U2 na MSG Sphere, quando a música é um “elemento secundário”


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Quais as partes mais importantes de um show de Rock? Há algum tempo as respostas seriam relativamente simples e até mesmo a pergunta não pareceria aberta a tantas opções: a música, a qualidade do som, o repertório, a performance do artista, a interação com o público. Hoje, “apenas” isso não é suficiente.

Mais do que a música, o espetáculo (ou a espetacularização) que envolve o show, se tornou mais importante do que aquilo que é (ou deveria ser) o fundamental para quem vai a um show: a música. Embora isso não se resuma a shows de Rock, muitas bandas do gênero acabaram se apropriando de forma mais intensa desse “artifício” tão comum na música Pop, vide nomes como Muse, Coldplay, alunos aplicados da escola popularizada pelo U2.

E já que citamos o U2, chegamos então ao mais recente e também comentado espetáculo de música dos últimos anos, e que virou pauta em publicações de variados tamanhos e interesses ao redor do planeta: o show do U2 inaugurando a Madison Square Garden Sphere, em Las Vegas, uma estrutura gigantesca e cara: custo de mais de 2 bilhões de dólares, e que pode ser melhor “conhecida” nessa reportagem.

Enquanto alguns rapidamente correram para descrever sobre o quão sensacional é o espaço para show (e realmente é, não há como negar!) e outros apontam para “o futuro da música ao vivo”, voltamos para as quatro perguntinhas básicas feitas no primeiro parágrafo. Talvez elas não façam sentido algum para quem vai a esse tipo de show ou para quem tem condição de pagar para ver o “espetáculo”.

Na verdade, para muitos, o ato em si de ir a um show se tornou muito mais uma forma de registrar a presença no evento, seja com fotos ou até vídeo do show completo: “Eu estava lá, eis a prova!”. É a mensagem que o sem número de pessoas parece querer transmitir ao ir a um show, e esse parece ser o lado mais divertido de tudo. Mais que estar presente, a necessidade de mostrar que está presente. A música? É um detalhe. E no caso dessa residência do U2 na MSG Sphere isso fica bem evidente: pouco se comentou sobre o show em si ou sobre a ausência de Larry Mullen Jr. (na bateria). Tudo isso se tornou secundário dentro do espetáculo. Ofuscado pelo espaço de cair o queixo e o bolso.

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No caso do U2, há vários elementos extra show a serem analisados, incluindo o fato de terem sido um das bandas pioneiros na espetacularização dos shows, elevando a novos patamares algo que o Pink Floyd – e muitas bandas setentistas – já havia feito anos atrás. E aqui é interessante perceber certa semelhança entre os momentos da carreira de cada banda quando abraçaram o espetáculo: sem grandes álbuns e vivendo de composições de alguma de suas boas fases.

No caso do Pink Floyd, nos referimos aos shows da turnê A Momentary Lapse of Reason Tour; no do U2, o show no Sphere, uma apresentação calcada no álbum Achtung Baby (1991), o último álbum consistente do grupo irlandês, lançado há mais de 30 anos. Ou seja, a banda está celebrando os trinta anos de um álbum de 1991 em 2023. Recentemente lançaram Songs of Surrender, um álbum duplo com alguns de seus grandes hits repaginados,

Numa jogada de marketing inteligente e oportunista, o U2 lançou às vésperas do show o insosso single “Atomic City”, onde dão crédito a banda novaiorquina de New Wave Blondie, com referências bastante explícitas no refrão. A nova canção soa como um U2 tentando fazer um upgrade na sua sonoridade, buscando se aproximar de bandas pós virada do milênio. Nas palavras de Bono, “é uma canção de amor dedicada ao nosso público”. Por seu lado, a letra cita desde Frank Sinatra até a própria cidade de Las Vegas, que já foi considerada a “cidade atômica” da letra: Estou livre / Vim aqui pela luta / Estou na primeira fileira em Las Vegas / E vai ter uma das grandes esta noite”. Primeira faixa após cerca de dois anos, a sensação é de uma espécie de convite para os shows da banda, especialmente esses de Las Vegas.

Claro que o uso de recursos visuais em show há muito vem sendo usado em níveis diversos, a depender principalmente dos valores envolvidos. Em muitos casos eles se tornam parte integrante de uma turnê de uma banda ou artista. No caso do Sphere, mais que uma parte do show, ela é o próprio show, e talvez nem fosse necessário que fosse o U2, a marca só acrescenta um elemento a mais ao espetáculo.

+++ Leia sobre a música do U2 que teria sido inspirada pelo Public Image Ltd ou por Siouxsie and the Banshees

No fim, talvez esse tipo de evento faça todo sentido e a ideia é de realmente vender ao público a sensação de um espetáculo inesquecível, para guardar para a posteridade através de fotos tiradas em celulares, e, no fundo no fundo, a música é somente um elemento secundário.

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