CRÍTICA | Time Bomb Girls – Las Três Destemidas


Time Bomb Girls - Foto para resenha de Las Três Destemidas

‘Las Tres Destemidas’ mostra trio desbravando sonoridade enérgica com letras reflexivas

Para conquistar seu espaço num país que mantém a fama de conservador, patriarcal e machista, a mulher brasileira por si só é destemida. Para a área cultural então, esse espaço precisa ser bem batalhado. O trio paulista feminino Time Bomb Girls encara esse desafio e chega com o debute Las Tres Destemidas.

Formado por Camila Lacerda (bateria e voz), Déia Marinho (baixo e voz) e Sayuri Yamamoto (guitarra, gaita e voz), o grupo lança um trabalho enérgico e, bem pautado no espírito DIY, apresentando uma competente produção onde gêneros como Psychobilly, Surf-Music, Punk, Garage-rock e Blues se misturam sem contraindicações.

A faixa de abertura totalmente instrumental, “Las Tres Destemidas”, dá o tom de como será o disco. O trio mostra que o instrumental é poderoso com gaita, guitarra e a cozinha funcionando em sintonia, tudo de forma direta e ágil. Pegando a velha escola do Punk do Ramones (em se tratando de Brasil, pense no grupo 80’s Mercenárias), é dessa forma que chega “Quando Eu Crescer”. Dominada por três acordes, a letra é esperta e irônica subvertendo as regras impostas pela sociedade em relação à mulher perfeita ou queridinha: ‘Quando eu crescer não quero ser empresária / Quando eu crescer não quero ser dona de casa / Quando eu crescer não quero ser importante / Quando eu crescer não quero ser Piovani”.

As letras do álbum variam entre críticas ao sistema ou mesmo soam bem humoradas assumindo um tom descontraído embora ainda carreguem uma certa indignação.

“Entre Trancos e Barrancos” fala sobre a opinião que cada pessoa tem e que, apesar disso, o lazer e a diversão precisam ser comuns a todos: ‘cada cabeça é uma sentença, mas todos querem a cerveja’. A julgar pelo título, “Meu Amor” com seu solo de guitarra imponente, poderia ser uma canção brega ou melancólica falando sobre relacionamentos amorosos. Nas mãos do trio, ganha ironia necessária e sincera, apesar de amarga em outra faixa pontuada por um instrumental pesado (talvez uma canção que retrata o amor e suas complicações nos tempos modernos?).

Quem pensa que o trio assume um tom feminista demais, está enganado. “Nanana Surf”, inebriada pela Surf-Music, fala dos estilos que cada pessoa quer ter, independente do gênero (o jeito de se vestir, o corte de cabelo). Letra que de certa forma se encaixa bem para as minorias que geralmente massacradas física e moralmente dentro do país e que faz controvérsia com os ditames do que é moda certa ou não.

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O trio sente-se bem cantando tanto em inglês como em português. Como um dos potenciais do grupo são as letras, interessante que as canções em português continuem com mais ênfase nos próximos trabalhos.

Em 2020, Las Tres Destemidas é outro álbum que mostra a força de artistas mesmo em tempos sombrios e de isolamento, além de estar contextualizado com todo um momento sociopolítico que exige do ouvinte uma reflexão sobre o panorama atual em que vive. Quanto a sonoridade, mesmo que possamos interpretar o álbum como uma mistura de Dick Dale, Ramones, The Cramps e Mercenárias, o importante é ressaltar como isso tudo funciona dentro do trabalho e como representa a vontade e a paixão pela arte que o trio possui, sobretudo num país que parece estar largando sua cultura às traças.

DESTAQUES: “Quando Eu Crescer”, “Meu Amor”, “Nanana Surf”.


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O ÁLBUM:


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