Grian Chatten se lança em carreira solo e suscita dúvidas sobre o Fontaines D.C. 


Grian Chatten | Foto: Eimear Lynch

Tempos atrás, em uma entrevista à época do lançamento de A Hero’s Death, Grian Chatten, o vocalista da banda irlandesa Fontaines D.C. declarou que desejava compor canções com um direcionamento diferente do que o seu grupo tinha feito até então. Na época soou um tanto estranho e colocou uma pulga atrás da orelha em relação ao que poderia vir a seguir na trajetória do jovem grupo afinal sua banda vinha num crescente interessante de álbuns, público e na carreira, de forma geral.

Skinty Fia (2022) – álbum que entrou em nossa lista de Destaques de 2022 – mostra esse desejo de mudança explicitado pelo vocalista, com o grupo trilhando caminhos musicais que se afastam quase por completo daquela sonoridade dos primeiros anos, num rápido e impressionante amadurecimento musical.

O anúncio do primeiro álbum solo de Chatten acaba não sendo, então, algo tão surpreendente quanto se possa pensar. E embora seja motivo de preocupação (para alguns) com o futuro do seu grupo, há que se lembrar que muitos artistas precisam de um espaço maior, de respirar “novos ares”, em algum momento da carreira, inclusive como forma de fortalecer sua relação com sua banda.

E é essa mensagem que se percebe nessa nova empreitada de Chatten, mas que só o futuro poderá confirmar. Fãs dos Smiths devem se lembrar das escapulidas de Johnny Marr, em determinado momento do grupo, para tocar com outras bandas, mostrando exatamente essa necessidade de férias de sua banda principal. O resultado todos devem lembrar também. Por sinal, em 2022, o músico irlandês fez participação em trabalhos de outros artistas: com o combo eletrônico Leftfield, na faixa “Full Away Round”, e na faixa estilo spoken word “I Saw Light”, de Kae Tempest.

Ao dar vazão as suas composições em um trabalho solo, o vocalista quer ter total controle sobre suas composições e como elas devem soar em seu resultado final, algo diferente de um trabalho com banda: “Eu apenas pensei: quero fazer isso sozinho. Eu sei onde nós, como banda, estamos indo e não é onde eu quero chegar com isso. Eu tenho alguns aspectos exagerados da minha alma que eu queria expressar… O resto da banda também são criativos e compositores. Eu não queria ir até eles e dizer, ‘Não, cada coisa tem que ser assim ‘. Eu não queria me comprometer com essas músicas dessa maneira”.

Ele também comentou sobre seu processo de composição para seu primeiro disco “em solitário”: “Muito do álbum foi escrito apenas comigo e um violão e eu realmente gosto da ideia de ser resumido a esses elementos. Aquela sensação de ter a música na palma da mão, aquele controle de tê-la só com você e um violão. Há uma intensidade como resultado disso”, afirmou no comunicado à imprensa ao apresentar “Fairless”, o segundo single.

O primeiro single foi a acústica “The Score”. O músico contou que a canção foi escrita em Madrid e é “um suspiro pesado de luxúria”, sendo essencialmente acústica com elementos eletrônicos surgindo nos instantes finais, com versos como “Veja, eu sou aquela onda que quebra abaixo / Eu vou te dar emoções e levar sua dor / Eu vou te deitar / Como uma sombra / Como uma mancha”.

“Fairless” mostra também esse estilo composicional tendo o violão como pontapé inicial. Com essa base mantida, a canção é pontuada por violinos furiosos, pianos ocasionais, palmas, e apresenta mudanças de andamento e mais camadas sonoras – que vão surgindo e partindo – que sua antecessora.

O último single de Chaos for the Fly, que será lançado no dia 30 de junho pelo selo Partisan Records e tem produção de Dan Carey (os mesmos do Fontaines D.C.), foi “Last Time Every Time Forever”. A canção é uma balada ornamentada por elementos até então não haviam se apresentado nas antecessoras como arranjos de cordas e backing vocals feminino.

Com essas três faixas, já é possível ter um panorama do que provavelmente será encontrado musicais em Chaos for the Fly, uma pausa nos riffs efusivos de guitarras, junto a um cantor que assume a persona de crooner. Chatten comentou a epifania que lhe ocorreu para a criação do disco: “Eu estava caminhando ao longo de Stoney Beach à noite e veio até mim nas ondas. Eu apenas fiquei lá e olhei para elas e ouvi a porra toda. Cada parte dele, desde as progressões de acordes até os arranjos de cordas”.

+++ Leia o que já foi publicado no Urge! sobre o Fontaines D.C.

A despeito de tudo que foi declarado pelo músico, muita especulação seguirá rondando o grupo irlandês, municiada, inclusive, pela capa de Chaos for the Fly, que evidencia a imagem de Chatten, de peito nu e braços abertos, semelhante à de Jim Morrisson na coletânea do The Doors.

Accordion Title

grian-chatten-chaos-for-the-fly
01. The Score
02. Last Time Every Time Forever
03. Fairlies
04. Bob’s Casino
05. All Of The People
06. East Coast Bed
07. Salt Throwers Off A Truck
08. I Am So Far
09. Season For Pain

 

Previous Drab Majesty lança “Vanity”, que tem vocais de Rachel Goswell, do Slowdive; Ouça
Next Pixies em abertura de série com versão de canção de 1955; Ouça

No Comment

Leave a reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *