A história de Kim Gordon, um ícone do Rock Alternativo


Foto de Kim Gordon ao vivo

O Sonic Youth foi uma banda revolucionária de Rock experimental, que durou de 1981 a 2011, e que tinha como membros Kim Gordon (baixo, guitarra, vocais), seu marido Thurston Moore (guitarra e vocais), Lee Ranaldo (guitarra e vocais) e Steve Shelley (bateria). Durante esses 30 anos, a banda de Nova York produziu clássicos do Rock Alternativo, influenciou inúmeros artistas e chegou ao topo do universo Indie (especialmente no início da década de 1990, quando assinaram com a gravadora Geffen).

Como bem observado pelo jornalista Matthew Stearns, que escreveu um livro sobre o maior disco da banda (Daydream Nation), o som do grupo é intimidante e chega a causar medo. As afinações excêntricas das guitarras, a temática niilista e os barulhos ensurdecedores foram uma influência marcante no Indie, Grunge e toda sonoridade alternativa. No entanto, por trás de toda essa experimentação, é possível descobrir riffs majestosos e melodias inebriantes, o que faz a banda não ser apenas um experimento inacessível, mas sim um catalisador do Rock´n´Roll tradicional, impregnado de “espírito punk” e das pretensões do Rock Progressivo e de vanguarda (contradições marcantes, mas que sempre foram bem resolvidas por eles).

A voz desafiadora e perturbada de Kim Gordon sempre foi uma das marcas registradas da banda, bem como suas letras de temática feminista. Vinda de Los Angeles para Nova York, Gordon se identificava com arte de vanguarda e não pensava em música como uma alternativa de carreira. Porém, logo se encantou com as possibilidades de experimentação e com a energia das bandas inglesas e americanas do Punk e do Pós-Punk, e mergulhou de cabeça nesse universo, adotando um estilo visceral e intimidador.

Foto de Kim Gordon para resenha de No Home Records

Após o fim do grupo (decorrente do divórcio traumático de Gordon e Moore), ela se envolveu em vários projetos artísticos nos campos da música, moda e artes visuais. Sua autobiografia (A Garota da Banda, 2015) aborda o estranhamento causado por sua presença no palco e todos os desafios que teve que superar no mundo machista e misógino da indústria musical.

Alguns trechos do livro ilustram bem esses desafios: “Como nossa música pode ser estranha e dissonante, minha presença no centro do palco também torna muito mais fácil vender a banda. Olha, é uma menina, ela está usando um vestido, e ela está com esses caras, então deve estar tudo bem.”

Em 2019, Gordon lançou seu primeiro disco solo (No Home Record), uma eclética coleção experimental que mistura efeitos eletrônicos e guitarras abrasivas, e que impressiona pelo vigor e energia.

Entre as grandes músicas escritas e cantadas por ela, algumas merecem destaque:

“Pacific Coast Highway” (Sister, 1987): Ritmo lento, vocais sinistros e um convite para um passeio macabro, narrado na perspectiva do algoz: “Venha, entre no carro/ Vamos sair para um passeio/ Não vou te machucar/ Tanto quanto você me machucou…”

“Kissability” (Daydream Nation, 1988): Um dos pontos altos do melhor álbum do grupo, a letra aborda o assédio sexual no show business quase trinta anos antes da explosão do movimento Me Too. A narrativa é contada do ponto de vista do assediador nojento: “Olhe nos meus olhos/ Você não confia em mim?/ Você é tão boa, poderia ir longe/ Eu te colocarei num filme, você não quer?/ Você poderia se tornar uma estrela…)

“Swimsuit Issue” (Dirty, 1992): Violenta e raivosa, também aborda o assédio sexual no mundo do trabalho: “Não toque meu seio/ Estou só trabalhando na minha mesa/ Não me ponha à prova/ Estou só fazendo o meu melhor”

“Shoot” (Dirty, 1992): Uma narrativa contundente sobre uma mulher (provavelmente grávida) que tenta se libertar de um relacionamento abusivo. A música culmina com um tiro, e não sabemos quem foi o agressor: a mulher ou seu companheiro? A alternância entre doçura e firmeza na forma que a mulher pede ao marido que lhe dê dinheiro e a chave do carro (para que ela vá embora) é conduzida de forma magistral por Gordon.

“Little Trouble Girl” (Washing Machine, 1995): Melodia infantil e letra que retrata uma menina problemática, que se dirige à mãe abordando sua incapacidade de ser o que ela espera: “Se você quer/ Eu serei uma pessoa/ Que é sempre boa/ E você vai me amar também/ Mas você nunca vai saber/ O que sinto por dentro/Que sou mesmo má/ Pequena garota problemática”.

TEXTO PUBLICADO ORIGINALMENTE EM: www.rockfeminino.com.br

PARA CONHECER MAIS

♦ A Garota da Banda: Uma Autobiografia, de Kim Gordon. Editora Fábrica 231.

♦ Daydream Nation, de Matthew Stearns, coleção “O Livro do Disco”. Editora Cobogó

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