ROCKETMAN (Rocketman, 2019)


Cena do filme "Rocketman", sobre Elton John

“Com roteiro, atuação e direção brilhantes, ‘Rocketman’ é a cinebiografia musical definitiva!”

Não se enganem, esse filme não se limita a ser uma simples cinebiografia. Ele nos coloca dentro da mente de Elton John e isso é de uma coragem e valor artístico sem precedentes para filmes desse gênero, pois a mente humana é um local de possibilidades infinitas.

Se analisado de maneira superficial, poderíamos concluir que o filme inteiro se passa apenas em uma sessão de terapia em uma clínica de reabilitação para dependentes químicos, porém o alcance do que é dito e mostrado nessa sessão é o equivalente a uma vida inteira na qual o protagonista entra fantasiado como se fosse dar um show e, a medida em que vai revelando seus problemas, literalmente vai se despindo da fantasia e se tornando cada vez mais real e humano.

Desde o primeiro minuto somos convidados a participar desse momento extremamente privado, em um lugar no qual muitos artistas preferem esconder do grande público. Mas Elton John é um ser tão generoso que, mesmo sendo um músico ainda ativo, nos permite compartilhar a revisitação de suas memórias, desde as mais doces, até as mais insanas e amargas.

Ao contrário da maioria das produções do gênero, nenhum fato constrangedor foi suavizado pela direção firme e competente de Dexter Fletcher, o mesmo que finalizou e tentou salvar “Bohemian Rhapisody” (2018), após a saída do diretor Bryan Singer. Consumo de drogas, homossexualidade e tentativa de suicídio estão entre os temas abordados explicitamente.

A medida que o filme avança, entendemos que estamos diante de um belíssimo e imersivo estudo de personagem, não com a intenção direta de nos narrar a história de vida de um astro, mas sim com a intenção de deixar claro o modo como ele se enxerga diante do mundo. Sua relação nada amorosa com os pais, produtores e principalmente consigo mesmo. As referências a criança que ele foi e como isso o afetou torna o filme psicologicamente rico, além de permitir metáforas interessantíssimas.

Aliás, o filme é repleto de surrealismo e seu grande mérito é utilizar imagens fantásticas e improváveis para descrever canções e sentimentos. O diretor tem plena consciência da ludicidade que o filme precisava ter e a utiliza em momentos chave, principalmente quando as palavras se tornam pequenas mediante o turbilhão que se passava na mente criativa do Elton.

Os números musicais e as canções que permeiam a narrativa, não estão lá apenas para agradar aos fãs, elas narram os acontecimentos impulsionando a história e trazendo novos significados a velhas composições que, em muitos casos, permaneciam incompreendidas pela maioria do público como: “Your Song”, “Rocketman” ou “Goodbye Yellow Brick Road”.

Taron Egerton, mais conhecido por seu papel em “Kingsman” (2014), se entrega ao personagem de maneira extremamente rara e emocional, emprestando seu corpo e sua voz ao personagem. Ele carrega a essência de Elton em cada detalhe da sua rica interpretação, porém sem cair nos fáceis truques da imitação e da dublagem.

“Rocketman” é uma grandiosa, divertida, dramática e honesta jornada musical pela mente de Elton John, que desconstrói o mito, trazendo significado novo a um “velho conhecido”, ao mesmo tempo em que nos torna testemunhas dessa improvável história de superação e da incansável busca por amor real.

:: NOTA: 9,0


NOTA DOS REDATORES:
EDUARDO SALVALAIO: –
ISAAC LIMA: –
LUCIANO FERREIRA: –
MÉDIA: 9,0


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Cartaz do filme "Rocketman", cinebiografia de Elton John

:: FICHA TÉCNICA:

Gênero: Biografia, Drama, Musical
Duração: 2:01 min
Direção: Dexter Fletcher
Roteiro: Lee Hall
Elenco: Taron Egerton, Jamie Bell, Richard Madden, Bryce Dallas Howard,  Gemma Jones e outros
Data de Lançamento: 30 de maio de 2019 (Brasil)
Censura: 16 anos
IMDB: Rocketman

 

 


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2 Comments

  1. Nevson Caider
    24/06/2019

    Mais uma excelente resenha, Edu.
    “Rocketman” é uma grande obra que nos permite acompanhar o menino Reggie ir crescendo até se tornar o gênio que veio a ser Sir Elton John. O passeio pelos antagonismos da vida do músico é muito interessante: os momentos difíceis e os maravilhosos, a sua determinação por se tornar um artista, contrastando com sua personalidade por vezes insegura [principalmente na relação com seu pai] trazem momentos de muito emoção [admito que meus olhos marejaram muitas vezes durante a película].
    Não sou muito afeito ao gênero musical. Em verdade não gosto do fato de que monólogos ou diálogos aconteçam de forma musicada, mas aquela segunda cena apresentada desta forma foi a melhor aplicação deste recurso que já vi num filme [aquela em que cada um dos membros da família canta o que era a sua vida naquele momento].
    “Rocketman” é, até o momento, o melhor filme que assisti este ano.

  2. 26/06/2019

    Muito obrigado, prezado Nevson! Concordo plenamente com vossa sábia opinião. Rocketman é um filmaço! É um dos raros exemplos nos quais a arte fala mais alto do que as pretensões comerciais.
    Uma curiosidade sobre a cena belíssima que você citou é que a música ‘I Want Love’ é uma composição relativamente recente do Elton, naquele momento percebi que não se tratava de uma cinebiografia convencional e que os significados estariam acima da mera questão cronológica.
    Forte Abraço!

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