Em ‘Spleen and Ideal’, Dead Can Dance faz música para uma viagem interior



Spleen and Ideal, esse eu tive em vinil e era argentino e estava empenado, conseguido através de mais uma das diversas trocas que fiz na época dos bolachões.

Quando lembro de como se iniciou minha “relação” com o DCD, penso que há bandas que corremos atrás e há aquelas que parecem correr atrás nós, como se nos perseguissem.

Conheci o trabalho do grupo através de uma fita K7 emprestada que um amigo gravou a partir do CD ou vinil, não tenho certeza. Era o primeiro e homônimo disco deles. Ali se ouvia uma música soturna e cheia de mistério, uma certa atmosfera sombria, mas diferente das chamadas bandas góticas. A beleza de algumas canções chegava a “doer”, como na inesquecível “The Love Advocated”. As vozes de Brendan Perry e Lisa Gerrard pareciam ser de um outro planeta, pareciam objetivar que nos conectássemos com os sentimentos mais sublimes. Música com alma e para a alma.

Fã de primeiro momento do duo, eis que numa viagem à capital um amigo encontrou o vinil desse ‘Spleen and Ideal’, uma versão argentina e infelizmente empenada, mas que não impedia de ouvir e viajar com as atmosferas criadas pelo DCD.

O empeno provocava uns sobressaltos na música, mas nada que impedisse de ouvir. Quem já teve um vinil empenado sabe como era.

No álbum de estreia havia elementos de pós-punk e gótico, nesse segundo trabalho o duo se concentra em elementos da música erudita.

As guitarras são limadas, entrando tímpanos, trombone, celos e violino, resultando num disco coeso em sua imensa densidade.

Não, não é world music como muitos insistem em dizer, é um encontro da música erudita européia, com uma atmosfera lúgubre, soturna, idéias comuns em muitas das bandas abrigadas no selo 4AD. A idéia de mistério começa com a capa, e segue até mesmo nos títulos sugestivos das canções: ‘De Profundis’ , ‘Mesmerism’, ‘Enigma of the Absolute’, ‘Ascension’ ou ‘Avatar’, baseadas em textos de Charles Baudelaire e Thomas de Quincey.

‘Spleen and Ideal’ é um álbum impecável na sua proposta, servindo de modelo para uma série de bandas que viriam a surgir na década de 90 sob a alcunha de ‘Heavenly Voices’.

Ouvir canções como ‘Advent ‘, das melhores já produzidas pelo duo, com o canto de sereia de Lisa, ou ‘Advent’, com a voz profunda de Perry, e fazer uma dupla viagem: no tempo, precisamente para o meu antigo quarto nos fundos da casa de meus pais, quando ouvia o disco às escuras, e no subconscciente.

Sem sombra de dúvidas, foi uma das bandas que mudou meu modo de ouvir e encarar música.

PS: Hoje já não tenho mais o vinil, consegui importar o CD na época que o dólar e o real tinham o mesmo valor, por cerca de quinze reais.

FAIXAS:
1. De Profundis (Out of the Depths of Sorrow)
2. Ascension
3. Circumradiant Dawn
4. The Cardinal Sin
5. Mesmerism
6. Enigma of the Absolute
7. Advent
8. Avatar
9. Indoctrination (A Design for Living)


:: Ouça ‘De Profundis’ (Out of the Depths of Sorrow):

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