Em ‘Trem-Bala’, David Leitch retorna à sua violência de qualidade


Brian Tyree Henry e Brad Pitt em cena de Trem-Bala

Após anos sendo dublê e coordenador de dublês, a carreira de David Leitch na direção começou após Keanu Reeves, admirador das performances de Leitch desde Matrix Reloaded (2003), o convidar para coordenar os dublês de John Wick (2014).

Junto a Chad Stahelski, ao avançar das negociações, Leitch acabaria por dirigir o filme, mas sem levar devidamente o crédito pelo feito. De qualquer modo, sua experiência em John Wick abriu portas para que, posteriormente, Leitch dirigisse Atômica (2017), DeadPool 2 (2018) e Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw (2019), todos esses marcados pelo o que Leitch apresenta de melhor: a violência.

Em Trem-Bala, Leitch não se reinventa, pelo contrário, adota novamente a performance da violência como o elemento mais importante de seu conjunto. Ao acompanharmos uma viagem de Tóquio a Marioka, com cinco assassinos profissionais possuindo os mesmos objetivos, a condução de Leitch não abre espaços para breves descansos de sua principal característica. Assumindo fielmente a proposta de seu filme, o que recebemos são quase 120 minutos onde todas as desavenças terminam em pancadaria em que até simples objetos como garrafas d’água, notebooks e malas se tornam armas quase letais nas mãos de seus carismáticos sanguinários.

Essa atmosfera sempre enérgica, caótica e de passagens velozes tornam-na digna de ser ambientada em um transporte de alta velocidade.

No entanto, não garante e tampouco consegue sustentar a produção como um todo. Leitch, ao ter como base o livro de mesmo título do aclamado escritor japonês Kotaro Isaka e buscando imprimir sua própria visão sobre a trama, causa um conflito incomodante para seu filme. As motivações trágicas de alguns personagens se chocam com a condução ridicularizada, outra característica do diretor.

Brad Pitt e Bad Bunny em Trem-Bala (2022)
Brad Pitt e Bad Bunny em Trem-Bala (2022)

Em outros filmes, como Deadpool 2 e Hobbs & Shaw, o tom zombador pode até funcionar, mas aqui ele perde seu ritmo.

Leitch apresenta problemas em encaixar o núcleo dramático da Yakuza de forma harmônica em sua bagunça cheia de excessos e ironia que, por vezes, se espalha para outras jornadas como a de The Prince (Joey King) e The Wolf (Bad Bunny). Como tais personagens são coadjuvantes, às vezes, a prática da hostilidade com eles em tela até disfarçam. Porém alguém que Leith não consegue esconder com seu humor duvidoso e cenas de ação é Brad Pitt.

Sem um arco dramático trágico, Joaninha é o protagonista que mais deveria se encaixar dentro da proposta do filme. Entretanto, Brad Pitt não soube (ou não quis) se enquadrar ao projeto. Mesmo ótimas performances de luta – devo dizer que isso é o mínimo para ser escalado por Leitch –, Pitt não tem time para o humor duvidoso e cenas dignas de comédias pastelão. O ator está quase apático em 80% das cenas.

+++ Leia a crítica do filme ‘Nada de Novo no Front’

Mesmo irregular, Trem-Bala é um filme operante pela energia descompromissada que apresenta. Longe de ser o melhor filme de David Leitch, o longa ‘‘prova’’ que o diretor pode alcançar grandiosas e marcantes performances violentas quando existem 90 milhões de dólares em seu bolso.


Poster do filme Trem-Bala, 2022

MAIS INFORMAÇÕES:

Título Original | Ano:  Bullet Train  | 2022
Gênero: Ação, Comédia
País: EUA
Duração: 2:07 h
Direção: David Leitch
Roteiro: Zak Olkewicz | Baseado no livro de Kôtarô Isaka
Elenco: Brad Pitt, Joey King, Bad Bunny, Aaron Taylor-Johnson, Brian Tyree Henry, Andrew Koji, Michael Shannon, Sandra Bullock e outros
Data de Lançamento:4 de agosto de 2022 (Brasil)
Censura: 16 anos
Avaliações: IMDB | Rotten Tomatoes

 

 


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