ESSE EU TIVE EM VINIL | Low Life (New Order, 1985)


Foto do New Order em 1985

Como minha relação com os discos do New Order foi contada no texto do ‘Technique’ e essa coluna, aviso mais uma vez, é feita por memórias, pularemos toda a parte de como a coisa toda foi iniciada, que é uma espécie de “marca registrada” da coluna. Por sinal, essa é a primeira vez que falo de um disco da mesma banda. Começo então a pensar que brevemente essa coluna chegará ao fim, afinal não tinha tantos vinis e alguns deles New Order possuem uma história curiosa ou uma lembrança vívida a ser contada aqui.

Tendo adentrado o universo musical do New Order com a quadra (corrijo aqui o erro do texto sobre o Technique, foram os quatro): Technique, Brotherhood, Power, Corruption and Lies e Low Life, não foi difícil encontrar qualidades em cada um dos álbuns e criar uma espécie de mapa mental ao pensar em cada um deles em termos de sonoridade e propostas.

Power, Corruption and Lies: mais experimental , com a banda tentando se encontrar na mistura entre o orgânico e eletrônico. Brotherhood: mais orgânico e atá com passagens acústicas com a eletrônica aparecendo de forma mais discreta. Technique: mais eletrônico (às vezes até demais) com alguns momentos mais orgânicos.

Low Life pra mim se encaixava (e até hoje penso assim) como o álbum decisivo e divisor de águas na carreira do New Order, tendo conseguido o ponto de equilíbrio entre o lado orgânico e o lado eletrônico. E com Bernard Sumner cantando com mais confiança e vontade.

A quantidade de faixas me intrigava, já que fugia do padrão de dez, embora o tempo total do disco não dê a impressão de ser um álbum curto, e não é. Hoje percebo que é um álbum “redondo” em seus quarenta minutos de duração. O desejo de uma segunda audição sinaliza essa qualidade.

New Order, Low Life Covers

Outro ponto curioso em Low Life é que pela primeira vez a imagem dos integrantes aparece no disco, e nesse caso de forma bem evidente: o rosto de cada um tomando a capa, contracapa e encarte, com Stephen Morris estampando a capa frontal. Algo totalmente diferente para uma banda que desde a época do Joy Division passava a ideia de avessos a esse tipo de exposição. Inclusive é algo que não me recordo de voltaria a acontecer em álbuns posteriores.

Listo minhas faixas prediletas em ordem decrescente: “Love Vigilantes”, “Elegia”, “This Time Of Night”, “Sooner Than You Think”, “Sub-Culture”, “The Perfect Kiss”, “Sunrise e”Face Up”. Num ranking pessoal, Low Life disputa ali pau a pau com Technique o posto de melhor álbum da carreira do New Order.

A percepção: “Love Vigilants” segue soando nostálgica, sensação que surgiu desde a primeira audição e permanece até hoje; “Perfect Kiss” é o exemplo perfeito da excelente combinação entre o lado eletrônico e o lado orgânico; “Sunrise” é a canção mais rock do disco e quiçá uma das da banda; e “Elegia”, que no início me parecia um pouco forçada, tem um clima tão arrebatador que sempre arranca lágrimas, sendo pulada algumas vezes. “This Time Of Night”, “Sooner Than You Think” e “Sub-Culture” são canções grandiosas mas pouco citadas ou usadas em compilações do New Order.

Se me permitissem reorganizar a sequência de faixas, Low Life começaria com “Elegia” e fecharia com “Sunrise”, mas como na época o álbum foi pensado no formato dos dois lados do vinil, faz todo sentido. E abrir com “Elegia” poderia dar uma impressão inicial um tanto sombria ao conjunto, o que pode explicar sua colocação na abertura do lado B.

Resumindo minha relação com Low Life: Se alguém disser que gosta da música dos anos 80 e não conhece o álbum, precisa rever urgente seus conceitos, o mesmo vale para quem gosta de música eletrônica. Porque nem os anos 80 não seriam os mesmos sem esse álbum e nem a música eletrônica.

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5 Comments

  1. Pedro Couto
    13/05/2021

    Olá Luciano. Este foi um dos álbuns mais importantes da minha vida (e já lá vão 51 anos). Desde a capa fantástica (eu tenho o vinil de 85 e tem um papel  vegetal que torna fosca a imagem espectacular do Stephen Morris) ao som tão característico e consolidado, tudo é  bom. Na minha humilde opinião, acho que foi neste que atingiram a perfeição. O Brotherhood foi bom mas parece sem um rumo certo. O Technique já começa a mostrar uma faceta menos interessante e mais electrónica. Depois deste, estiveram sempre a fazer a mesma música, álbum após álbum. Realmente, faz falta um elemento desestabilizador como o Peter Hook.
    Parabéns pelo post. Trouxe de volta muitas e boas memórias.

  2. 14/05/2021

    Olá Pedro. Depois da minha birra inicial com o New Order por causa do Joy Division, descobrir a sonoridade do grupo a partir do Power, Corruption… até o Technique (isso por volta de 90/91), foi das coisas mais “felizes” da época. Tive todos em vinil, que froam vendidos quando fiz a transição pra comprar CD’s, inclusive devido a falta de grana. O Brotherhood realmente soa meio disforme, assim como o Technique, embora esse último tenha faixas que emocionam até hoje como “Loveless” e “Dream Attack”. E realmente, o que produziram de melhor foi nesse período. Que bom que se identificou com o texto. Seja bem vindo e fique à vontade aqui no Urge! Sinta-se em casa.

  3. Daniel Rezende
    17/05/2021

    Oi Luciano! Grande texto, só pra variar! Parabéns! O New Order foi a banda mais importante na minha formação musical, com esse quarteto de discos citados e mais o Substance. Love vigilantes, Elegia e Perfect Kiss são as minhas preferidas do Low life, mas no geral acho ele um pouco inferior aos outros, especialmente em relação ao meu favorito, Power, corruption and lies. O que eles fizeram na década de 1980 é de cair o queixo. Hoje em dia, tenho curtido muito o “patinho feio”Movement e acho que ele tem que ser reavaliado, pois tem muitos méritos não reconhecidos. O que acha dele?

  4. 17/05/2021

    Olá Daniel. Mais uma vez obrigado pelo comentário e as palavras generosas. Minha relação com o New Order ainda é um tanto estranha, de forma que o Movement é como um disco à parte dos outros. Gosto muito dele também, mas na minha cabeça ali ainda não é New Order, mas um subproduto do Joy Division e uma banda engatinhando no que pretendiam fazer. O PCAL é muito bom, só acho que ele tem umas músicas meio ainda meio experimentais, o que não é ruim, mas acho que falta maior coesão, apesar disso, “Age of Consent”,”Leave me Alone” e “Your Silent Face” são algumas das melhores coisas que o NO já fez. tem uma resenha sobre o Movement aqui: https://www.urgesite.com.br/2018/01/13/new-order-movement/

  5. Daniel Rezende
    17/05/2021

    A maior prova da qualidade estratosférica dos discos deles nos anos 1980 é o fato de que cada pessoa tem um favorito diferente! E é incrível que mesmo num momento traumático e cheio de indefinições eles tenham feito um álbum tão bom como o Movement. Na verdade, ele funciona bem como uma ponte entre o JD e o NO. Vou conferir a resenha, valeu pela indicação. Abraços!

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