‘Carnage’, um disco de ambientações tensas e doce melancolia


Foto de Nick Cave & Warren Ellis

Inquietude é um termo que descreve com alguma precisão a carreira de Nick Cave. Inquietude essa que vem desde os tempos do The Birthday Party, sua primeira banda, e que tem levado Nick a formatações ou formações diversas ao longo de sua carreira de mais de quatro décadas.

Essa inquietude é a energia que dá vida a Carnage, seu primeiro álbum com o músico Warren Ellis que não é trilha sonora. Parceiros de longa data, primordialmente com os Bad Seeds, juntos trabalharam na criação de trilhas de filmes como O Assassinato de Jesse James pelo Covarde Robert Ford (2008), a A Proposta (2018), e vários outros. Multi-instrumentista, Ellis tem colaboração também com outros artistas, a última com Marianne Faithfull, no álbum She Walks In Beauty, também lançado esse ano. A amizade entre os dois pode ser vista no documentário 20000 Dias na Terra (2014).

Olhando da perspectiva do envolvimento e número de trabalhos ao longo de suas vidas, pode-se perceber a importância da música para esses dois australianos que seguem dando sua contribuição não apenas para o mundo das canções, mas para quem desejar desbravar os caminhos que pavimentam, um trabalho que não para nem durante a paralisante Pandemia. Ao contrário, mostra o entendimento de que é nesses momentos críticos que precisamos de alento.

Em sua subjetividade, alcançam a universalidade ao tocarem a alma dolorida daqueles que buscam algum conforto na Arte. Atingem em cheio errantes sonolentos em sua rotina enfastiante, modificando com notas e versos a cor do cotidiano cinza que eclipsa até mesmo um radiante dia de sol, ou servindo de trilha sonora para um reflexivo dia chuvoso dentro de quatro paredes sufocantes.

Com uma música de ambientação inicialmente tensa, Carnage muda aos poucos, criando camadas que constroem um ciclo de doce melancolia, o que dá maior intensidade ao disco, principalmente nas faixas finais, quando piano e sintetizador ganham protagonismo.

Apesar de gerido pelo duo, o disco ostenta ao longo de oito canções um arcabouço que tanto pode optar por arranjos econômicos quanto pela riqueza instrumental. Por seu lado, assumindo uma persona já conhecida por aqueles que acompanham seus trabalhos, Cave toma seu lugar de crooner e desfila seus versos , compondo longas letras que buscam abarcar os diversos aspectos da existência humana: dúvida, espanto, dor, perda,tristeza, resignação, prazer, redenção. Algo não muito diferente do que tem feito em seus trabalhos.

+++ Leia a crítica de ‘Dig LAzarus Dig’, de Nick Cave and the Bad Seeds

Taciturno e de ligação próxima com Boatman’s Call (1997), Carnage pode soar como mais um álbum de Nick, e não há mal algum nisso. Ao mesmo tempo, ele ratifica a enorme força musical de Ellis em qualquer das formatações que tenha participado com seu conterrâneo, seja em dupla ou com os Bad Seeds.


“CARNAGE ” PARA AUDIÇÃO:

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