LESTICS – Breu (2018)


“Grupo paulista lança novo álbum comprovando que há vida pulsante no pop-rock nacional da atualidade”

Triste ouvir por parte de alguns amigos que a música boa, independente de país, não exista mais hoje em dia. Dessa forma, muitas pessoas se prendem a uma década específica de sua preferência (80’s é bem comum), e assim parecem ter se enraizado nela, ficando num extremo comodismo e nem mesmo vasculham ou se importam com as novidades atuais, ouvintes que preferem chorar um rosário de reclamações ao invés de continuar com o exercício de investigação musical que pode ter um final sim, gratificante.

Nestes tempos em que bandas aparecem a cada instante e que dentro de um quarto a pessoa faz música, o descartável até virou moda. Em contrapartida, o ouro pode ter surgido em meio a um garimpo e merece a atenção de quem o encontrou.

Nesse processo de trocas de informações, descobri o Lestics através de um site de um amigo internauta. Na verdade, (re)descobri. Tinha ouvido a banda em 2007, com o disco ‘Les Tics’. Lembro que a sonoridade agradou bastante, apesar de não ter guardado o disco digital com o devido carinho, assim como também não dei continuidade aos outros lançamentos.

Atravessando mais de dez anos de carreira, Lestics é aquela banda como a maioria das quais conhecemos: mudança de sonoridade, amadurecimento, troca de integrantes e a força de continuar num processo de se manter firme em meio a tantas novidades musicais.

O grupo valoriza os vários elementos da música: as letras, o instrumental, melodias, tudo em sincronia, num conjunto inquebrável e correto.

Sem medo de revelar várias referências/influências que podem passar pelo Rock Br 80 e chegar até a nomes da atualidade, os paulistas chegam ao sétimo disco, ‘Breu’. Em menos de 30 minutos e 7 faixas bem condensadas, despertam a atenção do ouvinte, sobretudo aquele que diz não encontrar mais vida ou que diz ter largado o interesse no cenário musical da atualidade.

O impacto já tem início nos instantes que abrem ‘Breu’. Num clima misterioso, um sintetizador melancólico dá espaço a uma guitarra dedilhada, a voz segura de Olavo comandando uma das características fortes do grupo, o poder dos versos: “Até um certo ponto é tudo início /passado esse limite é tudo fim / é como decolar de um trampolim / e mergulhar no breu do precipício”; nos rende, ecoa no cérebro e nos alerta que esse é um álbum onde letras também recebem prioridade. ‘Mais do Que Isso’ traz letra inteligente num tom um tanto crítico sem soar rabugento (lembrei da criatividade do Titãs). O grupo fala do que é viver na modernidade atual, de viver a vida apesar da rotina e das imposições: “O batom, a gravata, o crachá do serviço / é preciso que exista algo mais do que isso’).

As letras conseguem expressar o que mais aflige o homem da era moderna: solidão, crise existencial, trabalho excessivo e a corrida para o Capitalismo. Às vezes de forma direta, às vezes por metáforas: ‘É preciso pular sete ondas de choque / abraçar um coqueiro à espera do baque’ , na faixa ‘Fim de Tarde nas Ilhas Bikini’.

‘Dois’ é uma canção típica dos tempos modernos, a velha divagação de estar sozinho ou de se estar com alguém. E num começo que pode até lembrar Arnaldo Antunes, o grupo mostra maestria ao lidar com um tema que talvez resultasse brega demais. O humor surge de forma perspicaz e chega numa letra digna de samba (‘Balada do Fundo do Bar’), o que pode revelar que a banda bebeu não apenas do pop-rock, mas que outros gêneros também serviram de fonte. O fechamento com ‘Far Niente’ não poderia ser melhor, traz uma bela guitarra dedilhada e uma letra poética que hipnotiza (influência da fase áurea do Paralamas do Sucesso?).

‘Breu’ não é original, longe disso. Mas a originalidade é algo extinto em qualquer arte que encontramos. Existe sim pegar todos os ingredientes do que é a boa música e continuar colocando tudo num caldeirão, para no final o resultado ser satisfatório e não esquecível. É preciso lapidar o que sempre existiu na música para continuar com um futuro de boas expectativas. ‘Breu’ faz isso. Para as pessoas que vivem ridicularizando o presente na música, dizendo que tudo é reciclado e descartável, vou parafrasear a própria banda: ´é preciso dizer que existe muito mais do que isso’.

:: NOTA: 8,0

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:: FAIXAS:
01 – Breu
02 – Mais do que Isso
03 – Dois
04 – Balada do Fundo do Bar
05 – Do Jardim
06 – Fim de Tarde nas Ilhas Bikini
07 – Far Niente

 

 

 

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:: Ouça abaixo a faixa “Mais do Que Isso”:

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