10 PERGUNTAS PARA GIMU


Foto de Gimu para entrevista

Gimu (AKA Gilmar Monte) nasceu no Espírito Santo e desde cedo foi bastante apegado com a música. Começou sua experiência musical com a banda de Caracica (ES), Primitive Painters (título de uma música do The Felt), formada com amigos do bairro. Depois de um tempo, forma a Terrorturbo, que durou cerca de oito anos, lançou dois EP’s em CD-R, e chegou ao fim em 2009 . Com o fim da Terrorturbo, Gimu resolveu seguir na música sozinho, divulgando seu trabalho através da Internet, inclusive tendo boa repercussão não só dentro do Brasil como no exterior.

Impressiona a quantidade de lançamentos do artista em sua página no Bandcamp, em torno de cinquenta, entre álbuns, singles e EP’s, todos instrumentais. Sua “carreira discográfica” foi iniciada em 2011 com  A Prayer For Time, um EP contendo de três faixas, de lá pra cá fazer música tem sido quase uma obsessão (no sentido positivo). Finally Free, Gravity (2019) é seu mais recente trabalho, onde ele presta homenagem a sua sogra, falecida no início daquele ano.

Batidas estão ausentes em suas composições. Ambient, Drone, Experiental, são alguns adjetivos usados para definir a sonoridade presente nos trabalhos de Gimu, que concilia essa paixão pela música, criando de paisagens sonoras difusas, viajadas, às vezes melancólicas, com a vida de professor. Para saber um pouco mais sobre o trabalho do artista, Gimu respondeu gentilmente nossas 10 Perguntas.

No Bandcamp (link ao final da entrevista) é possível ouvir todos os trabalhos de Gimu.

A Prayer For Time by Gimu


01. Como você define a sua música?

R: Paisagens sonoras. É isso. com variações de cores, texturas. Chamam de Drone, Ambient, Dark Ambient, Experimental, etc.

02. Como e quando surgiu o projeto?

R: Não é um projeto. Gimu é meu apelido e há muito tempo eu o ouço mais do que meu próprio nome. Todo o meu lance com música sempre teve a ver com bandas até isso deixar de acontecer ali pelo final de 2009, quando eu vi que não tinha mais paciência para ensaios, essa coisa toda. Então fiquei pensando em como faria para fazer música sozinho. Foi assim. E lá se vão 10 anos. Ou seja, Gimu não é um projeto. Sou eu fazendo música.

Capa do álbum Finally Free, Gravity

03. Como funciona o processo de composição?

R: Não componho. Sento ao computador e começo a misturar sons, pistas, no programa que uso. Combino efeitos. São muitos cliques, muito tempo com os fones me apertando a cabeça. Às vezes de cara eu já sei que tenho algo que vai virar uma música que irei amar. Normalmente me deparo com algum monstrengo sonoro que não sei pra onde me levará, mas não desisto dele e volto para o arquivo e trabalho um pouquinho na canção, largo lá, volto pra ela dias depois. Tem uma hora em que decido que terminei, ou não termino nunca.

Antigamente eu passava horas e horas no computador mas destruí todas as vértebras do meu pescoço e agora dói muito se passo algum tempo fixado na tela. Tive que mudar minha forma de trabalhar em canções. Já faz algum tempo que comecei a fazer dessa forma, iniciando algo, parando, deixando pra depois, voltando e muito tempo passa até que algo seja finalizado. Funciona bacana e acho que consigo criar coisas mais bem acabadas, mais bem elaboradas dessa forma.

04. Qual a importância das letras nas suas músicas?

R: Nenhuma. Não tem letras. Raramente tem vocal. Eu gosto de cantar, mas não sei cantar. Tem voz minha em um monte de canções que fiz, faço, mas estão lá somente pra mim mesmo. Acho que nem dá pra perceber que “aquilo” é voz. É só mais um elemento. Às vezes cantarolo algo e vejo se combina com a canção que estou fazendo e aí me dou conta de que a tal canção não pede nada humano. A mesma coisa acontece com batidas. Nem sempre consigo colocar algo que seja remotamente parecido com batida no que faço. Ou seja, sempre vou tentar voz e batida e quase sempre deletarei essas partes depois de ter certeza de que estão estragando tudo.

05. Quais suas principais influências musicais e não musicais (cinema, literatura, etc…)?

R: Não tem principais influências. É tão difícil responder isso aos 48/49 anos. Tanta coisa que a gente ouve e que acaba fazendo um “estrago”. Minha música existe porque eu me apaixonei por música, artistas, bandas. É isso. Nos últimos anos acho que ouvi muito pouca música como a que faço e ainda assim fiz a música que faço, sabe? Penso que tem mais a ver com certos sons que me marcaram e que sempre estão presentes em tudo que faço. O que crio porque existem efeitos como delay e reverb, por exemplo.

Buscar texturas que soem rasgadas, erodidas, todo o lance da repetição, trabalhar com loops, samplings. Eram coisas que eu queria muito fazer quando era bem jovem, porém não tinha como. Hoje em dia eu posso criar coisas que eu já gostaria de ter criado em, sei lá, 1991/1992.

06. No cenário atual, quais bandas/artistas que você destacaria?

R: Vou fazer melhor do que mencionar algo que destacaria. Entre no site da Bandcamp e busque coisas através dos filtros deles de acordo com o que te interessa. Você vai se deparar com milhares de pessoas fazendo música linda e vai se apaixonar por algum disco. Você pode até baixar algo de graça ou pagar o que deseja pelo álbum. Mais punk, impossível. Totalmente “faça você mesmo”, pra quem ouve e pra quem é ouvido.

07. Aconteceu alguma oportunidade ou convite de show fora do país, haja vista que você tem um grande reconhecimento no exterior e, inclusive, participou de álbuns de artistas de outros países?

R: Show fora do país: não. Já surgiram coisas como “Gimu, a gente amaria te trazer para tocar aqui, mas não temos grana”. Normal, não é? Olha onde estou! (risos). Mas fiz contatos, conheci pessoas online, fiz amigos em vários países, a gente se fala. É legal pensar que posso ir para a Eslovênia e ter onde ficar.

08. Seu estado natal, o Espírito Santo, ainda tem certo preconceito musical quanto a música que você faz. De uma forma geral, o Brasil ainda não abriu os olhos para outras sonoridades ou para bandas/artistas mais desconhecidos. Você considera que esse panorama mudou?

R: Não existe preconceito. Existe o Brasil e existem as pessoas. A música popular do Brasil é o que é. Então a música popular do Espírito Santo é o que é. Se tem gente na Rússia que ouve minha música, então tem gente no ES que faz isso também e está tudo certo. Meu estado natal não me deve nada. Fizemos as pazes (risos). Todo mundo se vira e dá seu jeito. Seria muito legal poder viajar por aí, me apresentar, ser pago para isso, viver disso, você sabe. Mas não dá. Faz muito tempo que parei de esperar que certas coisas acontecessem. Livrar-se de expectativas é saudável. Fico no meu cantinho, quieto, fazendo minhas musiquinhas, as lanço, formato físico ou não, e está tudo certo.

Imagina ligar o rádio às 15:00 numa terça aqui onde moro e estar tocando William Basinski porque alguém ligou e pediu? O meteoro cairia em seguida (risos). E se eu começo a falar sobre a música que faz sucesso e daí começo a falar de pessoas, ihhh… não vai dar certo. É um troço que mexe muito comigo negativamente e me deixa muito triste porque eu queria que só o que é absolutamente lindo restasse no mundo, porém se até o absolutamente lindo é subjetivo…

09. Quando iniciou seu envolvimento com trilha sonora de jogos? Pretende fazer mais trilhas no futuro?

R: Fiz uma. E só. Achei que valeria a pena tentar. Não jogo. Vivo cercado por pessoas loucas por jogos. Eu nunca imaginei que tantas pessoas pudessem amar jogos. Sou professor e alunas/alunos amam jogos e é quando eu não tenho assunto e preciso que me expliquem. Pedi ajuda ao meu marido e a um amigo quando fiz a trilha para o Buried. Mostrava para eles a descrição da cena e o que eu havia criado para ter certeza de que tinha a ver. Esses exercícios são legais embora eu não lide bem com desafios.

10. Planos para o futuro e mensagem para os fãs.

R: Nenhum plano. Faz um tempo que estou numas de “vamos ver o que vai acontecer”. 2019 foi um ano pesado, triste, não quis fazer música,o que foi lançado ano passado eu havia criado em 2018. De dezembro/2019 para cá eu comecei a trabalhar em novas canções. Esforcei-me. Nenhuma vontade de fazer nada, mas criar me inspira. Eis o lance: fazer música me dá vontade de fazer música. É algo que eu realmente amo fazer e que sempre achei que justifica minha existência.

No momento em que respondo essas perguntas (carnaval/2020) já tenho material para uns dois álbuns e espero que consiga lançar tudo ainda em 2020. Para quem gosta de minha música, beijos para vocês. Cuidem-se, ofereçam seus ouvidos, ombros e vidas àqueles/àquelas que amam. O mundo está tão estranho que… sei lá. Percam-se em tudo que amam fazer e se quiserem falar comigo, é só entrar em contato. A gente vai acabar falando das coisas da vida e não de música, acho que é bom que seja assim.

Obrigado pelo interesse e espaço no site. Beijos para todos vocês!

(Entrevista: Eduardo Salvalaio | Texto Introdutório: Eduardo Salvalaio / Luciano Ferreira)


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:: Ouça “Finally Free, Gravity” na íntegra:

finally free, gravity by Gimu


:: Assista ao vídeo de “Not Alone” :


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