O enérgico Special Interest vai do caos ao glamour em ‘The Passion Of’


Special Interest, foto banda

The Passion Of é o reflexo de um mundo caótico onde a desigualdade reina. A combinação perfeita do Art-Punk, Eletrônica e Techno. uma verdadeira anarquia e desordem fragmentada e hipnótica sobre o errôneo comportamento humano.

O grupo Synth-Punk de New Orleans, Luisiana, Special Interest, está de volta com seu som enérgico e explosivo no seu segundo álbum de inéditas The Passion Of, sucessor do barulhento e rápido Spiraling (2018).

A energia empregada pela banda em suas composições são pura euforia e pandemônio no sentido figurado. A banda faz com primor uma mistura de gêneros como: Eletrônica, Industrial Techno e Art Punk. A brutalidade e violência explicita presente nos versos potentes de canções como “Disco III” funcionam como um indicador do som que o quarteto formado por Alli Lougout (voz e letras), Nathan Cassiani (baixo), Maria Elena (guitarras) e Ruth Mascelli (produção eletrônica) vem explorando e aperfeiçoando cada vez mais em suas composições. O álbum ganha um clima conciso, barulho, ruídos e o peso da eletrônica com o punk, lembra a força entonada nas canções do The Prodigy.

Lougout disse em entrevistas que: “Está entre o choque e o glamour, por causa do meu corpo, sou gorda e gostosa e as pessoas não sabem o que fazer com isso”. Isso define bem a proposta de The Passion Of, que excogita sem meios termos e de forma direta a angústia sociopolítica em primeiro plano. É só ouvir a glamorosa e impactante “All Tomorrow’s Carry” que carrega o melhor do Techno e do Art Punk em suas linhas obscuras. Onde Lougout solta a voz para elencar um discurso político: “Vamos sair/Eu vejo a cidade desmoronar/Sim, eles foram expulsos/Logo evacuada/A casa estava quase dilapidada”, resistência e discoteca em total equilíbrio.

As passagens sonoras são exorbitantes vão do caos à dança em segundos. Sintetizadores marcantes e hipnóticos é o caso da “pedrada” intitulada “A Depravity Such As This”, canção que lembra muito Prodigy. A entrega vocal de Lougout é honesta e corajosa, sem barreiras, livre e solta. As letras sempre fazem uma narrativa para a ação. Algo marcado já no som da banda.

A narrativa  provocativa e sexy podem servir de convite para uma transa ou transcrever a marginalização caótica de um cenário repleto de imagens impactantes descritas por ruas e lacunas de extremo abandono governamental. E isso está escrito nas entrelinhas de “Street Pulse Beat”, canção banhada por versos ligeiros e curtos, que transparece vivencias de Lougout, uma mulher fora dos padrões de beleza exteriorizado pela mídia: negra, gorda e lésbica. Isso te soa familiar com alguma situação aqui no Brasil?

A reprodução eletrônica impregnada no álbum desenvolve uma atmosfera violenta que amarra o álbum de ponta a ponta em seu protesto político, criam uma conexão distorcida, pequenos fragmentos de experimentos que podem muito bem sair de um disco do Sonic Youth, passar pelo Punk e encontrar o Grunge do Nirvana com momentos de pura raiva e explosão ou momentos mais calmos.

Outro detalhe interessante e curioso sobre a autêntica sonoridade da banda é que Mascelli toca um Casio Sk1 com pedais baratos e amplificador barulhento. Pode ser o ponto chave para a base do som pós-industrial do grupo. Geralmente no Punk os instrumentos utilizados são bem padrões, e essa ousadia de experimentar e encorpar novos instrumentos faz a diferença no som do Special Interest.

É um álbum temático que passa a mensagem de que se não mudarmos a forma como estamos vivendo, estaremos ferrados. Se não nos adaptarmos, estaremos em um beco sem saída. “With Love” faixa que encerra o disco soa emergente, inquietante, versos de fúrias que denotam um discurso politizado “Além do sangue lutamos/ Rumo a libertação/ Para libertar os milhões das gaiolas de massa”. Um álbum bem atual, provocativo, ousado e que merece ser ouvido e reouvido. Uma obra caótica sobre o comportamento humano.

DESTAQUES: “DiscoIII”, “Don’t Kiss Me In Public”, “All Tomorrow’s Carry”

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O ÁLBUM:


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