“Gris é um belo jogo que representa a própria jornada do ser humano procurando superar medos, dúvidas e angústias”
Existe um (péssimo) estigma por parte de muitos jogadores que produções indies nunca chegarão ao nível de uma produção Triple A. Por conta disso, há sempre uma antipatia pré-estabelecida erroneamente de que tais jogos nunca merecem uma conferida ou uma chance. Pelos sites e comentários do Youtube, observamos o tanto de preconceito que jogos indies ainda recebem e muitos dizem que muitos deles ‘não merecem nem promoção de tão ruins que são’.
Gris chega como uma (ótima) contradição, como muitos outros jogos indies que já fizeram isso, a exemplo de Rime e Sea Of Solitude. Nas mãos do estúdio espanhol Nomada, o jogo chegou sem estardalhaço e acabou surpreendendo até a produtora que depois chegou no Twitter agradecendo a todos e dizendo que não esperava que o jogo vendesse tanto e causasse tanta emoção.
Gris é o tipo de jogo que nos coloca prontamente na narrativa. Pouquíssimas informações na tela, nada de textos e os tutoriais são escassos (só aparecerá mesmo qual botão utilizar depois de ganhar uma nova habilidade). Cheio de sequências de plataforma e de exploração, o jogo pede que o jogador busque estrelas que lhe ajudarão a preencher caminhos ou pontes para seguir adiante. Também existem coletáveis como ‘mementos’ que, encontrando todos, garantem uma cena final extra, bem bonita.
Você pode cair de alturas gigantes, você não morre. O jogo nunca te deixa preso em algum trecho do cenário, está longe de ser frustrante e sempre existe uma saída. Nenhum pulo deve ser desconsiderado (mas em alguns trechos o senso de observação do jogador precisa ser apurado).
Nada de tiros, poderes especiais, sangue ou violência. Gris pretende dialogar com a Filosofia e Psicologia, faz de cada cena uma representação da existência humana ou de nossa reflexão perante os problemas ao nosso redor.
Durante o jogo alguns troféus estão ligados a encontrar lugares secretos ou realizar algumas ações que se definem como representações dos sentimentos humanos, entre eles: negação, raiva, depressão e aceitação. Apesar disso, estamos longe de nos sentir melancólicos, devido ao belo colorido e vivacidade dos cenários, trazidos por um desenho feito à mão, com toque de aquarela, muitas vezes lembrando um belíssimo desenho animado (tão bom de contemplar como de jogar).
O capítulo em que nossa pequena e frágil protagonista se vê diante de uma tempestade pode estar entre as melhores passagens vistas nos jogos deste século, em contrapartida, e talvez o único ponto negativo do jogo, o penúltimo capítulo acaba ofuscando passagens memoráveis porque há um exagero no cenário em detrimento de nossa protagonista (que sequer pode ser vista na tela em meio a tantas informações e cores). Neste capítulo, por sinal, o jogo prefere trabalhar mais com puzzles e acaba tirando um pouco o elemento surpresa e impactante de outros capítulos (que ocorria nos instantes finais, mas nada de spoilers aqui). Entendam, de forma alguma isso tira o brilho de Gris e apaga a experiência do jogador em chegar até o fim e ver os créditos. Caso tenha terminado e deixado alguma coisa de lado, o jogo te permite acessar capítulos e vasculhar tudo novamente.
Gris trabalha com tudo aquilo que deve permanecer na história dos jogos e videogames: orgulho de mostrar o jogo a um amigo ou outro jogador, fazer o jogador pensar em prol de uma experiência não monótona e sim prazerosa repleta de descobertas, transformar o jogo como arte e também produção que questiona com o homem e o mundo ao seu redor. Não importa que seja jogo Triple A ou indie.
NOTA: 8.5
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:: FICHA TÉCNICA:
Desenvolvedor: Nomada Studios
Publicado por: Devolver Digital Games
Gêneros: Narrativa, Plataforma 2D, Puzzles
Tamanho no HD: 2,64Gb
Duração: entre 4 a 10 horas
Classificação: Livre
Preço: R$70,90 (costuma ficar na promoção com até 60% de desconto)
Plataformas: PS4 (usada para a resenha), Switch, iOS, Steam, Xbox One
Lançamento: 25 de Novembro de 2019
Mais Informações: Gris
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