Na coluna Shoegazer World de hoje, trazemos quatro bandas da América “mais fria”, a América do Norte, para essa fria semana invernal de junho/julho. O Citrus Cloud vem com seus ambientes sonhadores em seu quarto álbum; Tombstones in their Eyes, simpaticamente chamado também de TITE, traz guitarras no talo numa trip repleta de Psych Rock e Neo Psicodelia; o Post-Punk Gaze dos canadenses do The City Gates rende momentos de puro êxtase; e o fechamento é com as idiossincrasias dos veteranos Echodrone, com um mix tão grande que pode não agradar aos mais puristas. Voilá!
+++ Leia a coluna Shoegazer World da semana anterior
CITRUS CLOUDS | Collider
Dentro do universo Shoegaze, bandas no formato de trio não são muito comuns; no Dreampop a coisa já é um tanto diferente, basta lembrarmos daqueles que são comumente chamados de pais do estilo, o Cocteau Twins. É nesse formato compacto que desde 2014 o grupo norte-americano Citrus Clouds, de Phoenix (Arizona), tem se mantido. Entre 2016 e 2017 o grupo contribuiu nos tributos ao The House of Love (Christine), Curve (Come in Alone) e Spiritualized (Shine a Light), lançados pelo selo brasileiro The Blog That Celebrates Itself. “In Time I Am”, o álbum de estreia do grupo foi lançado em 2015, e a formação era Erick Pineda (guitarra e voz), Stacie Huttleston (baixo e voz) e Anthony Jarero (bateria e voz). Essa formação segue até o segundo álbum, “Imagination” (2016). Para “Ultra Sound” (2017), Angelica Pedrego assume as baquetas, e após quatro anos chegam a “Collider” (Lollipop Records), seu quarto álbum, gravado no verão de 2019 mas só agora lançado. Mais sonhador que seus trabalhos anteriores, “Collider” tem nos timbres de guitarra “incandescentes” de Erick e nos vocais etéreos de Stacie a perfeita combinação para criar hits instantâneos como “Honey” e “A Pastel Sky”, ou um verdadeiro mergulho (Let Love Find You e Whenever That Might Be) e delírio (Collider e Feel The Spirit) sonoro repleto de ambiências Shoegaze, tornando desde já o álbum mais climático do trio, e leva tempo até você se recuperar da experiência.
TOMBSTONES IN THEIR EYES | Looking For The Light
“Em busca da luz” o grupo californiano Tombstones in Their Eyes, também conhecido como TITE, apresenta em seu mais novo trabalho, Looking For The Light (Kitten Robot Records / Somewherecold Records), referências musicais que se conectam através de riffs de guitarras distorcidas, camadas de synths atmosféricos discretos, quase imperceptíveis, e vocais ecoantes, trazendo Psych Rock e Neo Psicodelia (alguns dirão Psychgaze) em doses fartas, num direcionamento musical mais preciso que o apresentado em Maybe Someday (2019). A abertura com “Quarantine Blues” é poderosa e prepara os tímpanos para a viagem por um universo de guitarras envenenadas em feedbacks, distorções de fuzz e efeitos de trêmolo, destinadas a chacoalhar o cérebro ou induzir viagens sonoras ao longo de seus trinta e cinco minutos e oito faixas, com destaque para a já citada “Quarantine Blues”, com seu título bastante apropriado para o momento que vivemos desde 2020, e a hipnótica jornada de “Looking For a Light”, que dá nome ao disco. Não para por aí, a psicodélica e de letra pesada (sobre depressão) “I Can Hurt You All the Time”, com seus versos repetidos como um mantra e distorções no talo segue o ritmo da desorientação e põe por terra os sentidos com uma poderosa linha de baixo distorcida. O grupo é cria de John Treanor e James Cooper, amigos de infância e em 2020. Looking for The Light foi produzido pelo parceiro de longa data Paul Roessler (T.S.O.L., Josie Cotton, Richie Ramone) e gravado em 2020, em meio a pandemia.
THE CITY GATES | Age of Resilience
Post-Punk, Dreampop, Shoegaze e Darkwave convivem na música do quarteto canadense de Montreal, The City Gates, e seu novo álbum Age of Resilience (Icy Cold Records), que mostra conexão com bandas como Skywave e, posteriormente, Ceremony, que nos anos 90 já fazia essa combinação de forma magistral. Vocais melancolicamente graves, teclados atmosféricos, linhas de baixo densas e riffs cintilantes de guitarra em profusão sustentam as canções do grupo. A abertura de texturas etéreas de “Cape of Good Hope”, single lançado em 2019, já anunciava muito do que viria a ser encontrado neste terceiro trabalho do grupo que se coloca em par com o viciante “Before the Road”, do Motorama, aqui com o acréscimo de efeitos de feedback e distorção. Em certos aspectos o grupo se afasta um pouco de trabalhos anteriores, principalmente por aumentar os BPM’s das canções, criando um ritmo enérgico. Os destaques ficam por conta das tempestades sonoras de “Tending a Dead Woman’s Garden” e “Foghorn’s Cry”, além da já citada “Cape of Good Hope”, quando conseguem chegar aos pontos mais altos na harmonização dos gêneros que utilizam como referências. Assim como Citrus Clouds, o grupo contribuiu em algumas coletâneas/tributo do site The Blog That Celebrates Itself, coverizando Nirvana, (About A Girl), Catherine Wheel (Salt) e Lush (For Love) e Slowdive (Catch The Breeze).
ECHODRONE | Resurgence
Veteranos da cena Shoegaze de São Francisco (California), embora seus integrantes estejam espalhados por cidades diversas, o Echodrone é uma banda bastante eclética, não se prendendo a paradigmas comuns ao gênero. “Everything Starts to be a Reminder” (2018), seu álbum anterior, por exemplo, tinha apenas quatro longas canções no estilo suíte e mesclavam uma série de gêneros ao longo de cada faixa: Post-Rock, Shoegaze, Dreampop, Space Rock, Indie-Rock e até elementos do Pop. Com “Resurgence” ( seu mais recente álbum não é muito diferente, há momentos em que você estará lá absorto com as camadas de guitarras viajantes e de repente abrirá os olhos com a mudança na faixa seguinte para verificar se a música que está tocando é mesmo da banda: a sequência “Midnight Frost”-“Jaded”. É algo que mostra que a banda tem perfeito domínio de sua música e consciência da necessidade de não se manter presa a um modelo que pode se tornar asfixiante. Formado em 2005 pelo guitarrista Eugene Suh e o baixista Brandon Dudley, Echodrone atualmente é um quinteto e Resurgence seu oitavo álbum cheio. Com o Shoegaze em seu DNA, o grupo gosta de surpreender o ouvinte, adicionando e testando outros elementos dentro de seu universo musical, incluindo timbres pouco usuais ao gênero. O Synthpop presente em “Heart on Sleeve” e a pegada Pop de “My Life”, cover de Billy Joel, são exemplos das idiossincrasias do grupo, que guarda momentos sublimes como em “A Ghost And A Walkman”, faixa que encerra o álbum.
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