‘Council Skies’ é o álbum mais interessante de Noel Gallagher e sua banda em tempos


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Muita gente tem muita coisa para dizer sobre Noel Gallagher. Noel Gallagher tem muita coisa para dizer sobre muita gente. Matt Healy, frontman da banda de Indie-Pop conterrânea de Noel, o The 1975, disse recentemente para a CBC que os irmãos Gallagher deveriam reformar o Oasis e parar de atacar um ao outro como crianças. “Não tem uma pessoa que vá para um show do Noel Gallagher’s High Flying Birds que não preferia estar em um show do Oasis”, disse Healy. Noel respondeu em entrevista à SPIN chamando o vocalista do The 1975 de “slack jawed fuckwitt”, algo como “maldito idiota de queixo caído”.

O fato é que em meio às opiniões e conflitos familiares que a mídia musical adora cobrir desde que o Oasis se tornou uma das maiores bandas do mundo, Noel continua produzindo e usando as referências que sempre gostou de usar para se manter criativo. Isso se mostra em Council Skies, seu novo álbum, lançado nesta sexta-feira (02/06) depois de vários singles que vinham sendo soltos desde o final de outubro do ano passado na antecipação do álbum.

Noel construiu com seus High Flying Birds álbuns que exploram as possibilidades sonoras de suas composições para além dos trabalhos junto ao irmão Liam, no Oasis. Ele descreveu seu álbum anterior, Who Built The Moon? (2017), como “cosmic pop”, termo ironizado por Liam no Twitter. Liam usa com certa frequência a rede social para direcionar farpas e provocar o irmão sobre uma reunião da antiga banda, que, quase 15 anos após o fim, está perto dos 20 milhões de ouvintes mensais apenas no Spotify.

Council Skies é menos experimental, mas, ainda assim, é o lançamento mais interessante de Noel em tempos. O título vem de um livro de pinturas de mesmo nome do artista de Sheffield Pete McKee. A capa, realizada pelo grande fotógrafo da cena de música alternativa britânica Kevin Cummins, retrata instrumentos da banda no local aonde uma vez fora o antigo estádio do Mancheter City, o Maine Road. Noel é devoto vocal do Man-City e realizou junto do Oasis um show histórico na antiga casa do clube.

A aura sessentista paira sobre as faixas do do álbum como marca definitiva das referências pelas quais Noel fundamenta suas composições. “I’m Not Giving Up Tonight” dá o tom de pop sinfônico do disco, que se dilui em uma abordagem anos 80 – algo a ver com a formação musical do ex-Oasis. A faixa em questão é meio Joshua Tree (U2) encontra Sgt. Peppers (Beatles) e leva para a andrógina “Pretty Boy”, primeiro single tornado público do disco. É uma das três músicas que contam com a contribuição de Johnny Marr, ex-Smiths e amigo de longa data do Gallagher mais velho. Os harmônicos de Marr aqui são perceptíveis e indispensáveis, dialogando com a marcação pós-punkiana dançante do baixo. Noel canta “I wanna change my star sign / Because it don’t suit me” ou algo como “Eu quero mudar meu signo/ porque ele não me representa”.

“Dead To The World” é belíssima, e, junto com o melancólico arranjo orquestral, mostra os dotes composicionais de Noel Gallagher como poucas em seu reportório. “Open The Door, See What You Find” emula as composições pop-barrocas sessentistas de Burt Bacharach, que morreu no início desse ano e de quem Noel sempre foi grande fã. “Trying to Find a World That’s Been and Gone Pt. 1” foi escrita em meio ao caos pandêmico – “parte 1” porque deriva de uma demo que se tornou uma versão de arranjo mais complexo. Os acordes tocados no violão no início da música lembram “Talk Tonight” b-side do Oasis, e revela esse lado auto-referencial que também está em “Council Skies”, faixa-título que tem um refrão muito parecido com o de “Ballad Of The Mighty I”, do Chasing Yesterday, álbum solo de 2017. “Easy Now” tem o produtor e guitarrista Paul Stacey, colaborador de longa data do ex-Oasis, emulando um solo de David Gilmour, lendário ex-guitarrista do Pink Floyd, que, segundo Noel, se recusou a participar da faixa.

A comparação entre os irmãos Gallagher e os Beatles é uma das mais utilizadas desde a explosão do Britpop nos anos 90. Às vezes, ela é feita meio preguiçosamente, muitas vezes faz todo o sentido. É uma referência que eles nunca tentaram esconder. Aqui, “There She Blows!” é a mais beatlesque, com um baixo que é puro McCartney em Revolver (1966). “Love Is a Rich Man” parece vir do mesmo lugar, com a abordagem sessentista e a bateria crescente. Em “Think of a Number”, Noel toca baixo e cita o Bowie dos anos 80 como influência – tanto o baixo quanto a ponte lembram muito “China Girl”, de Let’s Dance (1983) e fecha oficialmente o álbum, que também foi lançado em uma versão deluxe com várias faixas bônus.

+++ Na coluna Prazeres Plásticos, leia sobre ‘The Last Broadcast’, do Doves

Poucos compositores conseguiram reunir o repertório da música pop anglófona de um jeito que favorecesse tanto sua autoria e falasse tanto com gerações como Noel Gallagher fez. Em Council Skies ele comprova isso com canções que mostram que, sobretudo, ele continua fazendo o que quer fazer, e, como escreve na faixa-bônus “We’re Gonna Get There in the End”, continua “mantendo o sonho vivo”.

MAIS

“Easy Now” é a faixa de Council Skies que está em nossa Playlist de 2023, carinhosamente chamada de Parabólica. OUÇA e CURTA essa e muitas outras canções de 2023 NESSE LINK.

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FICHA TÉCNICA E MAIS INFORMAÇÕES:

ANO: 2023
GRAVADORA: Sour Mash
FAIXAS: 11
DURAÇÃO: 47:56
PRODUTOR: Noel Gallagher e Paul Stacey
DESTAQUES: “Pretty Boy”, “Dead To The World”, “I’m Not Giving Up Tonight”, “Easy Now”
PARA FÃS DE: Oasis, Britpop

 

 

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