceitação, os gêmeos Daria e Maura entram num universo onde passam a ser o centro das atenções e aos poucos precisam conquistar seus espaços e amizades numa cidade um tanto quanto conservadora e bem presa ao passado.

A água em Curon é um elemento que sempre traz reflexões ao telespectador. O farol semisubmerso no lago da cidade guarda segredos (até poderíamos lembrar da francesa Les Revenants). O problema maior da série, infelizmente, é entregar logo o mistério. Depois disso, a questão ficará mais em entender o porquê do passado tão conturbado da família Raina e quais os personagens na trama que são confiáveis ou não.

A série foca bastante em duas famílias (os Rainas e os Aspers), ligadas tanto no passado como no presente. O problema é que dessa forma a série acaba não valorizando outros personagens que estão fora do núcleo dessas duas famílias, o que talvez venha a ser melhor explicado numa próxima temporada.

Além das belas locações, as cenas noturnas em Curon agradam com iluminação convincente e momentos propícios para assustar. Apesar disso, falta mais sustos e os vilões acabam nem sendo perigosos demais.

O hotel da família Raina é de uma arquitetura imponente, típica dos filmes do gênero, um lugar que teria toda uma história para contar. Seus inúmeros aposentos e seu clima de abandono poderiam ter recebido mais atenção em cenas internas de suspense, abrindo espaços para o perigo que pode espreitar a cada canto. A série foca bastante em cenas externas com perseguições e na delicada relação entre os membros das duas famílias.

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Com um final de temporada que chega sem rodeios, e talvez chocante para muitos, por conta do desfecho de alguns personagens, resta saber se os que ficam darão fôlego a uma nova temporada. É preciso que Curon tome um outro viés, explorando mais recursos como flashbacks, outros cenários e até, quem sabe, novas ameaças. A primeira temporada é um entretenimento regular (menos mal que não se alonga nos episódios) e a segunda, caso ocorra, pode decidir se tudo desmorona ou se dá uma reerguida.


FICHA TÉCNICA:

Gênero: Mistério, Suspense, Thriller
Temporadas: 01 (07 episódios)
Duração: 50 a 60 minutos
Direção: Fabio Mollo e Lyda Patitucci
Roteiro: Ezio Abbate, Ivano Fachin, Giovanni Galassi e Tommaso Matano
Elenco: Valeria Bilello (Anna), Luca Lionello (Thomas), Federico Russo (Mauro), Margherita Morchio (Daria), Anna Ferzetti (Klara), e outros
Data de Lançamento: 10 de Junho de 2020
Censura: 16 anos
Avaliações: IMDBRotten Tomatoes

 


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