Editors supera estreia com ‘An End Has a Start’, seu melhor álbum


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Desconfie se alguém disser que em An End Has a Start é um segundo The Back Room (2005), ou que o quarteto Editors caiu exausto na síndrome do segundo disco, ou que não há nada de novo mais a ser visto no som da banda. Audições apressadas, expectativas exageradas podem provocar essas sensações.

Tudo de bom que o Editors mostrou em seu álbum de estreia está aqui. As referências continuam as mesmas: a divisão entre os momentos densos e os momentos mais agitados seguem presentes, mas com um pendor maior para os primeiros. Mudou pouca coisa, o suficiente para que não possam ser acusados de tentar reeditar The Back Room.

Tom Smith continua cantando grave, mas melhor, explorando outras possibilidades com seu vocal. As canções densas são muito mais intensas, algumas até arrebatadoras, e as canções dançantes estão bem mais agitadas. São esses momentos em que o álbum soa bastante parecido com seu antecessor.

Tentando reeditar os momentos de maior impacto e sucesso de The Back Room, atingido com as viciantes “Munich” e “Bullets”, o álbum apresenta algumas descendentes diretas, como a própria faixa título, a divertida e com letra instigante “Bones” (ossos famintos por carne cercando seu coração ansioso) e a poderosamente dançante “Racing Rats”, com aquela inconfundível marcação cymbal/caixa e baixo marcante.

“Smokers Outside The Hospital Doors” é a canção em que a banda chega mais perto de receber o rótulo de pop, se aproximam do Coldplay, principalmente no tom épico do refrão. A letra tem versos pesados e lidam com o tema da morte, comum ao longo do disco: “Diga adeus à todos que você sempre conheceu, você não irá vê-los outra vez”.

O tom de despedida prossegue na intensidade dramática de “The Weight of the World”, que tem uma linha de baixo profunda. Tom Smith canta, mais uma vez, sobre a morte: “Mantenha a luz nas coisas que você ama, elas estarão lá quando você morrer”. Sobre os temas tratados nas letras, Smith afirma que “Há muitas mortes no álbum, isso parece muito mórbido, mas é a verdade. A morte tocou a mim e aos meus amigos no último ano de várias maneiras”.

Alguns poderão até acusar a banda de cair em sentimentalismos, mas não há como negar a beleza da canção, um dos pontos altos do álbum, principalmente no momento em que a faixa cresce nos versos: “Você toca meu rosto marcado por esporas? No meu ouvido. Há lágrimas em meus olhos. O amor substitui o medo”. Essa é de longe das canções mais marcantes já compostas pelo Editors junto com “When Anger Shows” e “Put Your Head Towards The Air”, que somadas constituem, com certeza, a mais bela trinca de canções já composta por eles e que se ouvidas em sequência pode levar a uma enorme onda nostálgica, àquela indefinível sensação de alegria triste.

“Put Your Head Towards The Air” é uma escancarada declaração de amor, alternando entre placidez e uma fúria explosiva emanada dos riffs gritantes de guitarra de Chris Urbanowicz. Na letra, Smith pede a uma garota para não se afogar em lágrimas, pois sempre estará lá.

Há poucas variações de timbres de guitarra, sempre dispostas a uma profusão incessante de riffs, em alguns momentos em torrentes. Apesar disso, como conjunto, todo álbum soa bastante coeso. Impossível passar despercebida a presença bem maior do piano nos arranjos. Dispostos a explorar novos terrenos, que pode vir a se tornar mais enfático nos próximos trabalhos da banda, o Editors arrisca o uso de uma viola na introdução de “Spiders”, outro momento luminoso do álbum, ou nos vocais à capela da linda “Well Worn Hand”.

+++ Leia a crítica de ‘The Weight of Your Love’, do Editors

Se a tal síndrome do segundo álbum é um fantasma a rondar nove entre dez bandas, este parece ter passado longe do Editors, porque An End has a Start é um álbum que põe por terra quaisquer dúvidas que possam ter surgido quanto ao futuro da banda após o seu disco de estreia.

Texto escrito em 2009 e originalmente publicado no site Muzplay e, posteriormente no Lovenomore. O texto sofreu alterações em relação ao original.

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2007
GRAVADORA: Kitchenware
FAIXAS: 10
DURAÇÃO: 44:40 min
PRODUTOR: Jacknife Lee
DESTAQUES: “The Weight of the World”, “When Anger Shows” e “Put Your Head Towards The Air”, “Spiders”
PARA FÃS DE: Pós-Punk, Interpol

 

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