‘Once Twice Melody’ é o Beach House entre a catarse e a repetição


Beach House 2022
Foto | David Belisle

Em Once Twice Melody, seu mais novo álbum, a dupla Beach House apresenta seu projeto mais ambicioso na carreira. O disco foi lançado em forma de capítulos, através de quatro EP’s, entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022, quando finalmente teve seu lançamento como álbum duplo, o primeiro do duo.

É o tipo de projeto possível atualmente para a icônica dupla Victoria Legrand e Alex Scally , impensável quando surgiram há quase duas décadas, debutando em 2006 com seu álbum homônimo . É também uma aposta, uma jogada de marketing que pode vir a se tornar corriqueira na indústria fonográfica – Johnny Marr fez algo parecido em Fever Dreams. No caso da dupla, os resultados comprovam o acerto da decisão, o disco alcançou as melhores posições nas paradas desde Depression Cherry (2015). E o detalhe, esse é o primeiro trabalho totalmente produzido pela banda.

Com uma discografia de sete álbuns, o Beach House construiu e solidificou seu nome e sua sonoridade, voltada para os ambientes sonhadores e delicados do chamado Dreampop, ocupando uma lacuna deixada desde o fim dos icônicos escoceses Cocteau Twins, em 1997.

Mais que isso, o Beach House ajudou a transformar um gênero de nicho em possível de ser consumido por um público mais amplo sem abrir mão de algumas convicções. Para isso, mantiveram sua sonoridade em processo constante de transformação, mas sem mudanças bruscas de rota.

Elas surgem quando enfatizam elementos pontuais (a guitarra ou os sintetizadores), ou através do processo de polimento e lapidação dos arranjos para formatos mais acessíveis e menos experimentais. Há que se fixar, o conceito do Beach House passa, inexoravelmente, pelos vocais aveludados de Legrand, muitas vezes mixado em camadas que se sobrepõem e envolvem.

Afastados dos álbuns desde 2018, quando lançaram “7”, esses quatro anos de hiato, com a pandemia incluída, permitiram que pudessem descansar e também se concentrar na construção desse novo e longo repertório. E é interessante notar como as quatro partes soam totalmente harmonizadas, ouvidas como EP’s ou como álbum.

Há bastante sintetizadores, sequenciadores, arranjos de cordas e camadas de teclados preenchendo as canções, em alguns casos criando momentos catárticos, como nas ótimas “Once Twice Melody” (faixa que dá o nome ao disco) e “Superstar”, uma das faixas do ano. Num abrandamento quase total das guitarras distorcidas ou reverberantes, tão presente no antecessor “7”, a opção é por uma mistura entre o orgânico e o eletrônico, inclusive nos momentos mais serenos. Mas, de modo geral, é um disco mais para as batidas eletrônicas e para os synths, numa aproximação com o Synthpop em vários momentos.

+++ Leia a resenha de ‘Devotion’, do Beach House

Repleto de apelo ao sensorial (como quase tudo que a banda já fez), OTM é um disco de momentos de total envolvimento e transporte; outros em que bate um certo distanciamento. É quando o álbum parece estar numa espécie de loop, demérito comum em trabalhos mais longos. É aí que a ideia da escuta por capítulos parece fazer mais sentido para melhor apreciação do disco.

Previous 'Não! Não Olhe' é um exercício de ousadia de Jordan Peele
Next 'Strap It On" e a influência do Helmet na concepção do metal alternativo

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *