Novo trabalho do Lush, ‘Blind Spot’ mostra a banda como ela mesma



Os últimos anos viram a volta à ativa de diversos expoentes de uma “cena” noventista que ficou conhecida pelo famigerado nome de shoegaze (observadores de sapato) ou “the scene that celebrates itself” (a cena que se celebra). Termos que musicalmente não dão ideia de absolutamente nada, mas que acabou servindo para rotular bandas que mantinham uma postura cabisbaixa palco, olhando para para os pés (shoegaze), embora estivessem concentrados ou apenas inseguros em seus instrumentos. Somado a isso, havia o costume de frequentarem uns os shows dos outros (a cena que se celebra).

Musicalmente as propostas nem sempre se aproximavam. Lá estavam colocadas bandas como My Bloody Valentine, Ride, Slowdive, Chapterhouse, Pale Saints, Swervedriver, dentre outras. Lá estava também o Lush. O elemento que unia quase todas (mas não todas) essas propostas era uma gravadora em comum (Creation Records) ou o fato serem influenciados pelas (quase) mesmas bandas.

Excetuando-se o Pale Saints, todos os citados voltaram à ativa. Swervedriver e MBV lançaram bons discos, Ride e Slowdive prometem soltar o seu brevemente. Mas o Lush foi a banda que mais rapidamente conseguiu botar na rua seu novo rebento, considerando a volta e o lançamento do disco.

Para quem está em dia com a história discográfica da banda de Miki Berenyi, sabe que seus primeiros álbuns jogavam no time de guitarras etéreas a la Cocteau Twins e vocais frágeis, rezando na cartilha do dream-pop. No percurso, deram uma guinada e levaram sua música para um indie-pop com muitos elementos das alternative bands americanas. Isso já em seus últimos discos.

Passados vinte anos desde seu último lançamento e chegamos a “Blind Spot” (4AD), simpático EP de retorno com quatro faixas.

A música do Lush nunca foi exaltada pela sua complexidade, ao contrário muitas vezes foi destratada devido à simplicidade. E essa simplicidade se mantém. São arranjos de poucos e melodiosos acordes em canções diretas e com poucas variações.

“Out of Control” é a melhor faixa. Foi a primeira a ser veiculada e rememora os melhores momentos da banda na fase “Spooky”, para muitos admiradores, o melhor disco deles. A canção tem levadinha acústica com guitarras climáticas em efeitos chorus e teclados etéreos ao redor. A voz de Berenyi com efeito de duplicação cria o clima de leveza etérea. Esses elementos também estão presentes na co-irmã “Lost Boy”.

Em “Burnham Beeches” há uma aproximação maior para o Lush de sua segunda fase. Canção com levadinha inofensiva e melodia ensolarada, acréscimo de instrumentos de sopro pra dar uma diversificada no arranjo. Um climazinho inicial que lembra “Love Vigilantes” do New Order.

Fecham com “Rosebud”, onde a opção é por compor uma quase balada acústica cheia de climas. Mostra um lado também conhecido da banda, com um frescor renovado, é bem verdade.

Para uma banda que levou tanto tempo longe, lançar um EP tem suas vantagens, uma delas é poder finalizar mais rapidamente o trabalho, a outra é poder testar a receptividade do público. Há também a possibilidade de apresentar nos shows não apenas coisas do passado, dando assim um frescor ao setlist.

A opção então é acertada, mais acertada ainda porque as novas canções em nada comprometem o que a banda já havia feito antes, ao contrário, acaba até acrescentando. E por não haver tantas expectativas em cima, “Blind Spot” acaba sendo uma boa surpresa.

:: NOTA: 7,0


 

FAIXAS:

01. Out of Control
02. Lost Boy
03. Burnham Beeches
04. Rosebud

 

 

 


Previous Bloody Knives coloca os tímpanos à prova em 'I Will Cut Your Heart Out For This
Next Camadas de barulho, elementos cinematográficos e tensão em estreia do Minor Victories

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *