Em entrevista, Declinium fala sobre o hiato, letras, Pandemia e mais


Foto da banda Declinium

Declínio: “Inclinação para baixo, para uma superfície inferior; declive. [Por Extensão] Estado de decadência. São as definições encontradas nos dicionários para a palavra que poderia ser o nome da banda surgida em Dias d’Áávila (BA) em 2000. Como já existia uma banda com esse nome, optaram por Declinium, mantendo a ideia inicial e com um nome que que soa até mais interessante.

Com vinte anos de estrada, Declinium passou por formações e momentos diversos. Ao longo desse percurso, a banda lançou três EP’s de inéditas, um com outtakes (Sombras e Luzes, 2018), e pretende lançar material novo ainda esse ano. O último trabalho de originais foi o denso e melancólico EP Marte, com cinco faixas, lançado em 2014 pela Trinca de Selos, responsável por grande parte dos lançamentos de artistas alternativos da Bahia.

Radicada atualmente em Camaçari, a Declinium é capitaneada por Oreah Chinaski, vocalista e baixista que, com sua voz de barítono, ao melhor estilo de Tony Platão (Hojerizah) e Renato Russo (Legião Urbana), é o responsável por manter a banda “ascendendo” a novos patamares dentro do cenário musical, ainda que ele declare como única conquista o simples fato de ter a formação atual da banda, com a qual se sente numa gangue.

Mandamos as 10 perguntas para Oreah que gentilmente nos atendeu e também fez uma lista com os seus 10 Álbuns Favoritos (AO FINAL).


01. Vocês lançaram o EP Marte em 2014 e desde lá já se vão seis anos sem lançar material novo, se não considerarmos o EP Sombras e Luzes, uma coletânea de outtakes. O que aconteceu, qual a razão para esse hiato?
R: Opa! Antes da gente começar, muito obrigado pela oportunidade e nós da Declinium gostamos muito do trabalho de vocês. Sim, duas razões foram determinantes, a saída de um integrante e problemas sérios de ordem pessoal que enfrentei. A gente já tinha tudo planejado quando Fofo (guitarrista) saiu da banda e decidimos começar do zero, uma nova ideia, afinal era um recomeço. Fora que eu enfrentava problemas pessoais terríveis, mas que felizmente passaram. Por esses dois motivos o EP não saiu.

02. Em 2018 vocês fizeram uma campanha de financiamento coletivo no site Vakinha Virtual para o lançamento de um novo EP, em que pé ficou? Inclusive vocês já tinham as músicas “prontas” para serem gravadas.
R: Sim, a ideia da vaquinha foi de um amigo. A grana arrecadada infelizmente não custeia uma faixa, mas guardamos e fomos juntando grana pra lançar o trabalho. Esse ano sai e com surpresa pra quem participou da vaquinha. As faixas que tínhamos prontas a gente abandonou, entraram dois novos integrantes mas só um continuou, o que descaracterizou o que tínhamos composto. Algumas ideias a gente aproveitou, mas no geral, mais uma vez, o projeto foi completamente repensado.

03. Voltando ao EP Marte, é o que soa o mais denso lançado pela Declinium, com ênfase na mescla de barulho e melodia e ritmo cadenciado, se conecta com “Fênix”, última canção do EP Pequenas Doses de Um Bom Veneno. Como você avalia essa mudança entre os dois EP’s e, ao mesmo tempo, essa conexão?
R: Posso te garantir que não foi intencional. Sinceramente, a experiência de gravar o pequenas doses não foi agradável pra mim, foi desgastante e a banda chegou a acabar por uns meses depois que gravamos. Mas como roqueiro é bicho doido, nos reunimos, brigamos de novo, e pintou uma nova formação que gravou o Marte, que ao contrário do Pequenas Doses foi massa de fazer. A conexão entre os dois eu não tinha notado e a principal mudança foi a satisfação de tá numa banda de verdade como eu sonhava na época.

04. Você costuma afirmar que suas origens são o Punk, tanto no sentido da atitude, quanto influências musicais. Musicalmente as canções da Declinium se aproximam mais de elementos do Pós-Punk, na presença marcante do baixo, algo comum nas bandas oitentistas. São referências pra música da banda? Quais outras referências você citaria?
R: Cara eu sempre quis fazer uma parada mais pesada, mas como banda as influências dos outros componentes contam muito também, e eu também sou fissurado no som dos anos 80 e no Pós-Punk inglês. As influências de todos pesavam igual e o som que rolava é esse aí, como referência nas guitarras Johnny Marr; nos vocais, Tony Platão, Guilherme Isnard, Ian Curtis e Ian McCulloch, mas pessoalmente eu ouço tudo o que me toca, mas sou do Rock.

05. Qual a matéria prima para a criação das tuas letras? Tem algum autor(a), letrista ou escritor, que citaria como influência? Nietzsche seria um deles?
R: Cara, essa é uma ótima pergunta. Porque as vezes a gente tá falando sobre drogas e ouvem e entendem como uma canção de amor, a gente fala do cotidiano, da vida comum, dos amores perdidos, dos sonhos despedaçados e das armadilhas que atraem os sonhadores. Mas nesse [novo] trabalho a gente tá com raiva, com raiva do que aconteceu com nosso país e consequentemente com nossas vidas. Autores: Allen Ginsberg, William Burroughs, Charles Bukowski, Renato Russo, Ian Curtis. Sim! Tanto que batiza a última canção do Marte [sobre Nietzsche].

06. Em que momento da vida você sentiu o desejo de montar uma banda e fazer música? Houve assim algum acontecimento específico?
R: Sim! Desde a adolescência! Eu morava em Dias D’ávila e na época não rolava nada de empolgante por lá, a gente vivia fazendo barulho porque éramos os esquisitões da cidade e a gente tinha outras bandas. Então eu, Zé Raimundo e Paulo decidimos montar a Declinium, a gente não tinha traquejo com as meninas então o lance era encher a cara e fingir que era alguém.

07. Vivemos numa época em que há quase uma ditadura do “estar feliz” o tempo todo, de estar pra cima, a música da Declinium soa como um convite a introspecção, o que é ótimo. Como você avalia? Se acha uma pessoa introspectiva?
R: Acho que sou meio introspectivo sim, valorizo o estar só e nem sempre sou compreendido por isso, talvez eu não seja uma boa companhia nem pra mim mesmo. Mas não gosto de tristeza não! Ou melhor, talvez eu goste um pouquinho mas essa felicidade plástica realmente não me agrada.

08. Nesses 20 anos de banda, o que considera como conquistas da Declinium? E qual é a principal motivação da banda seguir em frente?
R: Conquista? A nossa atual formação! Somos meio que uma gangue, rola uma brodagem que nunca rolou na história da banda. A motivação pra seguir em frente é que a gente curte tocar, fazer barulho juntos, mesmo que isso na maioria das vezes não dê retorno financeiro.

09. A Pandemia do Coronavirus alterou os planos da Declinium? E como tem sido esse período pra você?
R: A gente tava se preparando pra entrar no estúdio pra gravar e por conta da pandemia parou tudo e foi um balde de água gelada nos planos, mas a raiva aumentou por conta disso, e garanto que vamos surpreender. Podemos até não agradar, o que nunca foi a ideia mesmo, mas vamos surpreender.

10. Quais os próximos passos da Declinium no período Pós-Pandemia?
R: Gravar, soltar esse EP, encher a cara e tocar no máximo de lugares que a gente conseguir.

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DISCOGRAFIA:

– Algumas Histórias de Um Dia (2002)
– Pequenas Doses de um Bom Veneno (2007)
– Marte (2014)
– Sombras e Luzes (Outtakes, 2018)


10 Discos Favoritos de Oreah Chinaski

SEX PISTOLS | Never Mind the Bollocks, Here’s The Sex Pistols  : Porque me faz sentir vivo.
THE JESUS AND MARY CHAIN | Psichocandy : Por mudar minha vida e me mostrar que também posso fazer música.
BRINCANDO DE DEUS | Homônimo : Por ser a banda mais sensacional que já vi e juntar tudo que gosto numa banda só.
RAMONES | Rocket to Russia : Porque Ramones é foda!
THE STONE ROSES | Homônimo : Porque gosto de viajar sem sair do lugar.
LEGIÃO URBANA | Dois : Por ser minha companhia nas horas difíceis.
RATOS DE PORÃO | Crucificados pelo Sistema : Porque viver é odiar e nada mais.
RIDE | Nowhere : Por me mostrar que não sou nada.
GANG 90 E AS ABSURDETES | Nosso Louco Amor : Porque Júlio Barroso foi o maior Rocker brasileiro.
HELMET | Meantime : Por ser o que eu queria ser se a Declinium fosse só eu.

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