Se minhas críticas são escritas pela IA devo assiná-las como minhas?
Antes de qualquer coisa, convém esclarecer que não sou jornalista. Tampouco me vejo como crítico musical.
E não sei se para ser um crítico musical é preciso ser jornalista. Formei em Economia, mas não sou economista.
Gosto de música, cinema, séries, quadrinhos, etc., e às vezes uma obra me provoca um comichão para escrever a respeito – Urge!, primordialmente, é um meu veículo para isso.
Meu amor pela literatura (poesia, contos, romances) precede minha paixão pela escrita musical e sobre cultura pop. Acredito que uma está intrinsicamente ligada a outra. A primeira veio da leitura de autores como Machado de Assis, Álvares de Azevedo, Fernando Pessoa, Carlos Drummond de Andrade, Schopenhauer, Nietzsche, Buda, Camus, Sartre, Hesse e tantos outros; a segunda, essencialmente da leitura da Revista Bizz e, posteriormente a Zero, Dynamite; os fanzines, blogs e sites vieram na sequência.
Mas, basicamente, foram as resenhas da Bizz que geraram o desejo e moldaram o meu modo de “enxergar” resenhas. Sempre gostei dos textos do Fernando Naporano, Artur G. Couto Duarte, José Augusto Lemos, Alex Antunes, e até os do polêmico André Forastieri. Em todos deles é possível perceber um estilo de escrita, uma “assinatura ou estilo pessoal”, que distingue o seu texto.
E esse foi um ponto primordial que sempre tive (e ainda tenho) em mente desde que comecei a fazer resenhas: ter meu próprio estilo de escrita, algo distinguível para aqueles que lessem os meus textos. Se consegui ou tenho conseguido, só quem lê meus textos pode dizer – embora ao longo dos anos algumas mudanças aconteceram no meu modo de escrita.
Essa minha teimosia (quase um obsessão) tem seu preço, às vezes alto. A produção de uma resenha crítica demanda certo tempo de maturação da obra e da escrita: alguns de algumas horas, outros de alguns dias – falo a partir da minha experiência pessoal. E isso explica os hiatos pelos quais o site passou/passa, somado a tempo, prioridades e bloqueios.
Por não estar escrevendo num veículo comercial e por escrever mais como hobby – o que não significa que não busque certo “rigor jornalístico” -, não deveria (e nem devo!) me sentir pressionado para escrever. Mas numa sociedade ansiosa por novidades, novos textos parecem ser uma urgência…e o próprio título do site meio que parece querer impelir a tal.
Admiro a constância, mas sou senoidal.
Onde quero chegar?
Na Inteligência Artificial!
De antemão, quero deixar claro que nunca usei para qualquer das minhas resenhas críticas. Mas não vou ser hipócrita, já fiz alguns testes a título de curiosidade. Em alguns casos, achei o texto escrito pela IA melhor do que o meu. Mas eis o ponto: era o texto da IA, escrito com as palavras escolhidas pela IA, não era o meu. Não era algo escrito a partir do meu ponto de vista, da minha bagagem, da minha pesquisa e, também, das minhas limitações, ou tudo aquilo que me define como pessoa.
Saber que a maior parte dos textos que tem sido publicados atualmente na internet são produzidos por IA é algo espantoso e que nos faz pensar sobre o futuro.
Mas o meu ponto ao escrever esse texto é focar em resenha/crítica ou resenha crítica, algo que, entende-se como feita a partir do ponto de vista de quem o escreve. Se eu terceirizo essa função para a IA, qual a minha função criativa? Particularmente, me sentiria um incapaz. Da mesma forma que teria me sentido se tivesse comprado minha monografia de final de curso, como tantos outros fizeram e fazem.
Enquanto ferramenta para busca de informações principalmente, acho a IA excelente, inclusive para criação também em determinadas áreas. Para uma resenha crítica em que vou assinar meu nome (no início ou afinal), vejo como desonesto. Como pode a IA relatar minhas sensações? Dar um estilo poético ou mais racional ao texto? Como pode “me colocar” no texto?
Ela pode aprender a ser eu! Acredito que sim. Mas ela nunca será eu! Ela não terá minhas idiossincrasias e nem as minhas vicissitudes. Elas são minhas, e tão somente minhas.
Seria mais honesto para todos se as resenhas críticas indicassem quem de fato a escreveu. Poderia vir assim: Escrito por IA.
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