Álbum solo de Beto Cupertino, ‘Tudo Arbitrário’ brilha com letras inteligentes


Beto Cupertino - Tudo Arbitrário

Quantas vezes você já não se decepcionou com algo que um amigo compartilhou ou curtiu, ou um comentário que fez em rede social? Quantas vezes você se perguntou se aquela pessoa da rede social é a mesma que você conhece no mundo real? Quantas vezes você pensou que conhecia a aparência e desconhecia a essência de alguém após ver seus posicionamentos nas redes sociais? Quantas amizades já não foram desfeitas por causa de redes sociais?

Essa dualidade ou percepção de que na verdade não conhecemos as pessoas está em “Memes”, faixa que abre o primeiro álbum solo de Beto Cupertino, ex-vocalista de banda goiana Violins: “A necessidade de opinar separou a gente enfim ou sempre estivemos distantes? Quem pensei admirar se revelou um juvenil, um meme pra gente rolar de rir ou lamentar”. Na mesma letra a sensação de impotência: “Escolho não contestar, não contradizer, quando sei que não vale a pena”.

Observador, provocador e crítico contumaz das relações de todos os tipos que são erigidas em uma sociedade, Beto continua um letrista afiado e afinado com o seu tempo, com letras que por um lado acenam para a veia poética e por outro são como agulhas a espetar o ouvinte com temas tão comuns mas pouco explorados em letras de canções.

“Tudo Arbitrário” em seu título já explicita a sua visão sobre a situação atual que nossa sociedade e também o mundo atravessa, onde atitudes, posicionamentos, seguem pelo caminho da arbitrariedade.

Embora não se pretenda um álbum conceitual, a ideia de totalidade se faz presente no título de três canções: “Tudo Arbitrário”, “Todas as Coisas” e “Todo Conteúdo”, com a intolerância sendo um tema que está presente em todas, mas de forma mais explícita em “Todo Conteúdo”: ” Pra me fazer ouvir eu tive que alterar voz… Tudo que lhe veste bem um dia vai constranger aqui… Melhor dizer assim bem calmo que vou já, melhor perder assim sem alma que lutar”.

Beto tem um estilo de escrever que varia entre discorrer sobre um tema ou abarcar numa mesma letra ideias diversas, o que pode dar a sensação de uma diluição de ideias, mas o que faz é dar vazão a um fluxo de ideias que se ajuntam e no fim criam um texto que faz todo sentido, qualquer que seja a direção escolhida. “Alarde” faz o alerta para se tomar cuidado com julgamentos apressados: “Sabe quem veio aqui me ver e se apresentou meio baixinho, a farsa que armam pra prender mas a gente vê como um fascínio”; e “Solidão” apresenta sua visão sobre o sentimento: “Solidão é um nome que inventaram pra te convencer que não basta ser humano, é preciso sempre pertencer”.

Produzido por Smooth, “Tudo Arbitrário” em suas oito faixas soa bastante uniforme, se isso lhe dá coesão da primeira até a última faixa, acaba por torná-lo um tanto linear, pelo uso recorrente da combinação mezzo melodia mezzo distorção em quase todos os arranjos. Um elemento aqui e outro ali para dar uma variada, como os teclados climáticos em “Meme” e “Solidão é um Nome”, das melhores do disco, com poderosas guitarras escalando as alturas. “A Suspensão do Juízo” é a única que foge dessa fórmula melodia/distorção, focando numa base ao piano.

+++ Na coluna CLÁSSICOS, leia sobre ‘Supercarioca’, do Picassos Falsos

Apesar dessa sensação de linearidade, é agradável perceber como Beto dá vida própria a cada uma de suas canções com seus versos sempre precisos/necessários, compondo um trabalho que tanto vai agradar aos seus antigos fãs como pode lhe trazer alguns novos. No quesito letras, talvez o melhor lançado no rock nacional em 2017.

PS: Coincidência ou não, a capa lembrou a do álbum ‘Dying’, da banda Spectres.

Beto Cupertino - Tudo Arbitrário

Beto Cupertino - Tudo Arbitrário

FAIXAS:
01. Memes
02. Todas as Coisas
03. Casa da Fazenda
04. Solidão é Um Nome
05. Todo Conteúdo
06. Alarde
07. Tudo Arbitrário
08. A Suspensão do Juízo

 

 

 

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