Na tradição de cronistas essenciais do rock, PJ compõe canções concisas sobre uma dada realidade
Após um hiato de cinco anos sem lançar material inédito, seu último álbum foi ‘Let England Shake’ (2011), Polly Jean Harvey ou simplesmente PJ Harvey, lança um disco com aspecto musical muito diferente dos outros que o antecederam.
Aparecendo para o mundo em 1992, com um disco bastante cru, onde se caracterizava autênticos blues com uma pegada mais visceral de guitarras barulhentas, PJ se estabeleceu como uma das vozes mais autênticas dos anos 90. Temas como feminismo, amor, questões do corpo, sexualidade, religião, são temas recorrentes em seus discos. O sucesso dos três primeiro discos fizeram com que se estabelecesse como uma das grandes personalidades da música inglesa e mundial nos anos e discos que se seguiram.
Cantora, compositora e multi-instrumentista, PJ sempre tem algo novo a apresentar, uma nova nuance, seja de seu mundo interno ou da forma como encara e se relaciona com a realidade que a cerca. Essa forma de enxergar a realidade fez com que ela se jogasse em um novo projeto no mínimo interessante. Na companhia do cineasta Seamus Murphy e sendo conduzidos pelo famoso repórter Paul Schwartzman, do The Washington Post, a artista viajou por diversos locais do mundo (Kosovo, Afeganistão e Washington D.C.), sempre como espectadora de tudo o que acontecia, com o intuito de estudar o verdadeiro impacto e os diversos desdobramentos da guerra na vida dos civis ao redor do mundo.
Inspirada nesses registros, com seu testemunho, a artista lançou um disco contundente sobre os registros observados e, como foi dito anteriormente, não na sua visão, mas na visão daqueles que fizeram parte de seus registros, tanto o cineasta Seamus Murphy, como de pessoas locais, sobre histórias de “zumbis” abandonados por programas estacionados do governo, pessoas que sofreram com guerras e a paralisação coletiva diante de cenários isolados bem caóticos.
‘Hope Six Demolition Project’ é o encontro de todas essas visões como espectadora desses locais em forma de música e poesia, sendo a poesia mais marcante que a música propriamente dita.
Um álbum que tem sua base em melodias marciais com um clima fantasmagórico e traz o retorno de guitarras, não necessariamente no rock propriamente dito. Sons e sensações que acompanham até o final do disco apontando para o blues, o spiritual gospel, o folk e até o free jazz no uso do saxofone, algumas vezes lembrando cânticos de escolas dominicais de igrejas.
Musicalmente o álbum não apresenta a sujeira e distorções de alguns álbuns anteriores, fazendo com que soe bastante leve, abrindo espaços para os metais, e quando aparecem soam ao longe, não tão presentes. Com a escolha por esse formato, PJ também tende a cantar mais suavemente, isto não quer dizer que seja uma interpretação tão meiga, ou seja, há subidas no tom de voz, sinalizando seu descontentamento, sua indignação para com os temas abordados ao longo do disco, soando por vezes panfletária.
É um álbum cru, um disco de difícil audição e para se escutar com calma, prestando-se atenção nas letras e nas melodias, no clima lúgubre, nos barulhos, em todos os seus detalhes. Uma pena que este belo disco tenha passado quase desapercebido. Mais uma vez, Polly Jean nos presenteia com um grande disco, confirmando que consegue passear por várias vertentes musicais sem perder sua autenticidade e originalidade, sua marca registrada.
NOTA: 8,0
:: FAIXAS:
1. The Community of Hope
2. The Ministry of Defence
3. A Line in the Sand
4. Chain of Keys
5. River Anacostia
6. Near the Memorials to Vietnam and Lincoln
7. The Orange Monkey
8. Medicinals
9. The Ministry of Social Affairs
10. The Wheel
11. Dollar, Dollar
:: Assista abaixo ao vídeo de “The Wheel”:
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