‘Blue Bell Knoll’ traz canções oníricas para embalar momentos diversos



Nos idos de 1989, apesar de muito falados por aqui através da revista Bizz, pouco ou nada chegava até a nós dos escoceses do Cocteau Twins. Uma entrevista e uma matéria publicada pela revista nos tentavam a ir à busca de algo da banda urgentemente. Precisava conhecê-los.

Como a vida é cheia de surpresas, e tem coisas que chegam até nós da forma mais surpreendente e inesperada!

Um belo dia um amigo aparece com algumas aquisições vinilísticas diretamente da capital, e entre elas esse “Blue Bell Knoll”.

Surreal!

Lá estava, de forma “palpável”, a música daquele grupo pronta para ser ouvida.

Lá estava aquele disco com aquela capa enigmática, como todas da banda, nas mãos de meu amigo, pronto para ser colocado no toca-discos e, finalmente, revelar sua música para meus ansiosos ouvidos.

Não há como esquecer nem descrever a emoção de ouvir pela primeira vez a música do grupo, que em nada decepcionou. “Blue Bell Knoll”, a faixa que abre o disco, já começa com instrumental e voz entrando juntos. Uma canção densa como poucas do Cocteau Twins, um baixo que descompassa e, em seguida, uma profusão de riffs de guitarra viajantes.

Sublime!

“Blue Bell Knoll” é o quinto álbum da banda, soa como um momento de transição para um lado de aceno mais pop, que se concretizaria no disco seguinte, “Heaven or Las Vegas”, seu maior sucesso.

“Cocteau Twins era gênio”: Guthrie com suas guitarras de texturas sonhadoras, Liz com sua voz para embalar esses sonhos, faziam música “de outro mundo”.

Havia encontrado mais uma banda única, diferente de qualquer outra que já tinha escutado. Uma banda para guardar com carinho no coração. Uma banda para mostrar para todos aqueles que amam música.

Só pra se ter uma ideia do impacto causado, evitava ouvir muito o disco com medo de que ele perdesse o encanto.

Como todos os álbuns da banda não há em “Blue Bell Knoll” canções ruins, algumas mais luminosas como “Carolyn’s Fingers”, cujo clip viria a assistir boquiaberto num programa vespertino da TV Itapoan (SBT), o encanto sedutor de “Itchy Glowbo Blow” ou a placidez viajante de “Cico Buff”.

Hoje dá pra perceber de forma bem clara o quanto o álbum tem um pouco do Cocteau Twins de “Treasure” (1984), na estrutura incomum dos arranjos em algumas canções; e de “Heaven or Las Vegas” (1990), no uso de elementos eletrônicos pontuais e na forma como a voz de Liz foi mixada, bem à frente dos instrumentos.

“Blue Bell Knoll” está na lista daqueles discos para se ouvir a qualquer instante: ao acordar, antes de deitar, pra namorar, para desestressar, para ler um livro, ou apenas para se encantar com a perfeita combinação entre música e canto.

Está também na minha lista de álbuns que não tenho mais em vinil, mas tenho em CD.

Não é mais meu favorito da banda, mas continua sendo marco no percurso da minha trajetória como apreciador de música.

 


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