‘Superman’ resgata o prazer de voltar a assistir filme de herói


Rachel Brosnahan and David Corenswet em Superman (2025)

Em versão 2025 de ‘Superman’, Diretor James Gunn dá novos ares ao filme sobre o herói de Krypton

Estou de saco cheio de filmes de herói! Logo eu, um cara que tem verdadeira adoração por graphic novels, um cara que acompanhou uma saga inteira da Marvel nos cinemas, de Homem de Ferro (2008) a Vingadores: Ultimato (2019). Sim, nada que veio depois disso parecia conversar comigo.

O que dizer então da DC?

Bom, a DC é um estúdio que só parecia acertar ao aumentar a censura e direcionar seus filmes para o público adulto, alcançando a excelência pontual em filmes como Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008), Coringa (2019) e The Batman (2022), e fracassando em quase todo o resto.

Então, foi com uma dose cavalar de indiferença que eu soube da notícia de que a DC havia contratado James Gunn, diretor que já havia mostrado certa habilidade ao passar pela Marvel, como o sujeito que iria ser o novo showrunner da DC, tornando suas produções mais palatáveis para maiores audiências.

A “arma” nada secreta da DC foi testada pela primeira vez ao repaginar Esquadrão Suicida, filme de 2016 que ganhou uma versão mais nonsense, colorida e bastante irregular em 2021 pelas mãos de James que, apesar de melhor avaliada pela crítica, foi considerada uma decepção nas bilheterias.

Então surpreende muito que um sujeito que, além de não ter trazido os números esperados, já havia produzido um filme como Brightburn: Filho das Trevas (2019) – no qual retrata o “Superman” como um psicopata – tenha assumido o roteiro e a direção de (mais um) reboot sobre um dos personagens mais icônicos da DC. Ou seja, minhas expectativas eram as piores possíveis.

Mas as melhores experiências são justamente as mais inesperadas, não é mesmo?

Contrariando totalmente aquele formato saturado e falido da “jornada do herói”, James Gunn constrói um filme fácil, leve e acessível, que seria um bálsamo, não fosse também o espelho do mundo sequelado no qual vivemos.  Sem deixar de lado a fantasia escapista e até bobinha que deveria ser inerente a todo filme desse subgênero, existe um subtexto político e social muito interessante e que favorece a nossa conexão com a trama.

David Corenswet em Superman (2025)
David Corenswet em Superman (2025)

O citado subtexto, embora apareça mais claramente em alguns conflitos e situações retratadas como, por exemplo, as que remetem a algo muito próximo do que está acontecendo entre Israel e Palestina, também perpassa de maneira mais sutil pela própria (re)construção das características basilares das personagens. Embora o filme não seja uma história de origem e não traga personagens novos dentre os protagonistas, sentimos que estamos diante de novas personas e isso traz um frescor muito bem-vindo aos quase centenários Clark Kent, Lois Lane e Lex Luthor.

O Superman está em crise e perdido, assim como o discurso neoliberalista que ele costuma representar. Lois, mais inteligente e incansável em busca dos fatos, como toda imprensa utopicamente livre deveria ser. Lex, evolui para a criminalidade e psicopatia digital com a ascensão dos dados e a morte do bom senso, como os donos de big techs de caráter duvidosos, os quais não citarei os nomes aqui.

Gosto de como o diretor casa a diversão infantilóide típica dos blockbusters com metáforas certeiras sobre a polarização/divisão no mundo; sobre a problemática imigratória; sobre a origem do discurso de ódio nas redes; sobre a retórica falida do discurso neoliberal meritocrático; afinal, se nem o Superman consegue resolver tudo sozinho e por seus próprios esforços, quem somos nós, meros mortais, para atingirmos os 110% de produtividade que o capitalismo faz crer possível? Esses e tantos outros paralelos, muito bem executados, acabam acontecendo principalmente depois que o filme acaba, afinal, a fantasia ficou lá na sala de cinema.

Diante de uma esperança cambaleante, resta ao Homem de Aço voltar a ser bom. A bondade inocente e pura, que não permite nenhuma baixa, nem mesmo a de um esquilo. A bondade que lhe permite dar a outra face mil vezes sem revidar em fúria. A bondade que prefere dialogar com seu pior inimigo do que lhe sentar a porrada irracionalmente, a menos que este inimigo seja ele mesmo. E assim vai se formando a representação mais gentil, empática e “humana” do Superman em décadas, e talvez seja exatamente essa a representação do tipo de herói que o mundo precise ter como referência agora.


 Leia a crítica de ‘Besouro Azul’, de Angel Manoel Soto


Mas se meus muitos anos de vida e decepções diárias com a humanidade errante deste querido planeta não me fazem esperançar diante de um filme com uma mensagem tão positiva sobre o poder da bondade, ao menos voltei a crer que é possível gostar de filmes de herói.

CLIQUE PARA ASSISTIR AO TRAILER

superman-2025-poster

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

TÍTULO ORIGINAL: Superman
ANO: 2025
GÊNERO: Ação, Aventura, Super-Herói
PAÍS: EUA
IDIOMA: Inglês
DURAÇÃO: 2:09 h
CLASSIFICAÇÃO: 14 anos
DIREÇÃO: James Gunn
ROTEIRO: James Gunn, Jerry Siegel e Joe Shuster
ELENCO: David Corenswet, Rachel Brosnahan, Nicholas Hoult e outros
AVALIAÇÕES: IMDB

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