Felipe Bueno estreia em carreira solo transformando dor em beleza


Felipe Bueno, Até que a Morte Nos Separe
Foto | André Rosa

Como é bom escutar um bom e velho Rock’n’Roll que pega na veia! Ainda mais sendo uma criação de 2022, e gestado em terras brasileiras

Felipe Bueno (que já tocou em diversas bandas do underground paulistano, como The Parking Lots, McQuade, Os Compactos e Name It Yourself) nos presenteia em seu primeiro trabalho solo, o EP Até Que a Morte nos Separe, com o Rock energético, passional e inconformista que tanto apreciamos.

O título já apresenta as credenciais: estamos diante de um disco marcado pelo fim de um relacionamento. Material fértil para obras-primas como Blood on the Tracks (Bob Dylan), Heartbreaker (Ryan Adams) e que, no caso de Felipe, pulsa com amargura, ressentimento e culpa. E, sobretudo, transborda honestidade ao desvelar ao mundo a intimidade de um relacionamento e tentar juntar os cacos que restaram por meio da arte.

Alguém já disse que a arte cura e, nesse caso, ela serve como terapia para o artista e, se você entrar na vibe, até mesmo para o ouvinte. Musicalmente, o disco faz um crossover do Power Pop e do Indie, remetendo a Replacements, Ira!, Weezer e Big Star. A marca registrada do cantor é a voz intensa, sofrida e arrebatadora. O primeiro single, “Eu não estava lá” (lançado dia 27/4 nas plataformas de streaming, pela Maxilar Music), é um primor. Pop e cheia de ganchos, a canção tocaria muito nas rádios na época de ouro do Rock brazuca. Ou na MTV.

Felipe reflete sobre um casamento com o modo “rotina” ativado, sendo empurrado com a barriga e marcado pela ausência do pai e marido. Impressiona ver tanta culpa assumida de forma unilateral. Não temos aqui críticas à esposa (pelo contrário), somente um homem atordoado ao refletir sobre seus erros. As guitarras são maravilhosas, o refrão é viciante e a ponte intermediária surpreende pela raiva: “Vou preencher a planilha/ Vou arrumar um trabalho/ Vou cuidar da família/ Vou cuidar o caralho”.

As outras músicas do registro são igualmente cruas e assombradas pelo relacionamento que implodiu. Temos memórias ternas e questões mal resolvidas na agitada “Camiseta Town e Country”, o exercício de acreditar que o tempo vai curar as feridas na dolorida balada “Outra Perspectiva” e a tocante e astuta contradição que perpassa “Eu Odeio o Amor” (outra de andamento lento, com pouco mais do que voz e violão), em que o compositor (que também é professor de sociologia) proclama sem nenhuma sombra de dúvida: “Eu Gosto de Ficar Apaixonado”.

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Felipe nos mostra o papel da arte como ferramenta de superação e reforça a capacidade que o ser humano tem de extrair beleza da dor. Dos riffs, refrões e solos de “Até que a morte nos separe” tiro duas constatações: o Rock é uma linguagem musical que vai ser sempre relevante e a música é a melhor forma de terapia.

O EP sai em breve, e você pode curtir “Eu Não Estava Lá” abaixo:

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