Poderia ter sido em outra rua de Recife, mas calhou de ser na Rua Joseph Tourton que Pedro Bandeira (bateria), Rafael Gadelha (baixo), Gabriel Izidoro (guitarra, flauta, escaleta) e Diogo Guedes (guitarra, teclados) ensaiavam numa banda ainda sem nome. Por que encasquetar com um nome pra banda? Por que não A Banda de Joseph Tourton? Sim, A Banda de Joseph Tourton.
Em setembro de 2008 a banda fez seu primeiro show e daí em diante uma sequência natural, com o lançamento de seu homônimo primeiro EP e, em 2010, do surpreendente primeiro álbum, que rendeu elogios em diversos sites de música e também das revistas Rolling Stones e da Folha de São Paulo. A boa recepção da música instrumental do quarteto levou a banda a aparições na TV, e tocar em lugares variados do país, incluindo uma turnê com a banda argentina Falsos Conejos, definida como “uma experiência pra vida”.
Em 2012 a banda iniciou as sessões para a gravação do segundo álbum e continuou fazendo shows esporádicos e tocando projetos paralelos, ao tempo que mudanças geográficas iam afastando seus componentes, mas não a banda: “Ficamos um pouco fora dos holofotes mas não paramos de trabalhar na banda em nenhum momento, sempre no nosso ritmo”. Vários anúncios de que o segundo álbum seria finalmente lançado, mas que acabou não acontecendo. O vislumbre maior veio então em 2016, quando apresentaram o single “TCB”. Mas não seria ainda naquele ano.
Um salto para 2018 e a banda anuncia nas redes sociais que o novo álbum, sem um nome definido – logo podendo ser chamado de “A Banda de Joseph Tourton 2018”, “2018” ou “2” -, será lançado de forma independente no dia 31/05, ao tempo que soltam um vídeo curto (43 s) que chamam de spoiler, onde aparecem trechos curtíssimos de cada uma das canções que compõem o disco.
O que esperar desse novo disco após esse longo hiato? É o que tentamos desvendar na entrevista que enviamos para a banda por e-mail, e que vocês acompanham abaixo:
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Vocês lançaram o primeiro álbum e 2010, fizeram uma série de shows em seguida e, após essa maratona, um hiato de alguns anos. Por onde andou a Joseph Tourton nesse hiato?
R: Durante esse tempo nos dedicamos aos nosso projetos pessoais. A maioria dos integrantes se mudou para outras cidades, apenas o baixista Rafael Laga ficou morando em Recife enquanto Gabriel e Pedro se mudaram para São Paulo e Diogo para o Rio de Janeiro. Durante esse tempo fizemos outros discos com outras bandas e outros trampos paralelos.
O fato de terem conseguido patrocínio da Petrobras para a gravação do primeiro álbum foi um facilitador que não aconteceu nesse segundo?
R: O fato desse disco ter demorado pra sair foi mais por uma questão de dedicação nossa. Estivemos nesse processo de compor/gravar desde 2012 e fizemos tudo no nosso tempo, sem cobranças nem prazos, apenas a liberdade pra fazer como a gente achava melhor. Fizemos o disco inteiramente independente, contando com a ajuda de nossos amigos e parceiros da vida e da estrada e estamos muito satisfeitos com o resultado.
Em algum momento passou pela cabeça de vocês que esse período de hibernação poderia fazer a banda acabar?
R: Esse pensamento nunca ocorreu pra gente. Até fizemos alguns shows esporádicos nesse período. Ficamos um pouco fora dos holofotes mas não paramos de trabalhar na banda em nenhum momento, sempre no nosso ritmo.
No primeiro álbum vocês conseguiram de forma brilhante misturar referências musicais diversas (MPB, jazz, dub, bossa, música erudita, rock, psicodelia) e trazer pra um linguagem própria que não remete diretamente a nada. Como surgem as canções da Joseph Tourton?
R: Cara, não temos muitas regras pra composição. A banda surgiu de sessões de jam session e até hoje é assim. Alguém traz algum tema pro ensaio e a gente toca junto e desenvolve até chegar num resultado. Nesse disco novo tem músicas que fizemos dentro do computador, gravamos sem nunca ter tocado a música, apenas fomos criando e juntando as partes.
Outra coisa que chama a atenção no álbum é a riqueza dos timbres de guitarra, o que poderiam falar sobre isso?
R: Que bom que você gostou, rs! A gente tem uma preocupação com o som de tudo, sempre buscamos o melhor de cada situação. Em relação às guitarras nós gravamos de vários jeitos, em linha no quarto, em estúdio com amplificadores fodas e no sítio com amplificadores ruins e ruído dos bichos… A maioria dos riffs surgem das guitarras e elas ocupam um papel muito forte dentro do nosso som.
