Tudo que veio após o Punk é Pós-Punk?


Public Image Ltd em 1978
Foto | Public Image Ltd. (1978)

PARTE 1

O que caracteriza uma banda Pós-Punk? A época e o lugar em que surgiu? Sua sonoridade? Os temas tratados nas letras? A maneira como são construídos os arranjos? Suas influências?

Numa época em que proliferam de forma absurda as TAG’s Pós-Punk (Shoegaze e Dreampop também) para definir cada nova banda recente surgida no Reino Unido, nos Estados Unidos, Brasil ou qualquer outra parte do mundo, tentar entender o significado do termo Pós-Punk enquanto gênero musical parece algo estimulante. Ainda que o mesmo remonte há mais de 40 anos, seu ressurgimento com grande intensidade nos anos 2000 e sob uma nova onda nos últimos três anos, mantém o interesse em alta, ao “trazer à tona” nomes hoje badalados (Siouxsie and the Banshees, Joy Division, Gang of Four, The Cure, Echo and The Bunnymen) ou não tanto (The Birthday Party, The Pop Group, The Sounds), só para citar alguns, sendo Mark Smith, com seu jeito falado de cantar, e seu The Fall, a “bola da vez”. Todos ou alguns destes lembrados em resenhas de bandas que vão de Interpol a Editors, de Shame a Fontaines D.C., passando por Shopping, Dry Cleaning, Squids, Black Country, New Road e outros que mal lançaram álbum como Yard Act, Folly Group, Courting, Do Nothing, The Lounge Society, Famous, etc.

O termo Pós-Punk (do inglês Post-Punk), cunhado lá no final da década de 70 pela mídia britânica, na acepção da palavra poderia designar todas as bandas que surgiram (e álbuns lançados) após o que se denominou o “fim do Punk”, com a dissolução dos Sex Pistols, em janeiro de 1978 após a saída de John Lydon.

Querer entender o Pós-Punk por esse prisma parece um tanto equivocado. Equívoco esse que foi cometido inúmeras vezes lá atrás e continua sendo usado até hoje, ao designarem essa ou aquela banda como Pós-Punk, seja por desconhecimento, preguiça ou conveniência, já que estar associado a um termo facilita a, desculpem a expressão, “venda do produto”, tanto pela indústria fonográfica, pela imprensa ou até pela própria banda. Por essa ótica, o Pós-Punk será caracterizado a partir de aspectos não musicais, nem de época e lugar, logo tão abrangente que se tornará algo indefinível.

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Por outro lado, se o entendimento do Pós-Punk enquanto gênero musical com características intrinsecamente musicais, a despeito de época e lugar, o escopo começa a se tornar mais restrito. O próprio Punk entra como elemento definidor do Pós-Punk, uma vez que é a partir do impulso inicial ou do lema Punk, o “Faça Você Mesmo” (Do It Yourself), que o Pós-Punk surge, cresce e ganha diversidade: musicalmente denso, dançante, com elementos do Dub, Reggae ou do Funk, tribal, lúgubre, atmosférico; liricamente politizado, niilista, introspectivo, depressivo, abstrato, non sense.

O que aquelas que podem ser consideradas as primeiras bandas Pós-Punk’s fizeram foi pegar esse lado de que qualquer um pode ter uma banda e fazer música e mostrar que a música nem sempre precisa seguir a mesma receita utilizada pelas bandas Punk, com as mesmas referências e presa à fórmula básica dos famigerados três. Enfim, a resposta foi que uma canção pode até ter apenas um acorde, dois, três, ou até mais. A forma continua sendo o de menos, importa o resultado, a originalidade, o soar diferente.

Tendo isso como parâmetro, fica fácil identificar o Public Image Ltd. como uma das primeiras bandas essencialmente Pós-Punk, já que: 1 – não passaram pela fase Punk como a maioria das outras bandas (os Sex Pistols foi a experiência do vocalista John Lydon, o guitarrista Keith Levine teve uma passagem pelo Clash); 2 – mais importante que o motivo anterior, First Issue, seu álbum de estreia, lançado em dezembro de 1978, pouco menos de um ano após o fim dos Pistols, musicalmente carrega vários elementos que viriam a se tornar marca registrada na sonoridade de 8 entre 10 bandas classificadas como Pós-Punk, seja no final dos anos 70, seja atualmente: arranjos simples, diretos e repetitivos, linhas de baixo marcantes e graves (de responsabilidade do econômico Jah Wobble), riffs rascantes de guitarra reverberantes em um segundo plano (cortesia do sempre imitado Keith Levene), e influências para além do próprio Rock, especificamente do Dub e do Reggae e, mais adiante experimentalismos.


Public Image Ltd. – Annalisa, live at Rockpalast 1983

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