The Police: O Pop, a World Music e o Jazz no derradeiro ‘Synchronicity’



Último álbum de estúdio do trio inglês, Synchronicity (1983), embora não seja considerado o seu melhor, é o que alcança maior sucesso comercial. É também um álbum cercado de curiosidades, só para citar algumas: as sessões de gravação do instrumento de cada integrante aconteceu em compartimentos diferentes do estúdio; desbancou Thriller, de Michael Jackson, das paradas americanas; é o primeiro álbum da banda com intervalo de dois anos; e Sting estava influenciado pelo livro Synchronicity: An Acausal Connecting Principle, de Carl Jung, que serviu de inspiração para o título do álbum e de duas faixas.

Musicalmente, o grupo prossegue a mudança iniciada no álbum anterior, Ghost in the Machine, mas agora enveredando por um a caminho mais pop, com direito a elementos de World Music, Jazz, tendo o Reggae e a New Wave, marcas registradas do trio, francamente sido diluídas. Sobre as composições, mantêm-se a rotina, a maior parte das canções são de autoria de Sting, com a concessão de uma canção para Copeland (Miss Gradenko) e outra para Summers (Mother).

Outra curiosidade a ser acrescentada ao álbum é que é dele a canção de maior sucesso da banda, a balada “Every Breath You Take”, que segundo Summers teria sido composta em questão de minutos e, nas palavras de Sting, não é uma canção romântica como muitos pensam. Carro chefe do disco, a canção foi lançada como o primeiro single do álbum e bateu nas paradas inglesa e americana, angariando para o grupo mais alguns prêmios, como o Grammy de melhor canção daquele ano. É uma canção tão emblemática na carreira da banda que até mesmo quem não conhece o trabalho do grupo sabe que a canção é deles, além de até hoje tocar nas rádios.

A abertura desse álbum final do Police é vigorosa com a energética “Synchronicity I”, repleta de sintetizadores e os vocais de Sting dobrados. A bateria de Copeland segue uma incomum linha reta, mas com uma pegada poderosa, e Summers, com sua guitarra discreta, mais uma vez dá um show mesmo encoberto pelos synths. A climática “Walking in Your Footsteps”, com letra falando de dinossauros, assusta os desavisados com seus elementos de World-Music. Chama a atenção o trabalho de texturas de guitarra, simples mas eficiente, comprovando mais uma vez a versatilidade de Summers.

É um álbum de letras menos politizadas que seu antecessor. Sting resolve então se queixar a Deus em “Oh God”, canção de base simples, guiada pela linha de baixo dançante, que finaliza com um sax endiabrado. “Mother”, com autoria e vocal de Summers, é uma das canções mais estranhas e esquizofrênicas (letra e música) já compostas pela banda, chega a destoar do resto do álbum. Faz pensar se estaria o Police influenciado pelos momentos mais alucinados do Pink Floyd. “Miss Gradenko”, de autoria de Copeland, é das canções mais fracas do álbum, nem os toques de jazzísticos a salvam. E aí temos a confirmação da força maior de Sting como compositor ante os outros dois.

“Synchronicity II” é das melhores faixas do disco, eclipsada pela emblemática trinca formada pela famosíssima (e já citada) “Every Breath You Take”, e sua linha de baixo pulsante (com a bateria mais simples já tocada por Copeland), a dolorosa “King of Pain” (em que Sting canta que sempre será o rei da dor), e a também jazzística “Wrapped Around Your Fingers”, todas lançadas como singles de enorme sucesso. “Tea in the Sahara”, um Reggae com toques de Jazz, fecha o álbum falando de três irmãs que são deixadas no deserto para morrerem. A voz de Sting é cristalina, teclados climáticos permeiam o arranjo e Summers, irrepreensível, mostra que estava em um ótimo momento criativo, fazendo o seu melhor trabalho de guitarras em toda a carreira da banda.

Na versão lançada em CD o álbum termina com “Murder by Numbers”, um Jazz classudo, mas que pouco aumenta ou diminui a grandeza de Synchronicity.

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Após a turnê para promover o álbum, que incluía várias datas nos EUA, a banda se dissolveu de forma não oficial, com cada integrante indo tocar seus projetos solo: Sting trabalhando como ator e tocando uma carreira, além de se envolver em causas ambientalistas; Copeland compondo trilhas sonoras para diversos filmes; e Summers também seguindo adiante com sua carreira e participando de trilhas de filmes. O impacto causado por cada um em separado, jamais chegou a alcançar o patamar quando juntos.

FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 17 de junho de 1983
GRAVADORA: A & M
FAIXAS: 10
DURAÇÃO: 44:30
PRODUTOR: The Police, Hugh Padgham
DESTAQUES: “Synchronicity I”, “Every Breath You Take”, “King of Pain”, “Wrapped Around Your Finger”
PARA FÃS DE: World Music, Pop Rock, Sting

 

 

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