Trentemøller convida ouvinte à imersão em ‘Memoria’


Foto de Trentemøller

Para além de seu trabalho como produtor e principalmente responsável por remix de canções de outros artistas – numa lista bastante extensa -, o músico dinamarquês Anders Trentemøller tem uma carreira musical que infelizmente não consegue o mesmo alcance de suas requisitadas intervenções em composições de outros artistas. Isso em nada diminui ou tira o brilho de seu trabalho de composição, que vem desde 2003, através de singles e EP’s, mas somente em 2006 chegou ao seu primeiro álbum, ‘The Last Resort’, totalmente instrumental e com ênfase na eletrônica.

A mudança de selo ocorrida em 2010 veio acompanhada de novas abordagens, e ‘Into the Great Wide Yonder’, seu segundo álbum – lançado pelo selo próprio – abriu um caminho irreversível para colaborações com outros artistas e para outros elementos musicais, com continuidade em todos os trabalhos posteriores.

Prosseguimento das ideias propostas em ‘Obverse’ (2019) – que trazia a participação de um time feminino luxuoso nos vocais (Rachel Goswell, Jenny Lee, Lisbet Fritze e Lina Tullgren) -, Memoria, seu mais recente trabalho, “fixa” a guitarrista e vocalista dinamarquesa Lisbert Fritze (da banda Giana Factory) como vocalista principal e única no álbum, ao tempo que segue mergulhado em atmosferas imersivas.

De duração e quantidade de faixas incomum para os dias atuais, Memoria é um trabalho diversificado ao abrigar variados estilos e que consegue coesão a partir da similaridade de ambiências oníricas que recobrem quase todas as composições, seja quando elas assumem um lado voltado para o eletrônico com tendência para a Ambient Music, geralmente nos momentos instrumentais (“Darklands”, “Glow”, “Rise”); ou um lado de camadas de guitarras envolventes e vocais indolentes comuns ao Shoegaze e Dreampop em faixas como “Veil of White”, “No More Kissing in the Rain”, ”All Too Soon” e a inefável “Like a Daydream”, que colidem com o Dreampop de bandas como Cocteau Twins, conectadas pelas guitarras etéreas e vocais oníricos de Fritze. Para ficar no ano presente, somam-se tranquilamente ao lado sonhador do álbum mais recente do Beach House.

Estudioso da música em suas mais variadas vertentes, Trentemøller adiciona elementos do Krautrock e Drone Music na instrumental “When The Sun Explodes”. “Dead or Alive” tem um quê de Pós-Punk com timbres orientais. O álbum fecha com os climas altamente envolventes de “Linger”, mas uma faixa que resvala para o Ambient emoldurado por guitarras texturizadas e teclas melódicas.

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Fã declarado de Pós-Punk e Shoegaze, o músico alcança aqui resultados impressionantes somando estilos mas não se filiando a nenhum deles. O resultado é um conjunto de canções construídas com tamanho esmero que faz com que tudo soe perfeitamente encadeado e executado em sua proposta principal de envolver e segurar o ouvinte.


Capa do álbum 'Memoria', de Trentemøller

INFORMAÇÕES:

LANÇAMENTO: 11/02/2022
GRAVADORA: In My Room
FAIXAS: 14
TEMPO: 72:00 minutos
PRODUTOR: Anders Trentemøller
CURIOSIDADES: ‘Memoria’ foi todo gravado no estúdio caseiro do músico que estava às voltas com o nascimento do filho |  O álbum foi gravado durante a pandemia, que segundo o músico teve seu lado benéfico de permitir que ele fizesse todo o processo de estúdio
DESTAQUES: “No More Kissing in the Rain”, ”All Too Soon”, “Like a Daydream”

 

 


OUÇA ‘MEMORIA’:


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