Décimo álbum do Suede, ‘Antidepressants’ é coerente com seu antecessor, continuando de onde ‘Autofiction’ parou
Vários elementos compõem a sonoridade de uma banda/artista, poucos a definem e tornam distinta. No caso dos britânicos do Suede, a voz e a maneira de cantar Brett Anderson, e os timbres e dedilhados de guitarra de Richard Oakes, substituto de Bernard Butler desde Dog Man Star (1994), são os mais evidentes – o que não significa que se deve esquecer as linhas de baixo certeiras de Matt Osman. Em termos musicais, os ingredientes presentes desde sempre na sonoridade do grupo são basicamente os mesmos: riffs e outros elementos de Glam-Rock (T-Rex, Bowie e Roxy Music). Quando há mudanças, elas são bastante pontuais, e de enfoque, como aconteceu em The Blue Hour (2018), em que não apenas o lado musical (com o uso sons orquestrados) mas também lírico apresentou canções mais densas, às vezes sombrias nos temas abordados. Em Antidepressants, o mais recente álbum do grupo, há também esse lado sombrio presente em algumas letras, mas musicalmente segue sendo o Suede de sempre, com direito a algum novo elemento.
Em 2022, Anderson anunciou que Autofiction seria o “disco Punk” do Suede. Nos perguntamos: como será esse “disco Punk” do Suede? Bem, a resposta já sabemos, está lá nas 11 faixas que compõem o álbum: nada mais que um jogo de palavras de Anderson. E entendemos sua afirmação mais no sentido do contexto da banda, das gravações, e dos arranjos mais diretos, do que sobre o álbum e seu resultado final. O mesmo pode ser dito de Antidepressants, anunciado pelo vocalista como o “álbum Pós-Punk” do Suede. O novo trabalho, em verdade, soa mais como uma continuidade de Autofiction do que qualquer outra coisa.
Prosseguindo com a parceria com o produtor Ed Buller (que também produziu o primeiro álbum da banda), o Suede mantém a veia dos arranjos mais diretos e com forte presença de guitarras, e meio que repete a fórmula anterior até no encadeamento das faixas, abrindo o álbum com as canções mais agitadas e eufóricas: “Disintegrate”, “Dancing With the Europeans” e “Antidepressants”; e finalizando com as mais lentas e climáticas: “June Rain” e “Life Is Endless, Life Is a Moment”; entremeadas por uma balada pungente: “Somewhere Between an Atom and a Star”.
“Sweet Kid” e “Somewhere Between an Atom and a Star” são o Suede em seu estado mais puro. A primeira, com direito ao famigerado segundo refrão, é uma espécie de diálogo entre pai/mãe e filho e pode ser entendida tanto como uma lembrança de Anderson de sua mãe quanto um diálogo com o filho; já a segunda, é mais curta do que se possa imaginar (rememora “Next Life”), é puro saudosismo daquele Suede de seu álbum de estreia, com direito a ecos e climas quase oníricos, por isso exalando nostalgia: “A vida é apenas um momento / E as palavras são apenas um truque / E eu queria que houvesse mais vida do que nos é dado… Entre um átomo e uma estrela/ Você me encontrará em algum lugar”, canta Anderson.
A busca por conexões genuínas em um mundo hiper conectado mas de conexões virtuais e frias e a morte, a partir da perspectiva da brevidade da vida, são temas bastante presentes, até mesmo na agitada “Dancing With the Europeans”: “E queremos ser fortes e queremos pertencer… Bem, a carne pode morrer, mas nosso amor sobreviverá”. Prosseguindo em “Disintegrate” (Caminhamos em praias poluídas, sentindo nossos corpos se desintegrando,) e no encerramento, com “Life Is Endless, Life Is a Moment” (Me ame / Quando eu for pó/ A vida é infinita / E a vida é um momento).
Se há algo de Pós-Punk, são ecos um tanto distantes. “Trance State” tem abertura tribal, linha de baixo simples e reta, e mais os timbres e riffs esparsos de guitarra; estrutura que que praticamente se repete em “The Sound of the Summer”, com timbres que criam certa associação aos usualmente empregados por John McGeogh no Siouxsie and the Banshees. “Life Is Endless, Life Is a Moment” traz forte referências ao The Cure. No mais, Antidepressants é o Suede de sempre, sem mudanças de fato.
Segundo álbum de uma trilogia, Antidepressants, de fato, poderia ter se tornado um álbum mais sombrio do que de fato é, e nisso poderia se aproximar talvez de The Blue Hour. Mas os elementos que compõem a sua sonoridade (citados lá no primeiro parágrafo) teriam que ganhar novas abordagens, se reinventar de alguma forma. E não é o que acontece aqui, porque, para o bem ou para o mal, o Suede não abandona o seu DNA. Não é um álbum Pós-Punk no geral, e provavelmente ninguém acreditou que fosse, nem o próprio Brett Anderson. E ainda que fosse ser classificado como Pós-Punk, de qual Pós Punk estaríamos falando? E se tentaram soar como Pós-Punk (seja de qualquer linha que se possa imaginar), falharam por muito.
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O que temos aqui é mais um trabalho com a assinatura típica do Suede e, tal qual Autofiction, sem uma canção suficientemente poderosa para se tornar um hit. Antidepressants é um bom álbum do Suede, repete ideias, buscas mudanças, mostra fôlego, e entrega um trabalho acima da média, o que não é nada mal para uma banda com mais de três décadas de atividade.
FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:
ANO: 2025
GRAVADORA: BMG
FAIXAS: 11
DURAÇÃO: 39:34 min
PRODUTOR: Ed Buller
DESTAQUES: “Disintegrate”, “The Sound and the Summer”, “June Rain”, “Life Is Endless, Life Is a Moment”,
PARA FÃS DE: Suede, Brit-Pop
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