A música de vocês seguem por momentos de calmaria, às vezes até bucólicos devido ao uso da escaleta e flauta, e outros mais barulhentos, o que remete ao post-rock. É uma influência na música da Joseph Tourton?
R: Sim, na época do começo da banda a gente ouvia bastante algumas bandas desse segmento. Atualmente acredito que as referências de cada um mudou com o passar desses anos mas naquela época o post-rock era bem presente.
Uma das coisas interessantes da música instrumental é que ela permite que o ouvinte crie histórias imaginárias, no caso da música de vocês isso é bem forte, principalmente devido as alternâncias do arranjo. Vocês também tem essa percepção de estar “contando uma história” através das canções?
R: Temos o tempo todo. Cada amigo que a gente mostra o som fala que sentiu algo diferente ao ouvir. Já recebemos vários pedidos de liberação de música pra vídeo documentários, TCC, programa de TV. Isso é muito massa. Tivemos uma oportunidade de fazer trilha ao vivo pra cinema e foi incrível.
E sobre o processo de criação do novo álbum como aconteceu? Quem produziu, tem convidados especiais?
R: Nós começamos a produzir o disco durante a turnê do primeiro. Muitas pessoas participaram de todo o processo. Produzimos faixas com Arthur Soares e Vinícius Lezo, no Estúdio Base(PE), Bruno Giorgi(RJ) e por nós mesmos nos nossos home studios. O disco tem participações de Chiquinho (Mombojó), Haley (ex-membro da paraibana Burro Morto), Caio Lima (Rua) e do violoncelista italiano Federico Puppi.
O novo álbum é todo instrumental?
R: Sim!
O que poderiam falar das músicas novas: são ideias recentes, sobras do primeiro álbum, ideias que já existiam há muito tempo? Inclusive na época do primeiro álbum falaram que tinham uma carta na manga para esse segundo.
R: São músicas que fizemos durante a turnê do primeiro álbum e no período pós turnê. Usamos todo esse tempo para ir lapidando as idéias, testando os timbres e gravando as participações.
Saíram declarações na mídia de canções mais heterogêneas e presença mais marcante metais, bem visível em “TCB”, single lançado em 2016. O que mudou do primeiro para o novo álbum, além do tempo de preparação, claro?
R: Nesse álbum a gente quis uma sonoridade que envolvesse temas de metais que fizessem melodias e camadas, e para isso convidamos nosso amigo Parrô Melo para criar os arranjos e montar o time para a gravação.
A mudança na sonoridade foi um novo momento que a gente viveu no período de feitura desse álbum. Se a gente começasse a fazer um álbum novo hoje tenho certeza que seria um universo diferente dos dois primeiros.
Por que escolheram “TCB” para primeiro single e há previsão para lançamento de algum videoclipe?
R: “TCB” foi uma das primeiras músicas que ficaram prontas nesse processo todo. Tocamos ela pouquíssimas vezes ao vivo e a gente tava muito satisfeito com o resultado dela, que acabou sendo a escolhida como single.
Estamos fazendo essa ”volta” ao nosso ritmo, um passo após o outro. Gravar um clipe é uma vontade sim. Nossa música é muito visual.
Como aconteceu a ida para o selo Balaclava Records?
R: Num determinado momento desse ”hiato” tivemos um contato com os caras da Balaclava e lançamos o single “TCB” juntos. Porém o disco sai de maneira independente, lançado por nós mesmos.
O que poderiam falar da turnê que fizeram em 2010 com a banda argentina Falsos Conejos?
R: Foi uma experiência pra vida, passar 40 dias numa van junto desses malucos. Acabamos essa turnê com 3 amigos pro resto da vida. Tocamos em todo tipo de roubada que você pode imaginar e isso nos deu experiência e muitas risadas com esses caras, que são uma banda incrível.
Vocês já tocaram com vários artistas, tem algum com quem ainda não tocaram e gostariam muito? E uma turnê massa, com quais artistas?
R: Velho, tem muita banda que a gente admira mas nunca teve oportunidade de dividir o palco. Hurtmold foi uma banda que a gente ouviu pra c…. seria louco fazer um som com os caras. Outra banda nacional que foi muito importante pra o nosso som foi o Cidadão Instigado. Fazer turnê com essas bandas seria um presente divino…rs
Quais bandas/artistas vocês recomendariam para os ouvintes da Joseph Tourton?
R: Hurmold, Cidadão Instigado, Rincon Sapiencia, Emicida, Rage Agaisnt The Machine… são muitas influências e muito som nesse mundão!
Se tivessem que resumir a banda em uma palavra, qual seria? Detalhe, não podem usar a palavra instrumental.
R: Lenda.
A Joseph Tourton tem urgência de quê?
R: Fazer o nosso som e se divertir.
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Áudio do primeiro álbum
:: Ouça abaixo o álbum na íntegra:
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