Quarteto de Hull, bdrmm sai do quarto para as pistas de dança em ‘Microtonic’, seu terceiro álbum
Em I Don’t Know, seu álbum de 2023 (o segundo na carreira), os britânicos do bdrmm deixaram claro que não estavam dispostos a permanecerem na sonoridade que marcou sua estreia em 2020, isso ficou claro tanto nas declarações da banda quanto na proposta sonora ali demonstrada. Dava para imaginar que I Don’t Know era um trabalho de transição, sutil, não abrupta, onde o DNA de uma banda de guitarras ainda se fazia presente em faixas como a ruidosa “Pulling Stitches”.
Ali, num mesmo álbum, conviviam o bdrmm Shoegaze de 2020 e o brdmm ainda indeciso em dar um passo mais largo em direção ao Eletrônico/Ambient encontrado com mais vontade em 2025. Microtonic, terceiro e mais recente trabalho do grupo – o segundo pelo selo escocês Rock Action (de propriedade do Mogwai) -, é a certeza de nossas suposições daquela época.
A transição sonora executada em Microtonic é evidenciada já nos primeiros segundos com as batidas graves e pulsantes de “Goit” (Mortalidade, espasmos, terror, morte… não sobrou nada) – conduzida pelos vocais de Syd Minsky-Sargeant do Working Man’s Club -, prosseguindo nas camadas sonoras e profusão de efeitos da atordoante “John the Ceiling”, e adiante em “Snares”, que segue a mesma pulsação rítmica. São três faixas que não deixam vestígios daquela banda de guitarras barulhentas e melódicas que surgiu em meio à pandemia como uma forte postulante ao título de “banda Shoegaze contemporânea do momento”.
Microtonic soa então como a fase final do projeto de mudança sonora do quarteto de Hull, sendo construído em torno de batidas eletrônicas, às quais se juntam ambientações atmosféricas, sintetizadores, vocais etéreos e elementos cinematográficos – quando deixam transparecer influências dos “padrinhos” Mogwai, como na estrutura Post-Rock da instrumental e barulhenta “Microtonic”, e até de Trip-Hop, em “In the Electric Field”, com participação de Olivesque, do Nightbus.
As guitarras surgem, em boa parte das faixas, encharcadas de modulações que as tornam bem discretas, não sendo o foco principal dos arranjos, como na ótima “Infinity Peaking”. Ainda assim, é possível um vislumbre mais intenso das seis cordas na envolvente “Star in Heat”, e um meio termo entre os “dois lados” da banda, encontrado em faixas como “Lake Disappointment” e “The Noose”.
+++ Leia a crítica de ‘The Bad Fire’, do Mogwai
Microtonic deixa de lado as hesitações de seu antecessor. É um álbum em que a opção é pelo climático, pelo imersivo, e a inspiração em David Lynch é uma das explicações. É um trabalho coeso ao longo de suas dez faixas, muito por conta do trabalho do produtor Daniel Avery, e repleto de atrativos para apreciadores tanto de Post-Rock quanto de Ambient e, de repente, até do IDM e Shoegaze/Dreampop mais amplo. É possível ainda traçar um paralelo, guardadas as devidas proporções, entre Microtonic e Pygmalion, do Slowdive – outra das influências do bdrmm -, ambos abandonam um paradigma para abraçar novas alternativas sonoras. No caso do Slowdive, resultou no “fim” da banda, no do bdrmm, só o tempo dirá.
FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:
ANO: 2025
GRAVADORA: Rock Action
FAIXAS: 10
DURAÇÃO: 44:00 min
PRODUTOR: Daniel Avery
DESTAQUES: “John the Ceiling”, “Infinity Peaking”, “Star in Heat”
PARA FÃS DE: Ambient-Music, Eletrônica, Post-Rock
No Comment