‘This is Canoas, Not Poa’ é mais que um documentário sobre a cena musical da cidade


Poster do documentário This is Canoas, Not Poá

Dirigido por Wender Zanon, que viveu de perto parte da cena da cidade, This is Canoas, Not Poa é um documentário imperdível. O longa busca ao largo de aproximadamente duas horas, através de várias entrevistas e extenso material de arquivo (fotos, vídeos), resgatar a cena alternativa da cidade ao num período de quatro décadas, com ênfase no Rock e derivados: Punk, Hardcore, Metal, Pós-Punk e outros.

O filme foi produzido durante a pandemia com recursos do Governo Federal através da Lei 14.017/2020 (Lei Aldir Blanc), administrados pela Prefeitura da cidade de Canoas. A produção teve início em agosto de 2020 e foram entrevistadas cerca de sessenta pessoas no espaço de trinta dias.

São muitas e muitas histórias contadas por músicos, produtores, donos de estúdio, loja de discos, bares, algumas recheadas de comicidade trágica, como o episódio em que a banda Cachorro Grande destruiu o espaço em que as bandas locais se apresentavam e depois teve que sair protegida da fúria do público. Ou sobre o Gullys/Bate-Bate, espaço que funcionava para shows de Rock num dia a Pagode no outro.

É difícil quem mora em cidades próximas ou longe dos grandes centros urbanos não se identificar com os relatos de dificuldades enfrentados pelas bandas para ensaiar e tocar. Gravar então era coisa de outro mundo.

Um dos pontos bastante interessantes é que a trilha sonora é toda composta por músicas das bandas locais. Buscando dar maior abrangência possível, o filme de Zanon acompanha a cena de Canoas desde o início da década de 80 até os dias atuais.

Já em seus minutos iniciais, a cidade é descrita das mais variadas formas pelos entrevistados: “Uma cidade underground”, “A capital do xis”, “Grande que se comporta como pequena”, e uma que resume muitas outras mundo afora: “Canoas é um lugar abençoado por ser próxima de Porto Alegre e amaldiçoada por ser próxima de Porto Alegre”. Ou seja, a influência da capital acaba criando uma contradição nas cidades vizinhas.

E por que o título This is Canoas, Not Poa? Em entrevista, o diretor explicou: “A inspiração é da coletânea “This is Boston, Not L.A” que foi lançada em 82. Eu fazia uns shows na cidade com o Coletivo B.I.L e quando sai do coletivo e comecei a produzir meus próprios eventos precisava pensar em nomes, e aí fiz uma série de shows com esse nome “This is Canoas, not POA”. Quando comecei a trabalhar na ideia do filme resolvi aproveitar que já tinha esse nome e que fazia também sentindo se virasse um filme”.

+++ The Velvet Underground, de Todd Haynes, é registro abrangente

Mais que um documentário musical, o filme é um registro antropológico, sociológico e cultural que ajuda a entender a realidade de jovens em cidades periféricas e com escassas opções de lazer e cultura. É também um exemplo de como, diante das dificuldades, as pessoas podem se “unir” em busca de um objetivo comum, um sonho comum.

Nesse sentido, há bastante nostalgia em muitos relatos, e não tinha como ser diferente. Voltar ao passado e resgatar memórias de uma época que apesar de difícil tinha suas recompensas e diversão, acaba gerando esse sentimento um tanto melancólico. É como uma frase clássica de Clemente (Inocentes): “Eu era feliz quando era triste”.

LINKS RELACIONADOS:

+++ Página do DOC no Youtube com Playlist das canções e partes que ficaram de fora
+++ Entrevista de Wender Zanon no site Organpazan
+++ Entrevista de Wender Zanon no Scream & Yell


 

Previous PARABÓLICA #18 | Singles, o canal do The House of Love e o documentário do A-Ha
Next O Come está de volta, em Peel Sessions

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *