Aos vinte e um anos o londrino Sam Howard lançou Ark, seu primeiro álbum sob a alcunha de Halls. Corria o ano de 2012 e a mistura de batidas eletrônicas, instrumentais de tons sombrios e vocais melancólicos para letras doloridas, passou desapercebido por muitos, mas obteve boa repercussão e angariou alguns elogios em sites especializados.
Em Love to Give, ele mantém o projeto na mesma linha melancólica de seu antecessor, com uma diminuída na parte eletrônica e maior presença de instrumentação orgânica, principalmente no uso de piano e guitarras.
Com voz de impostação sempre grave e instrumentais que invariavelmente alicerçam climas de tensão, a música do Halls em muitos momentos levará a associações com os trabalhos de Thom Yorke, seja no Radiohead ou em outros projetos, embora sua sobriedade de tons monocórdicos remetam ao Red House Painters de Mark Kozelek.
Comparando com o antecessor Ark, Howard define seu novo trabalho como mais sombrio, embora a ideia subjacente seja a de abrir-se mais, arriscar mais, já que as letras eram muito obscuras.
A dramaticidade emotiva preenche todos os espaços do disco ao longo de suas nove canções. A faixa título, “Love to Give”, tem um arranjo que se desenvolve a partir dos vocais à capela e no decurso vai adquirindo novas nuances, texturas discretas que vão se avolumando e criando um clima de dramaticidade épica. Esse tipo de dinâmica seguirá em diversas canções, vide “Sanctus” e “Harmony in Blues”, ou ainda a tempestade sonora de “Boy Eraser/Avalanche”.
Poucas vezes Howard se distancia da antítese que recobre suas canções, e nesses momentos encontramos a ótima “Waves”, uma canção de atmosfera densa e contemplativa.
+++ Leia a crítica de ‘Infinite Loss’, do Halls
Love to Give é um ótimo disco de um jovem e promissor compositor que vai expurgando suas dores através da música, construindo um universo equilibrado sob um fio tenso de melancolia e catarse, num movimento atraente e perigoso.
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