SHOEGAZE WORLD #7 | Veteranos revigoraram a cena em 2021


Amusement PArks on Fire band
Amusement Parks on Fire

Por incrível que pareça, ainda há gente que questiona o Shoegaze como cena ou até mesmo como estilo, o considerando uma “modinha”. Pois bem, existe uma cena Shoegaze, e não foi feita pelos pioneiros ou pelo jornalista que cunhou o termo, mas sim pelos seus seguidores, especialmente nos últimos dez anos. Para haver cena, é necessário se cumprir quatro quesitos: crescimento exponencial ano a ano de bandas adotando este tipo de som, bandas pioneiras que retornam e se mantém na ativa, artistas que surgiram logo depois dos chamados “clássicos” e que mantém este tipo de sonoridade e, evidentemente, uma ampla gama de shows. Também colaboram aqueles que mixam outros estilos com o Shoegaze (Alcest, por exemplo), e outros que deixam seus estilos originais para se arriscar nesse gênero (como o Post-Hardcore Hundredt). O Shoegaze abrange dezenas de bandas em todos estes quesitos, portanto, há uma cena.

2021 registrou entre seus melhores trabalhos discos de quatro bandas de um importantíssimo quesito citado, que é dos seguidores veteranos dos pioneiros que mantêm-se fieis ao Shoegaze clássico: o Fleeting Joys, o Amusement Parks on Fire, o Pia Fraus e o Echodrone, destaques desta coluna.

O Fleeting Joys é um banda de Shoegaze baseada em Sacramento, Califórnia, formada em 2005 por John Loring (guitarras) e Rorika Loring (baixo e teclados). Nos discos valem-se da colaboração de vários bateristas convidados. A primeira referência quando se ouve seus discos é My Bloody Valentine. Seu som incorpora camadas complexas de feedback e os vocais, como na banda que o inspira é ora masculino, ora feminino.

Seu álbum de estreia, Despondent Transponder, foi lançado em 2006, e o seguinte, Occult Radiance , em 2009. Não é das bandas mais produtivas. O terceiro disco, Speeding Away To Someday, veio ao mundo dez anos depois do segundo, com apenas dois singles neste intervalo de tempo (Kiss A Girl In Black, de 2013, e Lake Placid Blue, de 2018).

All Lost Eyes and Glitter é o seu quarto álbum, lançado em novembro de 2021, um dos melhores do ano, e que traz todos os elementos básicos encontrados no som da banda desde o seu primeiro trabalho. Toneladas de efeitos, vocais etéreos masculinos/femininos e aquela inevitável inquietação que sempre surge, do tipo “como é que apenas duas pessoas conseguem fazer tanto ruído?”

Outra banda veterana – desta vez do outro lado do Atlântico – que fez um grande disco em 2021 foi a britânica Amusement Parks On Fire (FOTO DE DESTAQUE), com seu espetacular An Archaea, lançado em junho. Formada em 2004 por Michael Feerick, no início era um projeto de seu fundador que ao vivo incorporava outros músicos, como Daniel Knowles (guitarra), Pete Dale (bateria), Jez Cox (baixo) e John Sampson (teclados). Desde o início procurou diferenciar-se dos shoegazers tradicionais incorporando um experimentalismo mais “cabeçudo”.

O Amusement Parks On Fire tem quatro álbuns de estúdio, sendo o primeiro, homônimo, de 2004, e o último, o recente An Archaea. No intervalo de tempo lançou dezenas de EP’s e coletâneas, incluindo a ThankYou Violin Radiopunk, de maio de 2020, no auge da pandemia, que deixou os ouvidos gazers bastante ouriçados.

An Archaea é um ponto alto na discografia da banda. Não traz grandes novidades para os fãs mais ortodoxos, mas a combinação de altas doses de feedback, vocal etéreo, melodias “quebradas” e seções rítmicas não-convencionais deve arregimentar mais admiradores dentro do gênero.

O Pia Fraus é uma lenda do Shoegaze do leste europeu. Os estonianos começaram a gravar no século passado (1998) e seu som passeia entre o Shoegaze mais leve e o Dreampop. A formação atual conta com Eve Komp, Kärt Ojavee, Rein Fuks, Reijo Tagapere e Joosep Volk. Entre os seis álbuns de sua discografia há álbuns de puro Dreampop e outros com maior predominância dos ruídos melodiosos.

Now You Know It Still Feels The Same é o disco mais recente do Pia Fraus, lançado em setembro, e presente em todas as listas de melhores do ano da imprensa especializada. Não é, entretanto, um álbum de canções novas. Todas elas foram compostas no período inicial da carreira da banda, entre 1998 e 2000. Como eles mesmo dizem, eram jovens (na faixa dos dezesseis anos) e mal sabiam tocar os instrumentos. Mais experientes, resolveram regravar as músicas daquela época, com uma musicalidade madura, que lembra o Slowdive em seus melhores momentos nos anos 90.

Se é possível chamar um estilo de Shoegaze épico sem derivar para o Post-Rock, este é o caso da californiana Echodrone. Formada em 2005 por Eugene Suh e Brandon Dudley, seu som é caracterizado por canções relativamente longas, encharcadas de reverb e feedback, com vocais etéreos na maioria das vezes. A formação atual conta, além de Eugene e Brandon, com Mike Funk (eletrônicos), Jackie Kasbohm (vocais) e Andy Heyer (bateria)

Sua discografia tem início em 2007, com o lançamento de um EP homônimo, e próximo do Shoegaze clássico. Aqui a referência maior é Ride. Com o passar do tempo, a banda foi experimentando mais, incorporando elementos eletrônicos e novas formas de vocalização. Seus lançamentos são irregulares, e o Echodrone surpreendeu o mundo Shoegaze ao se dedicar, no período mais duro do lockdown nos EUA, na produção de um novo disco em 2020, batizado Resurgence, lançado em março de 2021. Cada música foi desenvolvida através do compartilhamento de arquivos entre cada membro até as faixas refletirem, segundo os mesmos, “a alma coletiva interna dos membros e do estado emocional de suas mentes”. Assim, as letras refletem as incertezas decorrentes da pandemia, ao mesmo tempo em que as canções carregam a melancolia típica do Shoegaze.


Amusement Parks On Fire – Atomised

Fleeting Joys – Something In Your Melody

Echodrone – View Master

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