BOOGARINS – Lá Vem a Morte (2017)


“Banda goiana continua atribuindo créditos à sua fama e traz em seu disco boas e precisas referências da música psicodélica brasileira”

Como toda resenha acaba entregando algo particular do autor, revela seu estilo de escrita e também sua história em relação aquela arte, sem dúvidas é fácil sobrar alguma confissão por parte dele. Dessa forma confesso que vinha abatido e procurando coisa dentro de nossa própria música. De 2005 até 2017, poucos discos nacionais que passaram pelas minhas audições a exemplo de Titãs e Os Paralamas do Sucesso, bandas que já possuía afinidade desde o Rock BR80. Em contrapartida, não fiquei fora das redes sociais e dos blogs pela internet para notar como essa banda de Goiânia vem sendo comentada e ganhando cada vez mais reconhecimento.

Do quarteto goiano, incluindo apenas os álbuns de estúdio, deixei passar ‘As Plantas Que Curam’ (2013) e ‘Manual’ (2015). Corri direto para ‘Lá Vem A Morte’. Menos de meia hora de duração, oito faixas e havia me rendido ao grupo. Comparados aos americanos do Tame Impala e do Animal Collective, prefiro não ficar apenas nessa comparação, melhor tomar como referência a própria terra brasilis e dizer que a banda é bastante influenciada por Júpiter Maçã (RS), Casa das Máquinas (SP) e Os Mutantes (SP). Esse último grupo citado, inclusive, é inspiração máxima para os goianos. Muito de ‘Lá Vem A Morte’ lembra a inteligência e eficácia da psicodelia que os Mutantes executavam. Posso até arriscar e dizer que a voz de Fernando ‘Dinho’ Almeida se equipara a de Arnaldo Baptista, cada qual a seu tempo, claro.

Precisa ser ressaltada também a qualidade da produção do disco. Os instrumentos estão límpidos apesar do amálgama sonoro no qual se condensam.

Em vinte e oito minutos muitos detalhes precisam ser absorvidos: timbres eletrônicos em meio ao orgânico, samplers, sintetizadores, efeitos, guitarras que não aparecem tanto, apesar de cumprirem o seu propósito, a própria voz de Dinho que confere a segurança de um crooner experiente. Se em ‘Lá Vem a Morte Parte 3’ o grupo dá uma resvalada para o jazz, a psicodelia sim continua firme e é soberana em composições tão bem feitas como ‘Onda Negra’ (uma das melhores do disco) e ‘Corredor Polonês’ que passaria naturalmente numa rádio FM com sua melodia certeira.

As letras falam bastante do existencial, de viver. Algumas carregam um lirismo descompromissado: ‘foi mal se eu ainda desejo corpos que não o seu’ (‘Foi Mal’) ou então, trazem até o erotismo, embora não tão explicito assim: ‘Vi meu corpo amanhecer/Não pude esperar/Me sentia quase lá/Foi bom, e passou’ (‘Polução Noturna’). Quando ao título do disco o próprio Dinho cita: ‘Talvez tenha sido sempre assim. Mas parece que estamos vivendo numa época em que nos sentimos muito perto de um final infeliz, dentro da situação caótica do mundo diariamente’.

Os goianos vivem uma fase boa. Estão bem comentados também no âmbito internacional e em Portugal constantemente fazem shows. Esse momento só depende única e exclusivamente deles. Manter essa criatividade, permanecer em sintonia com a música psicodélica brasileira e dar uma continuidade a discos interessantes como esse tendem a prolongar a vida da banda. Não só o Boogarins precisa fazer assim, como nós, ouvintes da música brasileira, também precisamos e almejamos.

NOTA: 7,5

:: FAIXAS:
01 – Lá Vem a Morte Pt.1
02 – Foimal
03 – Onda Negra
04 – Polução Noturna
05 – Lá Vem a Morte Pt.2
06 – Corredor Polonês
07 – Elogio à Instituição do Cinismo
08 – Lá Vem a Morte Pt.3

:: INFORMAÇÕES ADICIONAIS:
Bandcamp
Facebook
Site oficial
Wikipedia

:: Ouça o álbum na íntegra:

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