Movement, o álbum “difícil” do New Order


“Desprezado em seu lançamento, sob um olhar atual primeiro álbum do New Order tem certo valor”

Você tem uma banda, batalhou alguns anos para criar um repertório, conquistar um público, gravar dois álbuns,  conseguir apresentações nos Estados Unidos, de repente o vocalista, e figura mais carismática da banda se mata. O segundo álbum não havia sido lançado e a turnê americana acaba não acontecendo. De forma resumida, foi essa avalanche de situações pela qual passou o Sumner, Hook e Morris, membros remanescentes do Joy Division, após o suicídio de Ian Curtis.

O que fazer? Levar o Joy Division adiante não parecia a melhor opção. Uma nova ordem precisava surgir. Uma forma de manter-se ocupado seria a melhor solução para não sucumbir ante o estigma de um acontecimento tão fatídico quanto um suicídio.

Anos depois, falando sobre o que os levou a seguir em frente, a banda assim definiu: “Havíamos largado nosso empregos e vislumbrado a vida de músico de rock. Não queríamos voltar a sermos normais. Éramos outsiders por natureza”.

Com a adição de Gillian Gilbert, namorada de Stephen Morris, o New Order partiria para o recomeço: criar um novo repertório e uma nova identidade. Entretanto a sombra do Joy Division (e a aura de Ian Curtis) ainda pairava intensa sobre a banda das mais diversas formas, refletindo na sonoridade das músicas que viriam a compor “Movement”, primeiro álbum do New Order, e até mesmo no relacionamento com o produtor Martin Hannet, que insistia em querer fazer a banda soar ainda como Joy Division, o que provocou diversos desentendimentos entre banda e produtor.

Em seu livro “Chapter and Verse: New Order, Joy Division and Me”, Bernard Sumner assim descreve como foi compor  “Movement”:  “Foi um grande esforço, porque estávamos apáticos, apagados e no fundo do poço, o que era de se esperar porque a morte de Ian ainda estava fresca na memória”. Peter Hook, em entrevista, atribui ao pouco tempo para gravar o disco como um dos fatores que contribuiu para que o álbum terminasse soando confuso.

“Movement” foi gravado num período de aproximadamente dez dias, entre 24 de abril e 04 de maio de 1981, no Strawberry Studio, em Stockport. Sendo lançado em novembro do mesmo ano. Teve recepção fria e cruel por parte da imprensa, que via na banda apenas um “movimento oportunista”, não trazendo qualquer resquício de algo novo em seu álbum, mas uma pálida “imitação” do Joy Division.

Em suas oito faixas, o New Order apresentava uma música de tons sombrios com uso intenso de sintetizadores e batidas eletrônicas em algumas faixas. É uma espécie de embrião mal desenvolvido do que a banda viria a apresentar posteriormente, pois em nenhuma das faixas dá pra vislumbrar os rumos futuros que a banda viria a tomar, talvez otimista “Dreams Never End” ou nas batidas eletronicas de”Chosen Time”, a faixa mais dançante do álbum, com uma levada que até lembra algo que viria a ser usado em “Power, Corruption and Lies”. Os vocais de Sumner ainda não possuem identidade, em alguns momentos soa uma imitação dos de Ian, e até o de Hook (que canta em duas faixas) segue esse mesmo padrão.

É um álbum em que o trabalho percussivo de Morris é um dos pontos positivos, seja nas batidas tribais ou nos momentos eletrônicos. Mas a verdade é que a banda não gostou do resultado e Bernard Sumner menos que todos os outros. “Movement” passou a ser chamado pejorativamente de “o álbum difícil”. O refrão de “All The Way”, faixa de “Technique”, se aplica de forma magistral a “Movement”: “It takes years to find the nerve, to be apart from what you’ve done, to find the truth inside yourself, and not depend on anyone” (Leva anosanos para encontrar o cerne, para se afastar do que você fez,  para encontrar a verdade dentro de si mesmo, e não depender de ninguém”.

:: FAIXAS:

01.Dreams Never End
02.Truth
03.Senses
04.Chosen Time
05.ICB
06.The Him
07.Doubts Even Here
08.Denial

 

 

 

:: Ouça o álbum na íntegra:

 

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