As resenhas republicadas aqui sobre álbuns da banda britânica The Charlatans ou Charlatans UK foram lançados no antigo blog entre 2008 e 2017 e vem tentar suprir a lacuna de textos sobre o grupo de Manchester, surgido no início dos anos 90, época áurea da chamada Indie-Dance, Madchester, Baggy.
THE CHARLATANS | You Cross My Path (2008)
Por Luciano Ferreira
O The Charlatans ou Charlatans UK assim como o James e diversas outras bandas inglesas é mais uma das que conseguiram relativo sucesso e um público fiel em sua terra natal, mas não conseguiram emplacar em outros cantos do mundo. Mesmo com vários de seus álbuns e singles batendo no TOP 10 britânico, os mancunianos nunca conseguiram atingir um público maior fora da Inglaterra.
Surgido no boom de bandas que praticavam o Indie-Dance, foram logo enquadrados na cena Madchester. Relegados por parte da mídia a segundo plano, se comparados aos Stone Roses, Inspiral Carpets e Happy Mondays, cativaram um bom público em seu país e muitos fãs mundo afora. Com dezoito anos de carreira, o grupo tem oscilado entre altos e baixos, passando por situações difíceis, que inclui a morte, em 1996, num acidente de moto, de Rob Collins (tecladista e um dos fundadores do grupo), num momento em que a banda se encontrava no auge.
No início da carreira o grande diferencial de sua música era o uso da sonoridade do teclado Hammond, além da mistura de batidas dançantes e baixo groove, tão em voga na época, e muita influência sessentista. O frescor juvenil exalado das canções levou Some Friendly, o primeiro álbum, ao topo da parada independente inglesa, amparado pelo hit “The Only One I Know”, um dos muitos que conseguiriam emplacar.
Com o declínio da Indie-Dance, os Charlatans mudaram seu som, renderam-se a influências setentistas e country. Em Simpatico (2006), seu penúltimo álbum, descobriram o reggae e o dub.
You Cross My Path escancara bastante influências do New Order, chegando a soar quase uma homenagem. Como aluno da escola sumneriana (quem diria que um dia alguém iria imitar a maneira de cantar do tímido Barney!), Tim Burgess, que hoje vive em Los Angeles, mostra que aprendeu a lição direitinho e pode mostrar orgulhoso ao seu mentor o quão aplicado que foi. O mesmo podendo ser dito do aluno Martin Blunt (baixo) e suas linhas melódicas nos graves. Algumas chegam a ser tão bacanas quanto as do mestre Hook. Canções como “Oh!Vanity”, “Bad Days”, “Mis-Takes” (com algo de “Confusion” e “Love Will Tear Us Apart”), “The Misbegotten” e “You Cross My Path” não fariam feio em Brotherhood, Technique ou em álbuns mais recentes do New Order, até são mais inspiradas que muitas das composições recentes do grupo de Sumner. Pena que acabem soando como decalque.
Quando a banda resolve jogar fora o paradigma seguido até então, o álbum já se aproxima do fim.
“My Name is Despair” borra a coisa com tons de psicodelismo e um fundo repleto de camadas de variados instrumentos. Em sequência, surpreendem com a bonitinha “Bird”, que apesar das influências, tem cores mais próximas da banda, e “This is the End”, a única que se colocada no espelho irá refletir a cara da banda, mas aí já é o fim, como canta o próprio Burgess no refrão: “This is the End of All I Know”.
Esse é o típico caso em que cabe a pergunta: não seria a hora de pendurar as chuteiras?
Como um jogador em fim de carreira que vai jogar em clubes pequenos até se convencer que já não dá mais, os Charlatans vão insistindo, lançando álbuns que não são ruins, mas atiram para vários lados, soando desfocados. Inteligentes, lançam mão do artifício do download gratuito do álbum como estratégia para promovê-lo.
A despeito de tudo, é um dos trabalhos mais coesos da banda nos últimos tempos, com faixas bastante equilibradas e produção correta. O xis da questão é a sombra que insiste em pairar na maioria das canções. Conseguindo não vislumbrá-la, como muitos dos fãs o farão, então pode-se dizer que é um grande álbum, que no fundo não é. As vezes jogadores em fim de carreira conseguem se sair razoavelmente bem e agradar jogando em times menores.
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THE CHARLATANS | Modern Nature (2015)
Por Luciano Ferreira
Passados cinco anos desde seu último álbum de estúdio, os ingleses do The Charlatans retornam com seu álbum mais equilibrado e mais com a cara da banda desde muito tempo. Nesse intervalo somaram-se perdas e ganhos, dentre elas a morte do baterista Jon Brooks em 2013, e o nascimento do filho do vocalista Tim Burgess. Apesar da dor da perda não só de um membro da banda, mas também de um amigo de longa data, o sentimento que a banda exala em Modern Nature, seu décimo segundo álbum de carreira, não é de tristeza, mas de celebração da vida. Em tempo, dão novo fôlego a uma sonoridade que sempre foi característica da banda, ao vestir as ideias para os dias atuais. Como se reencontrassem seu próprio som. Algo que You Cross My Path (2008), apesar do excesso de referências, sugeria de forma leve ainda, mas que acabou sendo quebrado no álbum seguinte, o irregular “Who We Touch” (2010). O álbum conta com várias participações, incluindo aí a dos bateristas Peter Salisbury (The Verve), Stephen Morris (New Order) e Gabriel Gurnsey (Factory Floor). E mostra a cozinha como centro das atenções novamente, com a presença marcante do groove do baixo de Martin Blunt carregando a maior parte dos arranjos. Destaques para “Come Home Baby” e “Let The Good Times Be Never Ending”.
THE CHARLATANS | Different Days (2017)
Por Eduardo Salvalaio
A banda inglesa The Charlatans, por si só, já tem um mérito: é uma das sobreviventes dos anos 90, da chamada era Madchester e também com um pé no Britpop. Different Days é o décimo-terceiro trabalho de estúdio do grupo. Nessas quase três décadas, a idade chegou para o grupo, o cabelo do vocalista Tim Burgess continua o mesmo e a banda também teve seu momento desolador com a morte do baterista Jon Brookes aos 44 anos. Esse é um álbum com várias participações de peso como Paul Weller e Johnny Marr (ex-The Smiths) que toca guitarra em três faixas. Os ingleses continuam com sua química e digamos que Differente Days é um disco bem pra cima, sem espaço pra melancolia. Refrões ganchudos, instrumentais ágeis, melodias ensolaradas e a peculiar voz de Burgess (‘Solutions’, ‘Different Days’ e ‘Let’s Go Together’). O casamento entrosado com a eletrônica também está presente em ‘Over Again’, repleta de suingue e a que mais lembra a fase 90’s do grupo. A guitarra (de Marr) comanda a levada contagiante de ‘Plastic Machinery’, candidata a ser uma das melhores do disco.
:: Assista ao videoclipe de “Come Home Baby”:
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