U2 – Songs Of Experience (2017)


“A quarentona U2 traz um disco mediano e abaixo da discografia geral”

Ter fama pesa bastante. Mais do que ter um nome na mídia, estar ligado a eventos mundiais, ser referência pra geração nova, nunca deixar de aparecer em notícias, fazer parte de algo que em 40 anos nunca se rompeu, pode ser sua dor de cabeça ou então seus momentos de glória. No meio de inúmeras premiações, de falatórios, de Bono Vox ter carisma e estar preocupado com problemas mundiais, da mega banda que se tornou, dos excelentes componentes que possui, a irlandesa U2 construiu sua história com mais louros do que amarguras, e é seguro dizer que hoje é uma das bandas mais estáveis em atuação e que não perdeu integrantes.

Claro que estabilidade não é sinônimo de que toda criação sairá perfeita. Há opiniões, e isso pode ser incluída como a minha, de que o U2 poderia até ter parado depois de ‘Pop’ (1997). O grupo perdeu o relâmpago de sua inventividade musical e talvez tenha feito discos apenas para preencher sua história (um fã fervoroso nunca irá aceitar essa hipótese). Engraçado que em 40 anos de U2 exista pessoas que separam o quarteto por fases. É uma banda que você pode dividir em épocas ou por mudança de estilo. Por exemplo, considero interessante a fase ‘Rattle and Hum’ (1988) até ‘Pop’ (1997), onde o grupo não teve medo de ousar, casar rock com outros gêneros como blues e eletrônica. Esse momento da banda me cativa até mais do que os primeiros discos, por incrível que possa parecer.

U2 sempre abusou da linguagem visual em sua música. O peso de ser uma banda de estrelato e usar a mídia em todo seu potencial. Desde os vídeos bem realizados até as turnês milionárias, shows com orçamentos altos, os irlandeses criam um frenesi por onde passam, Bono constitui a figura não apenas de crooner competente, mas de homem ligado a causas mundiais. Porém, o U2 não se prendeu somente a Bono; The Edge, o grande guitarrista, não ficou em segundo plano, fez vocais em várias canções e sempre é lembrado. Adam Clayton e Larry Mullen Jr. nunca ficaram atrás, sempre presentes em entrevistas e criando toda uma influência para músicos novatos, no jeito de tocar baixo e bateria.

Enquanto muitas bandas foram sempre lembradas apenas pelo vocalista que tiveram, U2 formou quatro caras importantes e dessa forma, talvez sem esse bloco, a história do quarteto talvez teria parado antes do tempo.

Décimo-quarto trabalho de estúdio, ‘Songs Of Experience’ vem como uma espécie de complemento do trabalho anterior, ‘Songs of Innocence’ (2014). Com um aspecto bastante panfletário, esse é um álbum difícil e longo, sobretudo se pegarmos as exigências dos antigos fãs da banda ou da função de se fazer músicas para essa geração mais nova, criada não com hits radiofônicos ou fitas cassetes, e sim, com Youtube e mídias sociais. Houve uma preocupação da banda em criar um rock que fosse cantado a plenos pulmões junto com a plateia. Canções com refrões grudentos e pegada mais enérgica que com certeza serão efusivas nos shows (‘Get Out Of Your Own Way’).

O disco funciona bem na primeira metade. Em 13 faixas (na edição Deluxe tem 17), bem pouco se salva e não condiz com a experiência que a banda adquiriu. Apesar do tom de crítica e de protesto com o momento mundial, a banda acaba pecando por não ousar mais e opta por fazer um pop-rock tradicional ao extremo. Falta aquele algo mais arranjado, um flerte mais abrangente com sopros, cordas e pianos. Mesmo o formato pop-rock entrando em cena, a guitarra de The Edge fazendo bonito, algumas canções assim mesmo não convencem a exemplo de ‘The Little Things That Give You Away’.

O baixo imponente de Adam Clayton surge em ‘You’re the Best Thing About Me’ que se sustenta num pop-rock desnecessário. ‘American Soul’ soa como um rock pesado com ares de 70’s, mas é repetitivo e traz uma letra preguiçosa, aquém do que o quarteto já criou. ‘Real Flag Day’ carrega heranças do punk inglês, soa levemente como algo do New Model Army, mas para os irlandeses parece não ter funcionado bem. Retornando ao passado, precisamente com ‘Rattle And Hum’ (1988), a banda tinha feito uma parceria fenomenal com B.B. King (‘When Love Comes To Town’). Em ‘Songs Of Experience’, apesar do grande nome Kendrick Lamar fazer uma participação especial, a música ‘Get Out Of Your Own Way’ não resulta no melhor dos dois artistas e passa apagada.

Claro que existem boas canções que trazem o melhor do U2: melodia, letra, composição, a música que atinge o ouvinte de primeira. ‘Summer Of Love’ é uma balada melancólica fazendo uma alusão aos imigrantes na arriscada travessia em barcos lotados e ilegais pelo Mediterrâneo. ‘Lights Of Home’ é o U2 que se construiu através dos tempos: o instrumental preciso e em sintonia, um Bono Vox seguro, o jeito de hit. ‘Landlady’ tem uma serenidade apoiada em guitarras dedilhadas e uma eletrônica bem discreta, outra faixa onde Bono desfere seu lirismo. Num álbum extenso, são poucos os momentos onde brilha a estrela dos irlandeses, e pular faixas, vício maldito e desnecessário da atualidade, pode ser uma tarefa inevitável.

Ao contrário de pessoas que adoram humilhar uma banda, prefiro sempre o melhor dela. Sempre espero que U2 volte a fazer um grande disco. Ou será que isso não retorna mais, os tempos e as vontades são outras, ficaremos ouvindo os discos antigos? Poderiam ter parado da mesma forma de outros grupos como R.E.M. e Wild Beasts. Mas estão aí, na ativa, com mais fôlego do que inspiração, e como fã da música que arrebata (não como um fã fervoroso da banda), aguardar um novo e grande disco nunca é demais.

::Observação: na capa do disco temos Elijah Hewson (filho de Bono Vox) e Sian Evans (filha de The Edge).

NOTA: 6,0

::FAIXAS:
01. Love Is All We Have Left
02. Lights of Home
03. You’re the Best Thing About Me
04. Get Out of Your Own Way (participação de Kendrick Lamar)
05. American Soul
06. Summer of Love
07. Red Flag Day
08. The Showman (Little More Better)
09. The Little Things That Give You Away
10. Landlady
11. The Blackout
12. Love Is Bigger Than Anything in It’s Way
13. 13 (There is a Light)

::MAIS INFORMAÇÕES:
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Site oficial
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U2 Brasil

:: Assista abaixo ao vídeo de ‘The Blackout’:

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