Álbum de estreia da Banda de Joseph Tourton é um caldeirão saboroso de referências



No início dos anos 90 surgiram bandas como Mogwai, Tortoise, Trans Am, Explosions in the Sky, dentre outras, fazendo música instrumental, privilegiando tanto a diversidade de timbres quanto as longas repetições dentro de uma mesma canção, além de variações de andamento (ora lento e tranquilo, ora barulhento e caótico), mais a incorporação de elementos do jazz e da música eletrônica, com doses de experimentalismos.

Surgia o post-rock, gênero que abarcava bandas com as mais diferentes propostas sonoras, mas em geral seguindo pelo caminho instrumental, tentando fugir do formato convencional da música pop com verso/refrão.

Anos depois viria a surgir em Recife A Banda de Joseph Tourton, formada por jovens na faixa dos vinte e poucos anos, mas fazendo música adulta, com muita maturidade. Influenciados tanto pela agitada cena musical local, com os ecos de do mangue-beat ainda reverberando, quanto pelo citado post rock, os rapazes da Banda de Joseph Tourton buscaram (e conseguiram) unir Recife a Londres, e Nova Iorque.

Em seu primeiro álbum, jogam no mesmo caldeirão MPB, reggae, frevo, jazz, rock psicodélico, música erudita, hip-hop, dub, numa mistura de influências e referências que se diluem e dão vida a uma música ora pulsante ora contemplativa, com temas que sugerem a criação de histórias imaginárias. Em vários momentos são perceptíveis similaridades com os paulistanos da banda, também instrumental, Hurtmold.

Chama a atenção a nesse seu primeiro disco a diversidade de timbres presentes em cada música, as várias mudanças de andamentos e as idas e vindas de elementos os mais variados a todo instante, tudo em prol da dinâmica, qualidade imprescindível em temas instrumentais.

Aí entram escaleta, flauta, e sintetizadores. Mais participações especiais que acrescentam piano e metais. Somando-se a tudo isso, a produção e mixagem corretíssimas que consegue extrair o melhor de cada instrumento sem tirar o brilho de nenhum, mas fazendo cada um tem seu momento de apoteose.

Num olhar mais atento percebe-se que a música da banda se sustenta na cozinha de Pedro 
Bandeira
(bateria) 
e 
Rafael
 Gadelha
(baixo), que segura as bases para que as guitarras de Diogo Guedes e Gabriel Izidoro construam sua trama de riffs e dedilhados envoltos em delay, wah-wah, phaser e distorções.

É possível encontrar já na abertura do álbum um belo cartão de visitas ao universo da Joseph Tourton, “16 Minutos” tem a mudança da calmaria quase bucólica para as explosões de guitarra a la Mogwai, mais o toque do frevo, e ainda um leve acento psicodélico. Já em “Lembra o Quê?” constroem uma mistura radical de bossa com samba entrecortada por riffs explosivos de guitarras que inadvertidamente subvertem toda a ordem., e “O Triunfo de Salomão” é um passeio por mudanças de ritmo, riffs diversos e uma cozinha pulsante que induz obrigatoriamente ao balanço. E essa é a tônica de todo o disco, que mostra uma profusão de ideias bem condensadas em dez canções que remetem a um passeio por algumas décadas de música numa viajem repleta de prazeres.

NOTA: 8,5


FAIXAS:
01.16 Minutos”
02.Lembra o Quê?
03.Aquaplanagem”
04.100 M
05.O Triunfo de Salomão
06.A Festa de Isaac
07.Provolone
08.#3
09.Volta-Seca
10.After Work Ganja

 


 

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