A partir de um mistério acerca da partida repentina de algumas pessoas, série americana cria um universo narrativo rico em episódios fantásticos onde a condição humana é colocada em foco.
Emissora (EUA): HBO
Temporadas: 3 (série já finalizada)
Episódios totais: 28 (cada um com um tempo entre 50 a 60 minutos aproximadamente)
Criadores da série: Tom Perrotta e Damon Lindelof
Temáticas: mistério, loucura, religião, perdas, sociedade, relacionamentos, família, condição humana
Damon Lindelof, um dos criadores de LOST, parece gostar de mistério. Foi dessa forma que LOST foi conduzida até seus minutos finais, sendo considerada como uma série do ‘ame ou odeie’ por conta do desfecho. Enigmas sobre enigmas, números premiados, escotilhas, fumaça mortal, ilha, tripulação de um avião caído (e o espectador com o cérebro em redemoinhos). O Lindelof dessa década continua da mesma forma, mas enquanto a série antiga nos entregava inúmeros mistérios, ‘The Leftovers’ tem um único que rege a trama: o desaparecimento de 2% da população da Terra, evento esse chamado de ‘Partida Repentina’.
‘The Leftovers’ tem esse mistério apenas como pano de fundo, e trata mais dele na primeira temporada. No início, vamos deparando com pessoas que aceitaram essa partida e seguiram adiante, outras nem tanto e até aquelas que resolveram mudar de hábitos. Entretanto, é através dessa partida que a narrativa vai delinear seus personagens, todos devidamente afetados/fragilizados. E em meio a um caos e com previsão de apocalipse chegando, a série toma um caminho tortuoso, porém sempre convidando o espectador a ser como um cúmplice e cair numa jornada que une insanidade, suicídios, perdas, relacionamentos e o enigma que a própria vida é.
O seriado da HBO tem todo um capricho (digno da emissora) que já começa na abertura e passa pela bela trilha sonora (que muda conforme a temporada e alguns episódios). O elenco cativa de início. Todos os personagens ganham destaque, apesar de que a terceira e última temporada praticamente deixa alguns de lado, mas sem eliminá-los de vez. Os episódios, com excelentes construções narrativas, entregam uma rotatividade entre os personagens mostrando a índole e a perspectiva de cada um. Difícil não se emocionar com Matt, Nora, Kevin e Laurie. Feridas, medos e fraquezas são cada vez mais expostos conforme o andamento da produção, quer seja por episódios que fazem se valer mais da filosofia e psicologia, ou quer seja por meio de analogias e metáforas onde o espectador precisa encaixar a ideia apresentada ali.
The Leftovers não opta pelo cientificismo ou pela busca por respostas, o seriado quer mostrar pessoas comuns e famílias lidando com o luto e as consequências de fatos traumáticos. Uma produção que era atraente não pela parte técnica, como também por trazer personagens como nós, por trabalhar com nosso sensorial e para pensarmos em todos os dilemas que a existência humana carrega. Pode ser bela, porém ao mesmo tempo catastrófica. Apesar de trabalhar com tantos temas que abordam religião até suicídio, em nenhum momento The Leftovers pesa para algum lado.
O seriado fecha talvez não dando respostas, com muitas divagações e questionamentos entre os fãs, mas termina de uma forma mais ‘realista’ que LOST, ao mesmo tempo ficou mais centrada na condição humana. The Leftovers é aquela produção que mais uma vez tenta explicar o que é a vida ou então, que tenta se aproximar disso usando de tudo que nós conhecemos: de filosofia ou mesmo de ficção. Mesmo que a gente não acredite nas histórias contadas ali, o que realmente aconteceu, como as pessoas sumiram, se os personagens realmente agiram como o final supõe (a exemplo da personagem Nora), fica mais uma produção que mostra o que o cinema pode fazer de melhor: enaltecer o espectador, ludibriá-lo, conscientizá-lo, nocauteá-lo. Mais do que isso, dar entretenimento e apresentar novas ideias para o que ainda pode chegar dentro da própria sétima arte.
Saiba mais (elenco, sinopse, descrição dos episódios):
Filmow
IMDB
Rotten Tomatoes
Wikipedia
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