PARABÓLICA #20 | Dormente, Declinium e Better Place



Parabólica de hoje traz três bandas nacionais que nos enviaram material através do e-mail/direct e que nos instigaram a ouvir o trabalho, tornando-se a coluna de hoje.

Embora a proposta da Parabólica seja de trazer textos mais curtos, dessa vez fugimos um pouco disso, apresentando quase uma resenha dos discos/bandas comentados. Isso não aconteceu de forma proposital, foi surgindo enquanto ouvíamos as músicas.

No fim, ficou mais parecendo um 3 em 1 não ortodoxo, já que o Dormente está aqui não pelo seu álbum de 2020, mas também por ele, e pelo lançamento de um novo álbum pro segundo semestre. Declinium entra com um lançamento de 2022 e Better Place com um EP ou mini LP lançado no final de 2021.

Ou seja, isso aqui hoje é uma miscelânea.


Dormente | Não Quero Levantar Nunca Mais

Dormente (FOTO DE DESTAQUE) é um duo de Sorocaba formado por Ítalo Riber e Victor Fortes. Após alguns singles, lançaram em 2020 seu álbum de estreia, o surpreendente Parestesia, que traz os primeiros singles e mais sete canções novas. Parestesia é aquela sensação de “alfinetadas e agulhadas” e frequentemente sentida nas mãos, braços, pernas ou pés.

O álbum foi lançado pela gravadora Lastro Musical. Musicalmente o eletrônico é a base para as composições, que utilizam camadas diversas de sintetizadores de sonoridade retrô/futurista, explorando gêneros como o Synthpop e  Neo-Psychedelia, se aproximando mais da Chillwave em termos de resultado. As letras vão da crítica social (Condenável Mundo Burguês) às dificuldades cotidianas, como a inadequação (Não Vou me Entrosar) dentro de uma sociedade cada vez mais individualista (cada qual em seu mundinho próprio) e que sufoca a individualidade. E, claro, das dificuldades de relacionamentos e angústias provenientes disso.

O duo está em processo de lançamento de seu mais novo álbum, a ser lançado no segundo semestre, e o single “Não Quero Levantar Nunca Mais” sai no dia 04 de fevereiro. Eles nos informam que a canção abre uma nova fase:

“Com uma sonoridade mais agressiva, influenciado por gêneros como Witch House, Big Beat e Electropop, fecundado em um ambiente virtual intoxicado por fake news, isolamento social e um governo desajustado com toda e qualquer pauta atual relevante, ele personifica a raiva e desespero de um jovem brasileiro tentando sobreviver no ano de 2020”.

Nessa nova faixa, é perceptível uma mudança na sonoridade. Mais adiante, eles dão uma pista do que encontrar nesse novo trabalho em comparação ao que foi apresentado em Parestesia: “Esse álbum explora texturas e ritmos diferentes do último trabalho, misturando o oriental com o ocidental, o antigo com o moderno, recheado de camadas de samples e sintetizadores, mantendo seu ritmo dançante com uma atmosfera mais obscura”.

Detalhe, Dormente fez um remix para a faixa “Morreu a Esperança”, do Wry, do álbum Reimagining Noites Infinitas.


Declinium | Dias Ácidos

Foto da banda Declinium

Aproximadamente oito anos depois de Marte, e quatro desde o EP de outtakes Sombras e Luzes, a Declinium está de volta com um novo trabalho. Dias Ácidos, o EP, já havia sido prenunciado com a faixa de mesmo nome (que comentamos na época), lançada em 2021, e por Mundo Cão, que tem um videoclipe bem apropriado e interessante e é uma das faixas a se prestar atenção.

Em entrevista de 2020, Oreah Chinaski, vocalista, baixista e compositor da Declinium declarou que raiva era o sentimento que “moveria” o novo trabalho, contrastando com a densidade melancólica de Marte. E esse sentimento é perceptível em vários momentos do novo EP, como nas guitarras mais sujas, riffs agressivos e na letra de “They Don’t Care About Us” – que dá um foda-se para tudo e todos -, com uma sonoridade que vai aos anos 90, especificamente ao Grunge; ou em “Paranoia”, que remete a “Disneylandia”, dos Titãs.

É claramente perceptível essa tentativa do grupo de colocar para fora esse sentimento sufocante (sem trocadilho com a pandemia) no contexto econômico, social e político, com relações e interações humanas cada vez mais truncadas. As letras de Oreah repletas de comentários mordazes conseguem captar com precisão essas sensações, e o grupo adiciona mais peso às guitarras com resultados que oscilam.

Em comparação com Marte, onde as faixas se conectam tanto liricamente quanto na parte instrumental de forma incrível, Dias Ácidos soa menos coeso e com um trabalho instrumental que segue por direções diversas, se aproximando até Hard-Rock em “Tormenta”. E como o próprio vocalista declarou, a banda passou por reformulações, o que levou a também mudanças nos arranjos das canções, o que talvez explique muito da sonoridade presente aqui.

Declinium tem na formação atual Oreah Chinaski (baixo e voz), Everton Mendonça (guitarra e teclados), Leandro Lellus (guitarras) e Ericson França (bateria). Dias Ácidos sai pelo sela Trinca de Selos, foi produzido pela Declinium em parceria com Jack Doido, no estúdio Jack’s2dio, e a arte da capa é criação de Matheus Chaves, filho do vocalista.


Better Place | Zeitgeist

Foto da banda Better Place

Zeitgeist é o novo trabalho do grupo de Cuiabá, Better Place. É um EP (ou mini LP) contendo sete faixas, e que foi lançado no finalzinho de 2021. O grupo se intitula como Post-Rock mas há muitos outros elementos que entram na música do grupo, resultando em uma sonoridade com elementos de Post-Rock mas que segue também por outros caminhos, como na levada Bossa Nova de “Novo Amor”, única faixa cantada em português,

Musicalmente equilibrado do início ao fim e com uma produção e mixagem caprichada, que coloca o grupo no mesmo patamar de muitas bandas estrangeiras, a sonoridade que o Better Place apresenta é imersiva e, por vezes, catártica (quando as guitarras criam paredes de distorção), utilizando-se para isso da alternância entre calmaria e explosões, característica típicas do gênero a que estão filiados. Apesar disso, a opção é mais pelo lado climático, com ambientações viajantes.

O conjunto de elementos do grupo inclui camadas densas de teclados, vocais com efeitos criando climas etéreos e, em determinados momentos, batidas brutais de bateria, com a eletrônica surgindo em instantes pontuais. E o cuidado do grupo não se limita a parte musical, o trabalho da arte da capa é muito bonito e intrigante, situando-se entre as mais belas de 2021. O álbum foi lançado com o apoio da Lei Aldir Blanc de Fomento à Cultura, através da Secretaria de Cultura de Mato Groso.

O disco foi gestado durante a Pandemia e traz em suas letras muito do contexto em que está inserido, e o próprio título já deixa isso bem evidente – Zeitgeist significa espírito do tempo ou da época. O trabalho lírico aborda esse conjunto de sensações que vieram junto com a pandemia e aumentado com isolamento: angústia, solidão, insônia e, também, esperança e abrigo nas coisas que nos confortam, um lugar melhor.

Better Place é formado pelo vocalista e produtor Júlio  Rezzieri,  pelo baterista Erik Martins e pelo guitarrista e tecladista Murillo Guerra. O álbum tem participação do músico Diego Filomeno.

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