Wry muda enfoque e traz mensagem otimista em ‘Aurora’


Wry em Sem medo de Mudar, Foto de Ana Erica
Foto | Ana Erica

Desde She Science, álbum de 2009, o Wry já flertava com a língua materna em suas letras. Havia ali “Lábios Trêmulos”, “Beatriz”, “Dois Corações e o Sol”, “Longitude” e “Luzes (Godspeed)”; cinco de um total de onze faixas cantadas em português. Estava lançada a semente. Noites Infinitas – o retorno discográfico pós-hiato, em 2020 – seguiu o fluxo do seu antecessor, com o inglês e o português novamente dividindo as letras quase na mesma proporção.

Aurora, oitavo e mais recente disco de inéditas do grupo, já surge marcante por ser o disco em que o Wry, pela primeira vez na carreira, apresenta um repertório completo de canções cantadas unicamente em português, completando assim o processo de transição(?) iniciado lá atrás. E esse é apenas um ponto de curiosidade do novo trabalho do grupo.

À medida que divulgavam os detalhes do novo trabalho, do material gráfico até do título do disco, passando pelos singles, já era possível notar um novo enfoque, não exatamente uma mudança. A alternância na ênfase nas referências de primeiro plano, pois não tem como dizer que o Wry mudou, o Indie-Rock, o Shoegaze e o Pós-Punk sempre foram presença na música do grupo, que também flertou na década de 10 com elementos eletrônicos pontuais.

Esse “novo enfoque” evidenciado em faixas como “Sem Medo de Mudar” e “Contramão”, somado a declarações da própria banda, sugeriam que o Pós-Punk seria a tônica em Aurora. Não deixa de ser verdade que os elementos Pós-Punk estão presentes ao longo do disco de forma mais patente, e que as escolhas visuais priorizando o preto-e-branco, inclusive na bela capa do disco, acentuam esse lado. Mas paremos aí!

Menos para as distorções e mais para as texturas, os dedilhados e os sintetizadores de fundo, Aurora liricamente começa de onde Noites Infinitas parou, falando de mudanças. Lá era a dúvida: “Será que agora é hora de mudar?” (“Desculpe-me Por Ser Assim”); aqui é a certeza e o destemor: “Estou lutando / Sem Medo de Mudar” (Sem Medo de Mudar), num diálogo insinuante entre as duas guitarras recortando todo o arranjo, conduzido pela linha profunda do baixo e batidas secas e diretas. A verdade é que o que o Wry mais faz musicalmente é agregar, seja nos elementos do Krautrock de “Carta às Moscas”, onde o vocal segue o estilo spoken word, ou “Universo Jogador”; ou ainda no groove de Reggae de “Labirinto Mental”, referência que o grupo já havia usado no álbum anterior; e Ska em “Vivendo no Espelho”.

Em Aurora, trabalho de timbres e efeitos, junto com uma abertura para ritmos e elementos musicais diversos, adicionam um leque de possibilidades para um novo salto na música do grupo.

Os riffs, ritmo efusivo e camadas de teclados profundas de “Temos um Inimigo” constrói um arranjo de tons para cima com uma letra das mais políticas já compostas pela banda: “Temos um inimigo com nome e sobrenome / Temos um inimigo Oh Oh / Não há mentiras pouca por aí / Sei que estou do lado honesto da história”.

Mario Bross mantém a escrita mais direta e de veia politizada, são frases cortantes meio a sentimentos mais voltados para o eu lírico, dentre eles desconexão, apreensão e perplexidade, mas com disposição para correr riscos apesar das incertezas.

Se em  2020 Mario cantava que “Morreu a Esperança”, 2022 apesar dos temas se debruçarem sobre um contexto social ainda complicado e tenso, a banda sinaliza mais para o otimismo. A arte da capa e o título do álbum são sinais bem fortes disso. A polaroide do Wry segue fotografando o “espírito do tempo”.

+++ Leia a critica do álbum ‘Reviver”, do Wry

Sair da insônia de “Noites Infinitas” para a claridade de “Aurora” – sem esquecer de “Reviver (2021) – é um alívio e tanto. A desesperança de outrora cede lugar ao otimismo da aurora. O Wry segue conectado com seu tempo e sendo aquela banda que conhecemos a partir de 2020.


Capa de Aurora, do Wry

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

LANÇAMENTO: 11 de novembro de 2022
GRAVADORA: Before Sunrise Records
FAIXAS: 11
TEMPO: 34:55 minutos
PRODUTOR: Mario Bross e João Antunes
DESTAQUES:  “Sem Medo de Mudar”, “Contramão”, “Carta às Moscas”, “Universo Jogador”
PARA QUEM CURTE: Indie-Rock, Rock Alternativo, Rock Nacional, Wry

 

 



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