‘Beneath the Eyrie’ mostra que os Pixies estão vivos e chutando


Foto da banda Pixies para resenha do álbum Beneath the Eyrie

Na década de 80 os Pixies, juntamente com o Husker Du, Sonic Youth e o R.E.M., foi a banda que manteve o Rock Alternativo americano respirando e, de várias formas, preparou o terreno para o surgimento do Grunge. E eis que a banda chega a Beneath the Eyrie, seu sexto álbum.

A carreira da banda de Boston pode ser dividida em três fases: do EP Come on Pilgrim a Doolittle (87-89); de Bossanova a Trompe le Monde (90-91); e a atual, desde o lançamento de Indie Cindy (2014).

Não há dúvidas de que seus melhores trabalhos estão lá no início, numa fase áurea de ótimas canções e ideias. Se a segunda fase não conseguiu efeito tão catártico quanto à primeira, não foi por culpa dos álbuns, que também são muito bons, mas mais pela intensidade devastadora Doolittle e Surfer Rosa, verdadeiros clássicos instantâneos do Rock Alternativo americano e da Música Pop.

Black Francis e sua turma haviam encontrado um filão interessantíssimo a ser explorado, unindo Surf-Music, Hardcore, elementos de Sci-Fi, cozinha poderosíssima, uma vocalista carismática e que fazia um perfeito contraponto vocal adocicado com a voz áspera e selvagem de Frank, somado a um guitarrista tão criativo quanto econômico no uso da segunda guitarra. Além de letras cantadas em inglês e espanhol cheias de sacadas. E, mais ainda, uma dose de loucura atraente.

O hiato de mais de vinte anos em que a banda esteve ausente dos álbuns (a banda se reuniu para shows em 2004, após onze anos) serviu para que o culto aos Pixies só aumentasse e, consequentemente, a avidez por novas canções, que vieram em forma de EP’s e álbuns na sequência. Com um detalhe de enorme importância: Kim Deal, abandonou o barco em 2013, antes do lançamento do primeiro da série de EP’s que se tornaria o álbum de 2014.

A volta dos elfos não decepcionou, Indie Cindy (2014) e Head Carrier (2016) são dois bons álbuns, trazem canções que muitas bandas dariam tudo para terem composto. Mas pouco para quem se acostumou com o padrão Pixies de qualidade, e principalmente para quem guardou na memória afetiva as linhas de baixo viciantes e os vocais delicados de Deal.

Como nem sempre temos o que queremos e a vida segue adiante, restou a possibilidade de ver a banda reformada, com a ótima baixista Paz Lenchantin nos graves, e de volta aos palcos com novas canções e não apenas um revival.

Se tem algo que a banda sempre primou foi por trazer capas intrigantes/interessantes, cortesia do trabalho de arte de Vaughan Oliver, e em Beneath the Eyrie ela se mantém. Tom Dalgerty segue como produtor, sinal de que seu trabalho no álbum anterior foi aprovado.

E o que dizer do novo trabalho? Que o Pixies de 2019 está mais para o Pixies de Trompe le Monde do que de qualquer dos trabalhos anteriores. Dá pra dizer até mesmo que é o álbum mais Pixies de todos lançados pós-volta.Black Francis (AKA Frank Black) está à frente nos vocais de quase todas as canções, cantando em geral de forma contida, às vezes sussurrada.

“On Graveyard Hill”, primeiro single lançado, traz riffs de guitarra que rememoram os melhores momentos da banda; “Catfish Kate” tem uma linha de baixo potente e poderia ter ganhado uma bateria mais poderosa e backing vocals mais presentes, que a tornaria maior. O mesmo pode ser dito de “Ready For Love”. Por sinal, é bastante perceptível como a voz de Lenchantin fica sempre em segundo plano, praticamente encoberta pela de Francis. Exceção em “Los Surfers Muertos”, justamente uma das melhores faixas.

A Surf-Music é uma referência constante ao longo do disco. Aparece em diversas faixas, atingindo seu melhor momento em “St. Nazaire”, quando Francis mostra-se mais solto e descontrolado no vocal, lembrando aquele vocalista de outra época. E, claro, a banda acrescenta outros elementos sonoros, como o teclado em “In the Arms of Mrs. Mark of Cain”, faixa que abre o disco.

Bate a sensação de que o álbum em si e algumas faixas poderiam ser mais curtas. Outro problema do Pixies atual é aquele leve incômodo de que Francis queira ser sempre o protagonista, deixando pouco espaço para seus colegas de banda. Ainda assim,  não dá pra dizer que Beneath The Eyrie esteja mais para um trabalho solo de Francis, apesar de “Ready to Love” e “Daniel Boone” estarem mais próximas de trabalhos solo do vocalista.

+++ Na coluna ESSE EU TIVE EM VINIL, leia sobre ‘Surfer Rosa’, dos Pixies

Bem, os Pixies não seriam Pixies sem Black Francis (compositor mor), sem Kim Deal perdem um percentual considerável de sua força, apesar disso ainda conseguem soar interessantes. A maturidade (olha ela aí de novo) matou o lado selvagem da banda, podou os histrionismos de Francis, mas não lhe tirou a capacidade de ainda fazer boas canções, ainda que colocadas em retrospectos soem como apenas OK.

Dito isto, Beneath the Eyrie faz a banda subir um degrau, emplacando seu quinto melhor álbum (Come on Pilgrim não entra pois é um EP), à frente de Indie Cindy e de Head Carrier, seus antecessores.

DESTAQUES: “On Graveyard Hill”, “Catfish Kate”, “Los Surfers Muertos” e “St. Nazaire”.


Capa do álbum Beheath the Eyrie, da banda Pixies

FAIXAS:
01. In the Arms of Mrs Mark of Cain
02. On Graveyard Hill
03. Catfish Kate
04. This Is My Fate
05. Ready for Love
06. Silver Bullet
07. Long Rider
08. Los Surfers Muertos
09. St. Nazaire
10. Bird of Prey
11. Daniel Boone
12. Death Horizon


 

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1 Comment

  1. Ângelo
    20/01/2020

    Beleza de matéria! Matou toda a charada quando acertou o alvo: MATURIDADE é a palavra chave.

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