CORNIGLIA – Corniglia (2018)


“Álbum de estreia de duo australiano erra e acerta quase nas mesmas medidas”

O lema punk “faça você mesmo” pode adquirir conotações diversas, desde a criação da música em si – caso de muitas bandas punks cuja atitude era maior que a técnica, logo utilizando apenas três acordes nas composições – expandindo-se outras áreas, como da produção musical: gravação, mixagem e masterização, onde a própria banda ou artista faz todo o processo sozinha e em casa. Algo cada vez mais comum hoje em dia, e que tem permitido a muitos lançar e divulgar seu trabalho na internet, e apresentar ao mundo.

O duo australiano Corniglia reza a cartilha do DIY não na economia dos acordes nas composições ou na atitude punk, mas ao darem vida ao seu autointitulado primeiro álbum a quatro mãos (inclusive na criação da capa), no caso as da vocalista Chloe De Paoli e do guitarrista Matthew Irwin, namorados que compartilham o gosto por canções climáticas e abordagens etéreas, seja nos timbres de guitarras emoldurados por efeitos de delay e reverb, phasers ocasionais, ou pelos vocais aveludados de Chloe encharcados de eco.

Apesar das composições mostrarem potencial, é perceptível a necessidade de um trabalho de produção mais caprichado, que poderia levar e elevar muitas delas, algo a ser analisado para o próximo trabalho.

Trafegando entre melodias sonhadoras mas resvalando em estruturas de matizes psicodélicas por momentos, vide o uso de elementos usuais nesse tipo de sonoridade, o duo compõe um interessante compêndio musical, com conexões que passam por Beach House, Melody’s Echo Chamber e até pelos canadenses do Alvvays, quando as canções ganham feições mais indie-pop. Sob a perspectiva de um álbum de estreia, não deixa de ser surpreendente, as qualidades que o casal apresenta, principalmente considerando todo o contexto em que o disco foi produzido.

É uma pena que o álbum comece bem, com três faixas empolgantes, com destaque para as ótimas “But It Wasn’t That Long Ago” e “Oh My Love”, e no final dê uma bela derrapada, não conseguindo manter o mesmo poder de atração do início, a não ser por “Sleepy Jane”, que tenta retomar o fôlego do início mas não chega a ser suficiente para reerguer o álbum, no entremeio, a psicodelia envolvente de “Dear Sunday”, outro dos momentos mais agradáveis do álbum.

NOTA: 7,3

::

:: FAIXAS:
01. But It Wasn’t That Long Ago
02. Strange Desires
03. Oh My Love
04. Reflections
05. Dear Sunday
06. Voices
07. Blue, Purple, Green
08. Horizons
09. Paradise
10. Sleepy Jane
11. Looking Right Through Me

 

:::

:: Assista abaixo ao videoclipe “Oh My Love”:

Previous 'A Forma da Água' é encantador e acerta em cheio nas metáforas, mas carece de alma
Next 'Hellblade: Senua’s Sacrifice' oferece experiência inesquecível

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *