Letras ácidas e caleidoscópio de gêneros compõem ‘Pequena Minoria de Vândalos’, de Thunderbird


Foto de Luiz Thunderbird, Resenha Pequena Minoria de Vândalos, 2022

A abertura de Pequena Minoria de Vândalos com a canção “A Obra” é um  indicativo do que será encontrado ao longo do primeiro álbum solo do músico e ex-VJ da MTV Luiz Thunderbird (Devotos de Nossa Senhora Aparecida):

Um compêndio de gêneros de épocas diversas da história da música, construído com a ajuda de amigos; ou como o próprio Thunderbird revelou em entrevista em 2020:  “Música feita por amigos músicos antifascistas para divertir, entreter e embalar a todos”, e daí também se pode inferir a origem do titulo do disco.

Lançada em 2020 e primeiro single do disco, “A Obra” é uma canção da banda oitentista mineira Sexo Explícito – de John Ulhoa e Rubin Troll (do Pato Fu) – na “visão” de Thunder, ela ganha uma versão conectada com a cena novaiorquina do final dos anos 70, a No Wave do The Contortions, do vocalista e saxofonista James Chance, vide a linha de baixo pulsante, os riffs angulares (que também aparece em “Protesto”) de guitarra e, até mesmo, a estranheza do indefectível sax. O resultado é uma canção de ritmo pulsante que convida a chacoalhar o esqueleto e letra que permanece atual: “A violência (é fruto da crise) / A transição (vira o regime) / O regime (vira a transição) / A transição (é o regime).

Capa do álbum Pequena Minoria de Vândalos, de Thunderbird

Repleto de participações especiais – Odair José participa da faixa “Eu Vou de Bike” -, o disco transita por ambientes saudosistas, direcionados por elementos que constroem sonoridades bastante específicas a partir da escolha de timbres característicos de determinada época.

Esse referencial é visível também em “Insuportável” (com letra de Rodrigo Carneiro, da banda Mickey Junkies), faixa de verve absurdamente dançante numa sugestiva mistura Disco-Punk mas que bebe também da New Wave, com seus riffs reverberantes de guitarra, efeito bastante utilizado por bandas da década de oitenta. Thunder aqui utiliza o estilo spoken word e desfila versos de ditados populares mesclados com outros que traçam um panorama da realidade: “Pro bom entendedor meia palavra basta / o obscurantismo é a praga que se alastra…figura submersa que agora emerge / Vinda das profundezas com um mal-estar”.

Liricamente, Thunder desfila uma profusão de frases com tom entre o irônico e o sarcástico como no clima New Wave retrô de “Ética”:

“Ética, ética, ética / Eu sou honesto, eu vendo ética / Família linda e magnética”; ou mesmo quando utiliza o verbo para protestar, na também divertida “Protesto”: “Eu protesto, você faz o resto”. Esse clima debochado/crítico  é uma tônica em Pequena Minoria de Vândalos, mais presente no que poderia ser o seu lado A.

+++ Leia a crítica de ‘O Real Resiste’, de Arnaldo Antunes

A partir da psicodélica “Livre Evaporação”, parceria com Guilherme Held, o disco toma novo direcionamento e um ar um pouco mais “sisudo”, quebrando o clima mais descontraído da primeira parte. Entra a mezzo experimentalismo mezzo psidodelia da instrumental “Rumo”, parceria com a banda Bike,  e até um lado de fanfarra circense em “Rio Tietê”. O disco fecha  com a também instrumental “Serra do Mar” e a sensação de irregularidade entre as duas partes que o compõem.


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