Com trama intricada, ‘Sharp Objects’ mostra difícil relação entre mãe e filha


sharp-objects-hbo

Camille Preaker (Amy Adams) é uma jornalista investigativa que é obrigada pelo seu editor a retornar a sua cidade natal depois de muitos anos de ausência para a produção de uma matéria sobre o assassinato de uma adolescente em Wind Gap, sua cidade natal. O problema é que Camille, além de alcoólatra, no retorno para sua cidade terá que encarar fantasmas do passado, dentre eles Adora Preaker (Patricia Clarkson), sua mãe, que tem uma forma nada convencional de enxergar e criar as filhas. Também terá que conviver com sua meia irmã mais nova, Amma (a estreante Eliza Scanlen), com a qual nunca teve contato.

No papel de Camile, Amy Adams entrega uma atuação que deve figurar entre as melhores da TV americana. Com um semblante entristecido e sombrio, sua personagem esconde segredos que serão apresentados ao longo dos episódios. Indício destes segredos é o uso constante de roupas compridas apesar do clima quente da cidade, inclusive por causa da investigação em curso. Por meio de flashbacks sabe-se que Camille tinha uma irmã mais nova que faleceu por causas não reveladas até então.

Amma, a irmã mais nova, tem comportamentos que lembram os da própria Camille adolescente, só que mais inconsequentes. Esses comportamentos tem o intuito de ir de encontro a personalidade dominadora da mãe. Ainda sobre as atuações, interessante também a de Chris Messina (no papel de Richard Willis) como o detetive que veio de fora para liderar uma investigação que é mal vista pelos moradores da cidade. Elizabeth Perkins também se destaca como uma amiga mais velha e espécie de conselheira de Camille.

Por ser uma série de sutilezas, em Sharp Objects muitas informações são apresentadas de forma singela como pequenos detalhes. Exemplo disso é o momento em que Camille, após anos ausente, chega a casa de sua mãe e que a empregada mostra-se mais acolhedora. Emblemático também o primeiro café da manhã na casa de sua mãe. Camille pega uma maçã para comer, Adora toma-lhe a fruta. O que parece ser ser um gesto de carinho, revela-se diferente, quando a maçã é entregue para a empregada descascar. Patricia Clarkson está excelente como Adora, uma mulher dominadora, inclusive com o marido, com quem mantém uma relação no mínimo estranha. Sendo uma das moradoras mais ricas de Wind Gap, ela utiliza do poder financeiro para tentar controlar em todos a sua volta.

Sharp Objects não cria clima de tensão, pelo contrário, os três primeiros episódios tem um tom propositadamente arrastado para transmitir o sofrimento pelo qual passa a protagonista.

A parte técnica é impecável vide a construção do quarto de Camille. Cada detalhe visa transparecer uma paz não encontrada na casa de sua mãe, que por mais confortável que seja, se mostra um ambiente tóxico e geralmente escuro.

A direção precisa de Jean-Marc Vallé faz um contraponto interessante entre St. Louis (onde Camille mora) e Wind Gap (sua cidade natal). Na primeira, apesar que pouco mostrada, planos abertos amplos e claros; a imagem da claridade que adentra sua residência, mostra como um lugar de paz, aparentemente. Na segunda, que esta é obrigada a retornar contra  vontade, tudo muito diferente; o ambiente sempre quente, remetendo a um “inferno”, e com a percepção da própria Camille, como aquele ambiente se mostra bastante venenoso e responsável por problemas de sua vida.

A fotografia de tons predominantemente quentes capta o ambiente em que estão imersos os habitantes da cidade. A pequena Wind Gap e seus habitantes, cada qual com suas particularidades, é apresentada como um local que também tem sua toxicidade, fazendo o espectador sentir o odor da podridão daquele local. O questionamento é: como em uma cidade tão pequena pode ter acontecido um crime tão brutal?

Como adaptação do livro Sharp Objects (Objetos Cortantes), da escritora Gillian Flynn, nem tudo são flores na transposição para a TV. A série não explora de forma mais profunda todos os problemas pelos quais Camille passou, e que foram responsáveis por moldar sua personalidade, deixando marcas até os dias atuais. Camille tem uma relação paterna e fraterna com seu chefe e sua esposa, outro ponto explorado de forma ligeira na série. São situações que são apresentadas de forma pouco sugestivas, e que carecem de entendimento.

+++ Leia a crítica de ‘This Is Us’, da Fox

Algumas curiosidades do seriado: cada episódio começa com uma música diferente, o primeiro e o último episódio usam a mesma música de abertura, estas músicas dão a tônica dos episódios. O último episódio tem a cena de um jantar bastante tensa e muito sombria e que lembra muito uma das cenas finais de Hannibal, filme de Ridley Scott.

A primeira temporada fecha com um final aterrador e que dá brechas para uma segunda.


FICHA TÉCNICA:
Temáticas: Thriller Psicológico, Drama, Mistério
Emissora (EUA): HBO
Temporadas: 1 (série concluída)
Episódios totais: 8 (cada um com um tempo entre 55 a 61 minutos aproximadamente)
Criador da série: Marti Noxon
Produtores Executivos:Charles Layton, Marci Wiseman, Jessica Rhoades e outros
Direção: Jean-Marc Vallé
Elenco: Amy Adams, Patricia Clarkson, Chris Messina, Eliza Scanlen e outros
Censura: 18 anos
IMDB: Sharp Objects

 


Previous Com cenário pós-apocalíptico, em 'Caixa de Passáros' a visão é um inimigo
Next CANÇÕES DE 2019

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *