July Skies oferece beleza, placidez e melancolia em The Weather Clock


July Skies, band

O pequeno e obscuro selo independente inglês Make Mine Music (2002-2012) merece uma matéria à parte, fundado em 2002 por Scott Sinfield (Portal) e Jon Attwood (Yellow6), foi durante dez anos uma espécie de cooperativa – com uma proposta de igualdade entre os grupos que dele participam – e reduto de bandas tão interessantes quanto desconhecidas. Em sua maioria grupos em que as composições são repletas de texturas e ambientações. Alguns dos nomes que lançaram seus trabalhos por lá e merecem ser conferidos com urgência: Piano Magic, Yellow6, Still Crescent, Epic45, Avrocar, Portal e July Skies.

Os July Skies se mostraram pela primeira vez em 1997, com o EP At The Height of Summer, por obra do guitarrista e vocalista Antony Harding (Avrocar), seguindo-se mais dois álbuns de inéditas e a compilação Where The Days Go, em 2006, todos emoldurados por fotos bonitas e marcantes.

Em The Weather Clock mantém-se o padrão. Sua capa é uma foto campestre antagônica: dividida entre o plúmbeo do céu que encobre a casa e domina o horizonte, e o colorido da água do lago – cercado pelo verdejante gramado -, que reflete um céu azul, como um alerta de que nem sempre a imagem refletida corresponde ao que reflete. Deparar-se com uma foto como esta é sentir-se tentado a descobrir os segredos que se escondem nessa casa, nesse lago, nesse céu de julho.

Fascinado pela história, em especial pela Segunda Guerra Mundial, pela arquitetura, pela arte e geografia britânica e, principalmente, pelo passado, Antony busca aí a inspiração para suas composições. Serenidade e beleza são adjetivos que podem ser usados para referir-se a suas canções, todas envoltas numa aura de nostalgia cortante, requerendo do ouvinte total absorção, total silêncio. Música intimista.

Sobre o processo de composição das músicas ou como elas surgem, o músico diz não saber ao certo: “A maioria das canções, no que diz respeito aos acordes e notas, não são planejadas, elas apenas acontecem de alguma forma através do foco no passado, sendo inspiradas por visitas a lugares geográficos ou pela literatura clássica britânica do século 20, poesia, fotografia, arte em geral”.

As atmosferas são lentas e envolventes, seja no ajuntamento de acordes com timbres etéreos ou na progressão melódica das notas do piano.

A maior parte são instrumentais, e quando Antony resolve cantar é de forma tímida circundado por um eco que preenche o ambiente cheio de solidão. É o tipo de álbum que parece encerrar um conceito, que exige sua audição na totalidade e na sequência em que foram dispostas a faixas para que o efeito seja mais intenso.

Há também algo de cinematográfico na música do July Skies, algo como aquela cena em que o anjo Damiel observa uma Berlim cinzenta, do alto de uma enorme estátua, enquanto divaga sobre os sentimentos humanos, no inesquecível Asas do Desejo, de Win Wenders.

+++ Leia a crítica de ‘Sun Memory’, do Epic45

The Weather Clock serve como trilha sonora ideal quando o que mais se deseja são instantes de sossego e esquecimento. Música de fundo para observar a passagem das nuvens pelo céu, ou do dia para a noite, enquanto recordações de infância dominam os pensamentos, ou para evocar imagens que tragam conforto e tranquilidade. Uma dimensão de beleza, placidez e melancolia.


O ÁLBUM ‘THE WEATHER CLOCK’, DO JULY SKIES

O VIDEOCLIPE DE “ONE MORNING IN MAY”

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