Convencional, ‘Present Tense’ não abandona o lado percussivo do Wild Beasts



Logo que saiu o clip oficial de ‘Wanderlust’, primeira canção de trabalho de “Present Tense”, novo álbum dos ingleses do Wild Beasts, percebeu-se que a tendência era que a banda seguiria pelos caminhos iniciados três anos antes em “Smother”, com a predominância de elementos eletrônicos como base para as canções e arranjos mais retos e repetitivos, e o fim dos histrionismos vocais característicos que marcaram tanto seu surpreendente primeiro álbum (Limbo Panto), quanto o excelente segundo (Two Dancers).

A transição, se é que ela virá a acontecer mais adiante, não torna-se definitiva, e em seu quarto trabalho a banda de Kendal, apesar de aprofundar-se em sua pesquisa pelo mundo dos sintetizadores retrôs, com uma visita especial à frieza eletrônica dos anos 70, não abandona o seu lado percussivo, apresentando ainda canções com os conhecidos dedilhados e riffs reverberantes de guitarra, apesar do formato mais convencional.

Apesar da dicotomia, pode-se afirmar que o novo álbum está para o seu antecessor, como ‘Two Dancers’ estava para o seu, ‘Limbo Panto’. Soa como um prosseguimento das ideias que foram a base para ‘Smother’, mas com argumentos mais elaborados, concluindo com um álbum mais lapidado, com maior domínio das fronteiras musicais nas quais se propuseram a trabalhar.

“Present Tense” é equilibrado, inclusive com uma divisão nas canções cantadas por Hayden Thorpe e Tom Fleming, embora seja perceptível dois lados distintos, sendo o segundo de cadência mais lenta e melancólica, iniciando-se após ‘Simple Beautiful Truth’. Pode-se inclusive abrir um parêntese para falar da maneira como os vocalistas preferem cantar, com a escolha pelo modo suave, em muitos momentos quase ‘à capela’ vide as faixas ‘Pregnant Pause’ ou ‘Dog’s Life’.

A sensação geral que escorre do disco, seja em termos sonoros ou de letras, é de uma obra intimista, de tons soturnos, reforçado pelas camadas densas de teclado que recobrem diversas faixas, seja já em ‘Wanderlust’, faixa que abre o disco, em ‘Palace’, que o encerra. Apesar de por vários momentos essa densidade esteja lá pra dar um toque sombrio ao arranjo, como também em ‘Nature Boy ‘ou ‘Daughter’.

Não é um disco de audição fácil, seja para os fãs que os acompanham desde o início da carreira ou para os que pegaram o bonde andando. As mudanças sonoras, que poderiam ter como objetivo tornar a música do grupo mais acessível, na verdade em nada favorecem isso.

O Wild Beasts continua sendo uma banda deslocada dentro do cenário musical atual, não fazendo questão de se filiar a qualquer tendência contemporânea, talvez pretendendo criar a sua própria para, logo em seguida, deixa-la de lado, tão logo percebam que começam a se tornar habituais e imitados.


FAIXAS:
01. Wanderlust
02. Nature Boy
03. Mecca
04. Sweet Spot
05. Daughters
06. Pregnant Pause
07. A Simple Beautiful Truth
08. A Dog’s Life
09. Past Perfect
10. New Life
11. Palace

 


Previous 'Fables of the Reconstruction' o subestimado disco de transição do R.E.M.
Next 'True Detective' traz narrativa dos tempos dos grandes filmes policiais

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *