Como Tim Burgess entrou para o Charlatans


the charlatans 1990

Originários de Manchester, como tantas outras boas bandas inglesas, o The Charlatans foi formado em 1988. Era o auge das raves, e seus conterrâneos do Happy Mondays e The Stone Roses se auto proclamavam, de forma presunçosa, os donos da cidade. A mídia adorava. Quem não se lembra de um texto sobre os Stone Roses que dizia: “Ian Curtis morreu, agora quem manda aqui sou eu”?.

O fato é que um monte de bandas resolveu embarcar na sonoridade que misturava batidas dançantes e guitarras melodiosas que bebiam nos anos 60. Dentre os vários grupos surgidos no rastro das “rosas” e “segundas-feiras”, os Charlatans, posteriormente Charlatans UK – pois havia uma banda sessentista americana com esse nome -, foi uma das mais promissoras e que acabou influenciando outras tantas. Seu diferencial era a presença marcante dos teclados de Rob Collins, com a sonoridade característica do órgão Hammond. O talentoso tecladista teria sua participação na banda abreviada em 1996, após um acidente automobilístico.

Voltando ao surgimento da banda, engana-se quem pensa que os Charlatans começaram com o elétrico Tim Burgess nos vocais. A formação inicial da banda consistia de Martin Blunt, baixista que havia participado da banda Makin’ Times durante parte dos anos 80, Rob Collins (teclados), Jon Brookes (bateria até 2010), Jonathan Baker AKA Jon Day (guitarra até 1991) e Baz Ketley (voz e guitarra até 1989). Ketley perdeu seu posto antes mesmo do grupo lançar qualquer registro. Burgess “roubou-lhe” a posição após impressionar a banda durante um show em que subiu no palco e assumiu o microfone.

O próprio vocalista conta como entrou para a banda: “Eu estava em uma banda chamada Electric Crayons e conseguimos um show de apoio aos Charlatans. Na época, eles tinham um outro vocalista, Baz Ketley. Acabei pulando no palco e cantando uma de suas músicas. Pouco depois, recebi um telefonema da banda. Eles não me convidaram para fazer um teste. Foi algo do tipo: ‘Você gostaria de ir até Wednesbury, em Midlands, e dar uma volta?’”

Burgess recorda que no mesmo dia que começou no The Charlatans, foi o dia em que sua banda lançou seu primeiro e único single, o 7” “Hip Shake Junkie”, em junho de 1989, que além da faixa que dá nome ao single, no lado B trazia “Happy To Be Hated”. Musicalmeente, o The Electric Crayons pouco tem a ver com o The Charlatans, a sonoridade segue por um caminho groove Funk numa faixa e meio Surf Music na outra.

Graças ao single single “Indian Rope”, lançado em janeiro de 1990, o grupo conseguiu um contrato com a Situation Two, braço do selo Beggars Banquet (o mesmo de bandas como Bauhaus). Mas foi com o estrondoso segundo single, “The Only One I Know”, lançado em maio do mesmo ano que os mancunianos “estouraram”. O single chegou ao Top 10 britânico e chegou em quinto na parada americana.

Segundo Tim, a música surgiu como um instrumental, até que certo dia, enquanto saia da casa dos pais, lhe veio a ideia da melodia para os vocais e algumas palavras para a letra. “É uma música sobre os sentimentos dos adolescentes: Eu gosto de alguém, por que eles não gostam de mim? Eu tinha 21 ou 22 anos, mas ainda tinha essas emoções fortes. Eu era um grande fã de Byrds, então a frase ‘Todo mundo foi queimado antes, todo mundo conhece a dor’ é um aceno para a música Everybody’s Been Burned”, revelou o vocalista, que acredita que a canção tem uma construção incomum: “Ainda não tenho certeza de qual parte é o refrão. O título e o gancho principal estão no verso, mas a introdução – antes que a música principal comece a tocar – dá às pessoas tempo suficiente para entrar na pista de dança”.

Se o The Electric Crayons foi que permitiu ao vocalista chegar ao The Charlatans (com quem tem 13 álbuns de inéditas gravados), “The Only On I Know” foi a canção que mostrou o potencial da banda, que lançaria dois álbuns essenciais – Some Friendly (1990) e Between 10th and 11th (1992) – para se entender o que se convencionou chamar Madchester e posteriormente mudaria sua sonoridade para algo mais próximo do Britpop, mantendo uma carreira que segue até os dias atuais.

+++ CRÍTICA | The Charlatans – You Cross My Path, Modern NAture e Different Days

Para os dias atuais, o grupo lançou a compilação A Head Full of Ideas (2021), que tem sua canção mais famosa como faixa de abertura. A coletânea, em sua edição mais completa, traz versões demos e ao vivo, mas não traz novidades em relação a “The Only One I Know”, até hoje a canção de maior apelo do grupo. Duvida? Basta checar o número de audições (mais de 37 milhões) no Spotify e comparar com as outras canções do álbum.


O VIDEOCLIPE DE “THE ONLY ONE I KNOW”:

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